Postado em: 22 de mar de 2013.
Em uma carta encaminhada aos associados do Flamengo hoje, o presidente do conselho fiscal do clube, Leonardo Ribeiro, aponta um “gigantesco conflito de interesse” entre a Sky, segunda maior operadora de TV paga do país, e o time de maior torcida do Brasil. A carta é uma “prestação de contas” dos seis anos de Ribeiro à frente do conselho fiscal do Flamengo. Trata-se, portanto, de material de alto conteúdo político. No próximo dia 26, será eleito um novo presidente do conselho fiscal, e Ribeiro não pode mais ser reeleito. Ribeiro faz oposição à nova diretoria do Flamengo, que tem como vice-presidente de marketing o presidente da Sky, Luiz Eduardo Baptista. “O Flamengo, em função da sua composição política atual, atua como um conteúdo onde o comparador e vendedor estão potencialmente imantados nessa função. Um modelo único, onde quem senta à mesa de vendedor estará também sentado à de comprador, pois aquisição de direitos esportivos é uma das estratégias de penetração da empresa que [Baptista] preside (Sky) no mundo inteiro”, escreveu Ribeiro. Ao blog, Ribeiro afirmou que o Flamengo pretende lançar um canal de TV até 2015, com presença garantida na Sky. No ano seguinte, acredita, a Sky poderia entrar na disputa pelos direitos dos principais campeonatos brasileiros, comprados pela Globo até 2018. A Globo não seria a maior prejudicada pela concorrência com a Sky. A Globosat, sua programadora de canais pagos, sim. A nova lei de TV por assinatura, no entanto, impede que operadoras de telecomunicações, como a Sky, comprem direitos esportivos. Mas isso não impede uma solução alternativa, por meio de um canal associado ou estrangeiro. E é inegável o poder que Baptista terá em uma eventual negociação de direitos do Flamengo com a Globosat. Procurada, a Sky não se manifestou até a publicação deste texto.
A seguir, a íntegra da carta de Leonardo Ribeiro: Comunicado aos associados do clube de regatas do flamengo Vejo-me obrigado a propor por meio desta, um momento de reflexão aos companheiros sobre os assuntos do nosso Clube. Estamos num momento de transição e mudanças, principalmente pela proposta que se apresenta para o próximo triênio. Fugindo da centenária tradição interna do nosso Clube, a democracia, a livre participação de todos os interessados na vida política, e, principalmente, a convivência harmônica entre os contrários, estão, neste momento, correndo risco. Existe um modelo de perseguição e exclusão que nós pensávamos que eram apenas políticos, mas agora, para nossa surpresa, uma sondagem feita em várias fontes ligada às “unidades comerciais” do negócio do futebol, identificamos o núcleo que determinou a política de “limpeza étnica” e “exclusão de associados”. Porque tanto medo da oposição? Porque tanto medo da fiscalização? O que esta por traz disto? Porque nestes dois meses nada do que foi prometido em matéria de transparência foi efetivado? Até agora não houve prestação de contas determinada pelos Poderes do Clube, mesmo entrando mais de R$ 60.000.000,00 em 60 dias. Manter a informação controlada em segredo de estado é a chave para o que identificamos de mais tenebroso no que está por vir. O Caso é tão preocupante que até mesmo o modelo de um Conselho Fiscal compartilhado entre situação e oposição não é permitido. A Ordem do dia é impugnar as candidaturas independentes e com isso, calar qualquer possibilidade de confirmação dos indícios que estamos buscando, para comprovar que o C.R. Flamengo está sendo PRIVATIZADO. Desejam que o poder que fiscaliza o clube seja composto pelo mesmo grupo daqueles que executam. Colegas de trabalho de longa data na vida privada (BNDES), agora também juntos a serviço de um obscuro protecionismo mútuo.
