Postado em: 26 de mar de 2013.
Promessa de terça-feira agitada na Gávea. Com adversários políticos ferrenhos em lados opostos, acontece a partir das 8h (de Brasília), na sede social, a eleição para o Conselho Fiscal do Flamengo. O pleito marca a despedida de Leonardo Ribeiro do cargo. Após dois mandatos, Capitão Léo se tornou uma das figuras mais polêmicas da história política rubro-negra, protagonizando, inclusive, um embate público com Zico. Gonçalo Veronese, da Chapa Branca e apoiado pelo atual ocupante da cadeira, e Mario Esteves, pela Chapa Azul, apoiada pelo grupo que assumiu a gestão do clube, são os postulantes ao cargo no próximo triênio. As urnas estarão disponíveis para os 1.970 conselheiros aptos a voto até às 21h. O vencedor do pleito assumirá o cargo a partir do próximo dia 1º de abril e formará o Conselho com outros quatro membros titulares e cinco suplentes, todos já indicados pelas chapas. Caso o derrotado alcance 20% de percentual final, outros dois titulares e dois suplentes serão integrados ao grupo que analisará as finanças do Flamengo até 2016. Capitão Léo: de Zico a fornecedor, anos de polêmica Em sua última semana no Conselho após nove anos – seis como presidente e três como secretário -, Leonardo Ribeiro dá de ombros para os desafetos políticos e se diz satisfeito com seu mandato. Ex-chefe de torcida organizada, Capitão Léo ganhou os holofotes ao pedir a instauração de um inquérito contra Zico, na época diretor de futebol rubro-negro, em 2010. O próprio, no entanto, enumera outras polêmicas em que foi protagonista. – Reconheço que tenho posições firmes e boto a cara. É da minha personalidade. Fico feliz porque, quando ando pelo Rio, o reconhecimento é mais positivo do que negativo. Ando bastante de metrô e ônibus pelo Rio. Tivemos a briga pelo contrato de TV, não permitimos a construção do shopping na Gávea, tivemos uma briga grande com a Nike, além do Ricardo Teixeira, que não confirmou o título brasileiro de 87. Ao longo de nove anos, isso nos deu visibilidade. Com as frases de efeito que lhe são comuns na ponta de língua, Capitão Léo comentou a briga com Zico e deixou claro que não se arrepende de nenhuma ação tomada na época. – O caso com o Zico foi um expoente dessa polêmica. Nunca quis brigar com o Zico. Havia uma denúncia, feita por um blog, e a oposição duvidou que fizéssemos a fiscalização da gestão Patricia Amorim. Tentamos mudar algumas cláusulas e, no processo, a coisa mudou. É da mitologia do futebol sempre buscar um herói e um vilão, mas apenas defendemos o clube. Opositor declarado do grupo comandado por Eduardo Bandeira de Mello, que assumiu a direção do clube no fim do ano passado, Capitão Léo é veemente ao afirmar que sua saída do Conselho Fiscal não o tirará do quadro político rubro-negro. Irônico ao falar das críticas que recebe de seus adversários, ele garante que não dará trégua, mesmo que sua chapa seja derrotada na eleição. – Eles (a Chapa Azul) decidiram fazer isso, que só me valoriza. Toda vez que apanho, eu cresço. Deixa eles pensarem que não, mas quanto mais batem, mais eu cresço. Nós, independentemente do resultado das eleições, vamos montar o Movimento Tradição e Juventude. Será algo grande e com participação em todos os poderes do clube. Vamos valorizar o sócio-proprietário e impedir a venda do Flamengo. Esse grupo está privatizando o clube. Há um conflito de interesses. Vamos montar um movimento para combater tudo. Já entraram R$ 80 milhões no clube até agora e, em 75 dias, ninguém prestou conta. Guerra de questionamentos marca eleição Em segundo plano no embate político que toma conta dos bastidores do clube, Mário Esteves e Gonçalo Veronese concorrem à presidência do Conselho Fiscal também em meio a contestações de seus opositores. Líder da Chapa Branca, Veronese, inclusive, por pouco não foi impedido de disputar a eleição. Vetado pelo Conselho de Administração no dia da homologação da chapa, ele se manteve como candidato graças a recurso no Conselho