O Flamengo não avançaria na Copa do Brasil sem o Maracanã.

Não tenho nenhum medo de errar ao afirmar: o Flamengo não avançaria na Copa do Brasil se o jogo da volta contra o Cruzeiro não tivesse sido no Maracanã. Começo a desenvolver minha tese com base na coletiva do técnico mineiro Marcelo Oliveira. Ele garantiu, e acredito, que em momento algum mandou seu time recuar, ou passar da intermediária umas quatro vezes em cada tempo. Acredito porque não tenho motivo para desacreditar, porque os times de Marcelo não se encolhem, e porque chamar o Flamengo para perto de seu gols seria de uma burrice que passa longe do bom time do Cruzeiro. O grande motivo para a postura tímida do Cruzeiro foi que, à sua frente, havia quase 60 mil guerreiros ensandecidos.

Na maior chance do Cruzeiro no primeiro, a bola não entrou porque atrás de Felipe havia 60 mil em cima da linha. No segundo tempo, todas as rebatidas da zaga mineira caíam em pés rubro-negros porque havia 60 mil na intermediária. Quando Paulinho, aos 43 minutos, rolou a bola para a entrada da área, Fábio foi bombardeado por 60 mil chutes. Um tinha de entrar.

Se o jogo tivesse sido em Brasília, o Cruzeiro jogaria contra um time normal, tecnicamente inferior, e sairia de campo classificado. Poderia haver até 60 mil torcedores do Flamengo lá. Mas não cantam as mesmas músicas, não têm o mesmo timing, expressam-se de modo menos catártico  a cada bola roubada, a cada gol perdido, a cada rede estufada.

O presidente Eduardo Bandeira de Mello teve nesta quarta-feira mais um alerta divino sobre o erro que é fugir do Maracanã, muito mais contundente do que qualquer post. Li na quarta-feira no jornal O Dia, cuja equipe tive o privilégio de integrar por oito anos, que a direção rubro-negra fez uma projeção com o mesmo público do Maracanã, e que se fosse em Brasília o clube arrecadaria mais algo em torno de R$ 300 mil, e que por isso o clube está novamente disposto a passar a mandar seus jogos longe de casa.

Farei uma pergunta ao pé do ouvido do presidente, com o devido respeito: caro doutor Eduardo, R$ 300 mil é o preço de uma fidelidade? O senhor trairia um amor por R$ 300 mil? Lembra do filme “Proposta Indecente”? Esse é o preço para trocar uma torcida pela outra? Tenho certeza de que não. Assim como tenho certeza de que é preciso seriedade e prudência na administração de um clube de futebol, mas que há elementos nesse trabalho diferentes dos que se leva em conta na administração de um banco.

Tenho certeza de que se o Barcelona mandasse seus jogos em qualquer lugar do mundo, com o timaço que tem, não só ganharia o jogo como arrecadaria mais do que no Camp Nou, onde todos já estão fartos de ver Messi. O mesmo se aplica ao Bayern, que leva a sua cidade no nome. Poderia jogar, ganhar e arrecadar mais do que em Munique. Mas o Bayern é de Munique, tanto quanto o Flamengo é do Rio. No próximo dia 14, o Bayern enfrenta o Hannover na Allianz Arena. No mesmo dia, o Barça recebe o Sevilla no Camp Nou.

A regra de que os times mandam os jogos em suas cidades vale desde a mais milionária das Ligas, a NBA (até onde sei o Knicks joga em Nova Iorque, o Bulls em Chicago e o Lakers em Los Angeles, independentemente da fase em que estejam), até o campeonato da quarta divisão de Honduras. Tenho a leve impressão de que querer que o Flamengo quebre esse conceito é querer reinventar a roda – quadrada.

