Comemorar derrota não dá, nunca foi do nosso feitio. Mas seria canalhice dizer que o resultado foi catastrófico. O Flamengo foi atropelado, mas deu sorte de escapar com ferimentos leves e conseguiu voltar andando pra casa. Como acontece em 99% dos casos, as causas do atropelamento foram o excesso de velocidade de um lado e a imprudência na hora de atravessar a rua do outro.
Todo mundo sabia que pelas características do adversário o jogo ia ser complicado pra nós e ia exigir muita atenção e firmeza em termos de marcação. O entrosamento era fundamental. O que fez então o nosso übber treinador? No intervalo de tempo entre uma entrevista coletiva e o check-in em algum aeroporto do Brasil trancou-se em seu laboratório e de lá saiu com uma nova invenção, um desenho tático revolucionário que mexeu o time todo. E mandou o entrosamento pra casa do chapéu.
Tirou os laterais, superpovoou o meio de campo, meteu um moleque desconhecido até pelos companheiros de time e deixou o atacante isolado lá na frente. Tão isolado que em alguns momentos Marcelo Moreno parecia até o centroavante da Bolívia. E em pleno teste da versão beta do novo invento aconteceu o que mais temíamos, levamos um sufoco daqueles, fomos totalmente dominados no 1º tempo. Saímos pro vestiário no lucro com a derrota parcial de 1 x 0. Era pra ter sido muito pior.
No 2º tempo até que o Flamengo voltou com mesma escalação estapafúrdia, mas voltou um pouco mais elegante, já não ficava mais tanto tempo na roda. Verdade que os caras tiraram um pouco o pé. Mas nossos sucessivos erros de passe arruinavam todas as tentativas de se criar alguma coisa em termos ofensivos. Depois de errar mais de 450 jogadas acabou o saco da nossa rapaziada e o Flamengo era só chutão, infelizmente nem sempre pra frente. Num dos inúmeros vacilos da noite os caras fazem o segundo gol, que foi até bonitinho. Aí o Flamengo desmontou e deduzi que os caras iam garantir a vaga nas 4ºs ali mesmo.
Felizmente eu não entendo nada de futebol e estou sempre sendo surpreendido pelo erráticos roteiros escritos pela bola. O jovem Gabriel, de quem sou fã do estilo peladeiro, estava em uma jornada lamentável, com índice de acerto muito próximo de zero, tinha mesmo que sair. Mas quando vi que no seu lugar ia entrar o usualmente catatônico Carlos Eduardo joguei a toalha. Na boa, não me chamem de injusto. Mas tudo que aprendemos de Cadu em 8 meses de convívio é que é um produto impróprio para o consumo.
Mas Cadu entrou e conseguiu fazer o que até então o Flamengo ainda não tinha conseguido fazer; ficar com a bola no pé. Dar um pouco mais de tempo para que o time, todo lá atrás, conseguisse fazer a transição da defesa pro ataque e diminuir um pouco a solidão de Moreno lá na frente.
A mudança foi sentida imediatamente. E numa das raras jogadas de Elias que deu certo, Moreno ficou livre pra marcar, mas acertou a trave pela segunda vez na noite. E Cadu, que tava de frente pro crime mandou um tirambaço pra estufar a rede. Gol que nos fez pensar que a melhora do time com a entrada de Cadu, carta mais que fora do baralho, só comprovava que a escalação original de Mano Menezes tinha sido um desastre.
Um gol muito importante, tanto no aspecto coletivo, afrouxando a corda no pescoço do Flamengo e deixando a vaga em aberto pra ser decidida no Maracanã. E importante também no aspecto pessoal, pois deu uma sobrevida ao seu autor, que pelos sinuosos caprichos da bola pode muito bem protagonizar uma incrível reviravolta numa história que todo mundo já achava que tinha terminado. Ora, se o Flamengo anda ressuscitando mortos à mancheias no Brasileiro não seria nada espantoso se conseguisse ressuscitar os seus próprios defuntos na Copa do Brasil. Pense num absurdo. No Flamengo tem precedente.
O desafio que o Flamengo tem diante de si é enorme, cabuloso. Derrotas custam caro e o Flamengo terá 90 minutos no Rio para reverter a vantagem que cedeu ao adversário em Belo Horizonte. Para o Flamengo o jogo de quarta-feira é final de Copa do Mundo. Não pode nem passar pela cabeça da diretoria criar qualquer tipo de dificuldade para que a torcida carioca exerça toda a sua influência. Temos que jogar com a casa cheia, quanto a esse ponto não cabe qualquer discussão.
É agora que a torcida quer ver o que vai acontecer nas bilheterias do Maracanã. Que se tornam a mãe de todas as encruzilhadas quando os conceitos econômicos que norteiam nossa cartolada encontram-se em provável rota de colisão com a necessidade técnica/motivacional dos nossos 11 mulambos no gramado. Até onde vai a dependência entre time e torcida?
Sou grande entusiasta e proselitista da Magnética, mas tenho espelho em casa. Sei muito bem que a torcida não vai ganhar esse jogo pro Flamengo. Mas sei também que sem o seu concurso o Flamengo dificilmente atingirá a meta proposta. Aquela conversa de 12º jogador não é conversa, é um fato.
É um momento tão decisivo para o time quanto para a diretoria. Que vai ter que usar toda a sensibilidade que estiver disponível nos corações de pedra de seus executivos para encontrar o justo equilíbrio entre o olho grande e a mão aberta. Pra conseguir encher a casa, deixar a torcida empurrar o Mengão e não matar a galinha dos ovos de ouro ficando de fora da competição que é o caminho mais reto para a Libertadores 2014.
Não faço a menor ideia de quanto vai custar a entrada, mas pra bombar bombado o Maraca devia ser algo em torno de 50 reais, no máximo. Mas nem quero apelar. Já dizia o caboclo Adam Smith de Angola em um dos seus mais famosos “pontos”: Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse.
Uma coisa é o Flamengo se classificar dentro de campo. Outra é a política de preços que nego vai adotar. O ideal era que esta beneficiasse aquela. Mas de uma coisa eu tenho certeza absoluta, essa diretoria, por mais burguesa, elitista e focada na receita que seja, sabe melhor do que todos nós que o Flamengo tem time, mas não tem dinheiro pra ficar fora da Copa do Brasil tão cedo.
Fonte: Urublog