Ao chegar ao Ninho do Urubu junto com a chuva no fim da tarde de segunda-feira, o vice-presidente de futebol do Flamengo, Wallim Vasconcellos, encontrou um clima de certo desconforto. Com a eliminação prematura no Carioca e os 47 dias até a estreia no Brasileiro, só resta transformar a incerteza do período em estímulo para recomeçar.
— Vou lá conhecer meu vice — disse um integrante do departamento, ao se espantar com rara visita.
Quem acompanha a rotina do futebol rubro-negro contabiliza que esta foi a terceira vez que o dirigente esteve no CT. Cabeça brilhante do mercado financeiro, Wallim cultiva uma distância estratégica da comissão técnica e dos jogadores para reforçar os conceitos de autonomia e profissionalismo. Enquanto o time treinava sob chuva a cem metros dos alojamentos, o vice ficou abrigado à espera do grupo. No lugar do imediatismo para anunciar medidas ou reforços de impacto, Wallim mostra paciência para repetir o discurso de que não é mais possível fazer loucuras.
— A gente nem fica tentado porque sabe que o presidente vai dizer que não pode pagar. Só vamos trazer uma grande estrela se tiver um patrocinador para isso. Do contrário, serão atletas de bom nível que chegarão com condições de jogar. Não temos o direito de errar. Se trouxermos três ou quatro peças, acredito que teremos condições de brigar na parte de cima da tabela no Brasileiro — disse, preocupado em oferecer segurança ao torcedor, aos jogadores e aos fornecedores. — O mais importante agora é honrar compromissos. O rapaz da van estava há dez meses sem receber.
Torcida paga conta
Por conta da política de redução de custos, que rescindiu contratos, a expectativa de novos ajustes serve para rever valores no clube. Ser um jogador caro no Flamengo deixou de ser garantia de estabilidade. Outra fonte de apreensão veio com a chegada do técnico Jorginho, que dissolveu o que restava de um time base em sucessivas experiências:
— Financeiramente, não há nenhum jogador que seja um problema. A questão é saber se quem tem alta remuneração está rendendo e por que não está. A questão de estar no grupo depende do jogador. É ele que vai mostrar que tem condições de jogar no Flamengo. Não temos nenhum plano de dispensa a não ser que o jogador queira sair.
Com salários em dia e vitórias em atraso, o Flamengo está em dívida com a torcida e ainda sim quer aumentar sua linha de crédito com ela. Em meio ao arrocho financeiro e esportivo que atinge a todos os rubro-negros, é a torcida que terá que pagar a conta.
— Se a gente tiver 50 a 60 mil adesões ao programa sócio-torcedor, considerando a contribuição mínima de R$ 40, aí sim a gente entra num ciclo virtuoso e vai ter um Flamengo forte. Quem puder virar sócio deve saber que é essa a solução para o nosso problema — disse Wallim, que já sabe onde pode ou não pedir ajuda depois de a federação do Rio rejeitar o pleito do clube para enfrentar o Remo, dia 17, pela Copa do Brasil, em Juiz de Fora. — A torcida do Flamengo precisa saber quem está contra ou a favor. A federação não quer ajudar.
Embora o time só jogue para cumprir tabela no Estadual, o Fla-Flu de domingo em Volta Redonda é tido como um jogo de efeito moral para recuperar a confiança e o caminho das vitórias. Se avançar na Copa do Brasil, o time terá quatro jogos oficiais até o Brasileiro.
— Temos que ter um time com a cara do Flamengo, que luta até o fim. É muito fácil ser ídolo aqui, é só botar o coração na boca e na ponta da chuteira.
Por conta da relação custo-benefício favorável, o vice confirmou que o mercado argentino está sendo pesquisado em busca de reforços dentro do teto salarial de até R$ 300 mil. Acima disso, Wallim está careca de saber que não adianta sair a campo para fazer demagogia. Quando o tempo fecha, só resta buscar abrigo nos limites do orçamento.
Fonte: O Globo
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