Jogar no Maracanã significa ser invencível? Claro que não, embora o Flamengo não chegasse a ser a potência que é nem teria a história que têm se não fosse a torcida nesse estádio. Jogar no Maracanã significa que haverá sempre 60 mil pessoas? Claro que não, embora a torcida já tenha dado várias mostras de que, quando o jogo é decisivo, quando o time precisa de fato dela, quando há mais gente como Elias do que como Carlos Eduardo em campo, ela enche, sim, o Maracanã. O público desta quarta-feira foi o maior do novo Maracanã após a Copa das Confederações. E já tivemos lá clássicos cariocas. Ou seja, o maior público foi da torcida do Flamengo sozinha.

Aí o senhor poderá voltar a dizer: mas quem é esse Ricardo Gonzalez para me dizer o que devo fazer com o Flamengo? Ninguém. Então, como uma vez já recorri ao papa Francisco, agora dou nova sugestão. Pegue alguém de sua confiança, cujo rosto não seja conhecido. Peça a esse alguém para fazer uma enquete, sem se identificar, é claro, com os seguintes técnicos de futebol (estes sim muito mais relevantes do que eu): Oswaldo de Oliveira (próximo adversário na Copa do Brasil), Enderson Moreira, Dorival Júnior (um dos dois fará a semifinal), Renato Gaúcho, Tite, Dunga e Vagner Mancini (um estará na final). Pergunte a cada um deles o seguinte: você prefere enfrentar o Flamengo no Maracanã ou em Brasília? Se um deles, sem saber do que se trata, responder que prefere enfrentar o Flamengo no Maracanã, ou é doente mental ou estará mentindo. Como nenhum deles é doente mental nem mentiroso, pode ter certeza de que todos eles vão celebrar muito se o senhor cometer o suicídio de tirar o Flamengo de sua casa na sequência da temporada.

Presidente, os R$ 300 mil de diferença o Flamengo reembolsa jogando mais decisões, mais mata-matas na Copa do Brasil, na Sul-Americana, na Libertadores. Se o senhor quiser ser mais realista do que o rei e tirar o Flamengo do Rio, o clube ganhará R$ 300 mil muitas vezes, mas vai economizar também na sala de troféus, que jamais precisará ser ampliada. Taças de série B cabem na atual sala.

Precisamos de mais argumentos ou o que a torcida deu quarta-feira é suficiente?

P.S. 1 – Vou repetir: a cobrança à direção do Flamengo é porque é dela o compromisso com a torcida. O Consórcio Maracanã só tem compromisso com o dinheiro. Mas é óbvio ululante que, na minha opinião, essa empresa tem o dever moral – porque está tomando conta temporariamente de um patrimônio público que não é só físico, mas que é cultural do povo carioca – de reduzir sua ganância cega e remunerar regiamente quem chama público para o Maracanã. Não é o Flamengo que tem de mendigar para receber mais. O Consórcio, se tiver decência, é que deve perguntar quando o Flamengo acha justo receber para que a torcida faça o espetáculo que faz, sozinha ou não.

P.S. 2 – Por mais que tenha sido responsável pela classificação do Flamengo, a torcida não ganhou sozinha. Houve, justiça se faça, um 60.001º elemento, o técnico Mano Menezes. A escalação de Rafinha de início foi um achado. O que ele precisava? Conter o Cruzeiro. E Rafinha, por mais que esteja jogando menos do que no Estadual, tem um estilo rápido que segura o lateral, o volante, e o quarto zagueiro do adversário. E no segundo tempo, jogou a pá de cal no Cruzeiro ao arriscar tudo e puxar Luis Antônio, que não sabe marcar, “só” criar, e jogar Paulinho para triangular pela direita com Rafinha e André Santos (ou o onipresente Elias), dando um nó no já normalmente confuso Egídio (como alguém, jogando para não levar gol, aos 42 do segundo tempo, parte com a bola dominada para o ataque, perde a bola e volta andando? Só Egídio mesmo…). Mano está dando aula de futebol na Gávea.

Fonte: Blog Entre as Cantas


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