Deliberativo, assim como outros dois companheiros. Há ainda quem acuse Gonçalo Veronese de ser conivente aos desejos de Capitão Léo. O próprio candidato responde a afirmação: – Sou procurador federal. Tenho 51 anos de idade, 32 de carreira, e sempre mandei. Fui procurador da fundação. Isso de que vou ser mandado não existe. Esse grupo novo para que veio fazer inimigos, criticar as pessoas, xingar. Minha relação com o Leonardo é de amizade. Se estou concorrendo a uma cadeira política, quero voto de todos os grupos que quiserem me apoiar. Tenho voto de grandes beneméritos. Espero que o dele também. Ele tem rejeição, mas muito voto também. À mesma medida em que se defende, a Chapa Branca também rebate com questionamentos. O maior deles diz respeito ao fato de Mario Esteves, da Chapa Azul, ser amigo de longa data e ter trabalhado por muito tempo junto ao presidente Eduardo Bandeira de Mello. O próprio Esteves também é responsável por comentar o fato: – Em relação ao BNDES, trabalho lá há muitos anos, estou próximo de me aposentar, não fui chefe do Eduardo Bandeira de Mello, isso é uma balela, trabalhamos em setores diferentes. Agora, você ser colega… Todo mundo no clube se conhece. Se você observar, por exemplo, há uma quantidade de membros do Poder Judiciário no Flamengo, incluindo o próprio Veronese, de funcionários de Banco do Brasil, da Petrobras… Então isso é uma besteira danada. Isso é coisa de quem não tem o que falar, não tem proposta e quer esconder essa situação de continuísmo do Capitão Léo. Contrário às medidas tomadas pela gestão atual, Mário Esteves informa ainda que o novo Conselho terá a missão de reavaliar contas ainda da ex-presidente Patrícia Amorim. – Temos de lembrar que o Conselho Fiscal vai primeiro reexaminar as contas de 2011, que foram reprovadas pelo Deliberativo. Logo em seguida, vai examinar as contas de 2012, também da Patrícia Amorim. Só mais adiante, analisará as contas da gestão atual. De modo que não cabe no Conselho Fiscal a alcunha de oposição ou situação. O que cabe é o que não vem sendo feito há seis anos, uma postura isenta, técnica, independente e que veja acima de tudo os interesses do Flamengo. Uma das medidas mais polêmicas tomadas no período em que Capitão Léo esteve na presidência contou com a participação direta de seu candidato da vez. Era Gonçalo Veronese o presidente da comissão de inquérito para avaliar os termos do contrato entre Flamengo e CFZ na época em que Zico ocupou a função de diretor de futebol do clube. – Foi uma representação infame contra o Zico, nosso grande ídolo. O relatório era assinado por Capitão Léo, Gonçalo Veronese e o Marcelo Vargas, também membro da Chapa Branca. Era um relatório sem fundamento e que foi devidamente arquivado no Conselho de Administração com apenas um voto contra, o do Capitão Léo. Foi um péssimo exemplo do uso político do Conselho Fiscal. Iremos desmontar peça por peça esse palanque político montado no Conselho Fiscal – atacou Esteves. Veronese se defendeu e falou em injustiça: – Pedi o arquivamento do processo. Há uma certa injustiça. Quem fez a denúncia foi um blog. Inclusive, muito mais graves. Sócios do Flamengo encaminharam ao Conselho, que abriu uma sindicância. Como não havia provas, pedi o arquivamento. Julgamento tem que ser com provas. Algumas acusações foram levianas e nem apuramos. Nosso inquérito foi isento. Deram até muita importância para relação entre o Leonardo e o Zico. O Zico foi o maior jogador que vi jogar, é meu ídolo. A única vez que briguei no estádio foi com a torcida do Botafogo para defendê-lo – explicou o candidato. A eleição do Conselho Fiscal determinará o o comando do último dos poderes políticos do Flamengo. Além da direção rubro-negra, a Chapa Azul venceu também a disputa no Conselho Deliberativo, com Delair Dumbrosck. No Conselho de Administração, Maurício Gomes de Mattos, que exerceu mandato durante a gestão de Patrícia Amorim, mas não tem grande rejeição em ambas as correntes, foi reeleito.