As dívidas – corrente e consolidada- serão supervalorizadas e, claro e óbvio, deixada para o associado PROPRIETÁRIO. Os principais ativos do clube – contratos, recebíveis até 2018 na ordem de R$ 600.000.000,00 – transferidos para os (F.I.)-Fundos de Investimento. Já existem escritórios de consultoria trabalhando para a implantação deste modelo. Em um primeiro momento, pesávamos que essas ordens estivessem centradas no Projeto – EBX-IMGX-Maracanã, mas para nossa surpresa, aqui, neste caso, isto tornou-se apenas uma formalidade. Estas operações, também por envolver o BNDES e a ODEBRECHT, deveriam ser a principal preocupação a ser omitida, porém como o modelo proposto que será de parceria, onde o Flamengo não terá uma segunda opção para o pós – COPA 2014, tudo que se especula aqui é apenas uma cortina de fumaça. A bilheteria, quinta receita do Clube, assim como outras propriedades correlatas, serão todas em parceria com a empresa gestora do estádio. O Flamengo, aparentemente, será sócio da operação que vai envolver compartilhamento de receitas dos serviços da praça esportiva, portanto, receitas variáveis. Este contrato, portanto, não envolve o projeto sócio-torcedor, ele, o contrato, é uma cessão de mando de campo para empresa operadora, e para lá vamos levar nossos torcedores para bancar a operação. Ocorre senhores, que o foco maior a ser “protegido” da fiscalização, e ai esta a grande revelação da nossa sondagem, está nos CONTRATOS DE TV. Isso mesmo, contratos de TV, a maior fonte de renda do nosso clube. Descobrimos que existe um gigantesco conflito de interesse entre as empresas operadoras desde direito, assunto este já abordado por alguns jornalistas de renome (incluindo Juca Kfouri). O FLAMENGO, em função da sua composição política atual, atua como um conteúdo onde o comparador e vendedor estão potencialmente imantados nessa função. Um modelo único, onde quem senta à mesa de vendedor estará também sentado à de comprador, pois aquisição de direitos esportivos é uma das estratégias de penetração da empresa que preside (SKY) no mundo inteiro. Neste caso, o modelo envolve: aumento do valor de ingresso e elitização das praças esportivas; migração do torcedor de Estádio para o torcedor de poltrona das TVs fechadas por assinatura (procurem pesquisar quem disse: “, consequentemente, aumentado sua base de assinantes; transferência para outra distribuidora de canais do conteúdo FLAMENGO FUTEBOL; provável criação de um canal esportivo com esse conteúdo e a comercialização desses direitos pelo Brasil e pelo mundo, através de uma empresa de penetração global”). De novo, esta foi a estratégia desta empresa em diversos mercados. Mas esta aberração vendedor/comprador somente será vista aqui, sendo o Flamengo usado como ferramenta para isto Bom, e o Flamengo? Não seria bom para o Flamengo? Seria se houvesse um contraponto, um contraditório. Muitos questionam o porquê de tanto ódio contra o atual Conselho Fiscal. Por que a grande mídia odeia tanto e persegue tanto os membros do Conselho Fiscal, em especial sua Presidência? Seis anos atrás, quando assumimos, o conjunto de todos os direitos de TV rendiam ao Flamengo algo em torno de R$ 24.000.000,00 por ano. Os Contratos negociados em bloco, pelo Clube dos Treze, geravam partes iguais entre, Flamengo, Corinthians, Vasco, São Paulo, e por pouco, até o coirmão Santos. O Conselho Fiscal iniciou uma cruzada para desmontar esse modelo.
Mandamos um projeto para o Conselho Diretor da época e para alguns clubes co-irmãos (17-07-2007), mas por vários motivos aquela diretoria não quis entrar em choque com a detentora dos direitos, a TV GLOBO. Registramos esse projeto nos devidos órgãos competentes e demos inicio a maior articulação para quebrar o monopólio das negociações, gerando aí a origem de tanto ódio e manipulação das noticias e informações contra o Conselho Fiscal e sua Presidência. Na negociação dos contratos hoje vigentes, os direitos de exibição do nosso Clube saltaram para valores significativos, dando origem a 7 novos contratos. O Conselho Fiscal, em nome da transparência e da livre concorrência, foi o único a receber e a ouvir a proposta da TV Record. Este ato, apesar de sido indiretamente aproveitado pela antiga Diretoria no processo de negociação com a TV Globo, com certeza decretou a nossa sorte. Nunca na historia do Flamengo, um Conselho Fiscal, com abnegados membros em trabalho voluntário, se expuseram tanto na defesa dos interesses do nosso Clube.Com certeza tivemos um papel preponderante nesta nova era. Contudo, frequentemente escutamos pelos corredores: Nunca mais “essa gente poderá ocupar um cargo desta importância”. Todos os meus companheiros de Conselho Fiscal ficaram marcados no “Black Book” de algumas pessoas influentes no mercado de mídia e, em especial, sua Presidência. Quando contratos saltam de R$ 44.000.000,00 p/ano, para espetaculares R$ 104.000.000,00 p/ ano, certamente alguém tem que pagar este preço. Como o patrimônio pessoal de todos os membros do nosso Conselho não evoluiu neste período, e no meu caso pessoal, até recuou, só restou aos prejudicados e ‘aqueles que nunca tiveram a menor noção das batalhas travadas em prol do FLAMENGO, fomentar uma campanha difamativa via “grande matrix”- redes sociais- contra esse “perigo” que é a turma do Conselho Fiscal, ou para quem gosta, “turma do Capitão Léo”. Finalmente, como dentro em breve estará em marcha a renegociação dos contratos de TV (TV Aberta, Fechada, Pay-Per-View e Direitos Internacionais) e o FLAMENGO, dentro do seu processo de “privatização” precisará blindar a cesta de ativos recebíveis do clube contra futura penhoras, a configuração atual torna-se bastante atraente e confortável para todos os envolvidos. Repetindo, teremos um cenário onde quem compra o FLAMENGO (Presidente da SKY), e quem vende o FLAMENGO (Vice-Presidente de Marketing), são respeitosamente a mesma pessoa. Ao terminar o meu mandato, em 31 de março, convidarei todos aqueles que pensam como nós para montarmos um fórum em defesa das tradições de nosso Clube.