Postado em: 13 de mar de 2013.
Além de terem de lidar com arquibancadas cada vez mais vazias, os quatro grandes clubes cariocas já detectaram um outro obstáculo na luta por maiores arrecadações nos estádios do Rio de Janeiro: as gratuidades. Do total de 286.556 de público presente nos 67 jogos da Taça Guanabara, por exemplo, 68.753 não pagaram para assistir aos jogos. O percentual de quase 24% de isentos salta aos olhos de Botafogo, Vasco, Fluminense e Flamengo. O incômodo acontece, principalmente, pelo fato de a prática não se repetir em outros estados, como São Paulo, por exemplo. Em que pesem as taxas estipuladas pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) para cada partida, as gratuidades também são apontadas como outra parte responsável pela majoração dos ingressos. Em clássicos, o preço de até R$ 80 para arquibancada foi motivo de reclamação pelos torcedores. No Rio de Janeiro, a primeira lei estadual a abordar gratuidade em estádios e ginásios esportivos é datada, de acordo com a Comissão do Esporte e Lazer da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), é a 1.833 de 1991, que concedia entrada gratuita em ginásios, ginásios esportivos e parques aquáticos a maiores de 65 anos. De lá para cá, outras três leis intensificaram a gratuidade em praças esportivas no Rio de Janeiro. A lei 2.051, de 1992, concedeu o benefício a portadores de deficiência. Em 1996, a lei 2.562 instituiu que os maiores de 65 anos podem entrar nos estádios apenas com a apresentação da carteira de identidade. A lei mais recente sobre o assunto, número 4.476, de 2004, estendeu o direito da gratuidade a menores de 12 anos nos estádios. Nos sete clássicos cariocas disputados no primeiro turno do estadual, a média de gratuidades disponível por partida foi de 22% da carga de ingressos total. Em números mais detalhados: 37.712 gratuidades estiveram disponíveis durante os confrontos entre os quatro grandes clubes do Rio. Deste total, 29.090, ou 77%, foram utilizados. Presidente do Botafogo, campeão da Taça Guanabara, Maurício Assumpção viu, apenas na decisão, quase 17% do público presente de 39.400 pessoas ser destinado às gratuidades. Os números incomodam o mandatário alvinegro, assim como as leis que possibilitam o benefício. O custo, segundo ele, sai do bolso dos clubes. “O que o Botafogo bate em relação especificamente a receita e borderô são três coisas. Primeiro, a questão da gratuidade. Dão gratuidade para as pessoas e quem paga são os clubes. Segundo a questão da meia-entrada. Se você pegar o borderô, verá que às vezes mais da metade dos ingressos é feita através de meia-entrada. E a terceira coisa é bebida dentro do estádio”, disse o presidente botafoguense. Meia-entrada à parte, o que incha também o número de gratuidades é o fato de que ingressos de cortesia são contabilizados, nos borderôs, como gratuidade obrigatórias devido a lei estadual. Em contratos costurados com patrocinadores, fornecedores de material esportivo, entre outros, muitas vezes um determinado número de ingressos é previsto a cada jogo. No acordo feito entre Flamengo e Ronaldinho no início de 2011, por exemplo, constava um camarote no Engenhão para a família do atleta acompanhar as partidas. Presidente do Fluminense, Peter Siemsen admite que, além das gratuidades, o clube tem um número estipulado em contratos para ceder ingressos em clássicos. “Num clássico, por exemplo. São quatro mil gratuidades, duas mil para cada clube. Os clubes recebem por contrato e aí se uso com patrocinadores ou não é uma questão pontual de cada clube. Nós recebemos 890 ingressos de cortesia, que é uma coisa diferente. Gratuidade é por lei e cortesia por contrato com o organizador do campeonato. Você usar a cortesia no contrato com o patrocinador acho muito legal. Mas obviamente que não cobre todo os 890. Então usamos com apoio a pessoas que trabalham com futebol no clube, etc. Mas o Fluminense devolve por jogo um grande número de cortesias”, disse Siemsen. De acordo com as leis, não há um limite máximo para o percentual da gratuidade durante os jogos. De acordo com a assessoria de imprensa da Ferj, antes de cada jogo é feita uma reunião com representantes dos clubes participantes e da própria Federação. Com base em uma projeção de público feita internamente, o percentual de gratuidades é estipulado. Com pouco meses de gestão e foco na redução de gastos, a nova gestão do Flamengo devolveu oito dos dez camarotes que pertenciam à antiga administração, de Patricia Amorim, no Engenhão. O alto número de gratuidades incomoda e o clube admite conversar com a Federação para modificar o panorama cada vez mais deficitário. “A lei da gratuidade obviamente prejudica o clube. Mas a gente tem de saber chegar a uma situação em que a gente consiga nos atender e atender aos que são atingidos pela gratuidade. Sou favorável a sentar com a Federação e com quem tiver envolvido para chegar a um limite de número de gratuidades e que também seja bom para os clubes. O que não pode é continuar como está”, afirmou o vice-presidente de futebol rubro-negro, Wallim Vasconcellos. O dirigente garante que os únicos que entram sem pagar nos jogos do Flamengo, atualmente, são o presidente e os vice-presidentes. Mesmo familiares de dirigentes pagam ingressos caso fiquem em camarotes. Além disso, Wallim reitera que o clube não tem contrato com patrocinadores nos quais estejam previstos cessão de ingressos para as partidas do Flamengo. “Não é uma medida demagógica. É porque o clube precisa arrecadar. R$ 2 mil, R$ 3 mil fazem diferença. Temos uma série de compromissos”, acrescentou Wallim. Assim como o rival, o Fluminense também não possui um estádio próprio. Atualmente, rubro-negros e tricolores jogam no Engenhão sob a vigência de um contrato com o Botafogo enquanto aguardam a licitação para a ter o Maracanã de novo como casa. Peter Siemsen aponta o fato de o Fluminese não administrar o seu próprio estádio como um dos grandes empecilhos para que problemas como o da gratuidade sejam resolvidos. “Claro que sou a favor de benefícios para algumas categorias de pessoas. Talvez não a gratuidade pura e simples. Ela distribuiu o custo pelo resto do espetáculo e afeta o investimento. Como é lei, a gente respeita. No momento buscamos solucionar um problema maior que é criar uma estabilidade de estádio, o Fluminense voltar a uma casa. A partir dali poderemos trabalhar os detalhes”, afirmou Peter Siemsen. Mas talvez nem mesmo este o estádio próprio modifique o panorama. No início de fevereiro, Vasco e Bangu jogaram em São Januário para um público presente de 4.287. Deste total, 2.181 pessoas entraram sem pagar ingresso. Ou seja, alarmantes 50,9%. A tarefa é mesmo dura. E está longe de ser de graça.
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