Postado em: 19 de mar de 2013.
O potencial de dano da antiga diretoria do Flamengo já era bem conhecido. Do desastre administrativo que provocou a saída de Ronaldinho Gaúcho à conta de água milionária por causa de um vazamento na piscina, a turma da ex-vereadora lesou o clube de todas as maneiras imagináveis.
Incompetência e má intenção são uma união que não conhece constrangimentos. Enquanto declamava seu amor “à nação”, a ex-presidenta aparelhava seu gabinete na Câmara dos Vereadores com gente do clube que precisava ser recompensada pelo apoio. Foi capaz de virar as costas a Zico, na primeira dividida entre o maior nome da história rubro-negra e o obscuro subsolo do clube. E ainda insultou a capacidade da comissão técnica ao levar um dublê de ator, que bate em mulher, para falar aos jogadores.
A mais recente façanha da diretoria anterior se tornou conhecida na noite de sábado, quando a demissão de Dorival Júnior revelou a intenção da gestão atual de ajustar os vencimentos da comissão técnica do Flamengo à realidade do clube. Patrícia Amorim – ou quem quer que comandasse o Flamengo no lugar dela – conseguiu a proeza de transformar um salário de R$ 250 mil em algo ruim, desprezível, ofensivo até.
O que está em discussão aqui não é o valor do trabalho de um profissional. O futebol movimenta números tão astronômicos que seus parâmetros não devem ser comparados a outros mercados, dentro ou fora do esporte. E estamos tratando de um dos clubes que mais recebem dinheiro do contrato de televisão. Mas é estarrecedor que uma instituição que é notícia quando paga seus funcionários em dia tenha de reduzir em quase três vezes o salário de seu técnico, para chegar ao valor considerado razoável.
A megalomania – para usar um termo respeitoso – é de tal ordem que o episódio da dispensa de Dorival impôs um debate vergonhoso. De um lado da mesa, o clube, sem saída, oferecendo uma vultosa redução salarial ao treinador. Do outro, o técnico, contemplando a desvalorização de sua posição, vendo-se obrigado a não aceitar a proposta. O resultado só poderia ser o impasse e o retorno de Dorival ao mercado de trabaho.
Impasse que adquire contornos surreais quando se pensa no tamanho do salário que o Flamengo pretende pagar. Ao final da conversa, Dorival Júnior disse não a um quarto de milhão de reais. Por mês. Concordar seria assumir que o clube o pagava com números que não condiziam com seu merecimento. Prova de que a realidade não existe, e sim apenas a percepção que condiciona diferentes leituras. Quantas pessoas, neste mundo, podem recusar tal nível de remuneração? Três milhões de reais por ano. Que fique absolutamente claro: Dorival não tem culpa .
E ainda não chegamos ao pior. O pior se apresentará quando o próximo técnico do Flamengo – enquanto escrevo, o acerto com Jorginho parece apalavrado – assumir, adequado a “um novo momento”. É capaz que alguém pense que dirigir um dos maiores clubes do futebol brasileiro, hoje, significa fazer um sacrifício financeiro. Ou dar um passo atrás na carreira.
É inacreditável.
Fonte: André Kfouri
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