A verdade é que todos são “antis”!

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Nos últimos anos os corintianos se acostumaram a chamar os não-corintianos de “antis”. Essa expressão ganhou muita força nas Libertadores mais recentes do Timão, quando uma enorme torcida multicolorida se formava animada e esperançosa para ver a eliminação do Corinthians no nobre torneio continental. Só que essa gigantesca massa de “antis” não é e nunca foi privilégio dos não-corintianos, que falsamente dizem se preocupar apenas com o Corinthians. Que cascata! Neste ano, por exemplo, os corintianos deram as mãos fortemente aos demais não-são-paulinos na torcida pela inédita queda do Tricolor do Morumbi. Seria o castigo perfeito para aquele clube tão associado à soberba, aquele cujos torcedores mais se acham, aquele time que se diz diferenciado.

Não só em São Paulo, mas em outros Estados também, criou-se uma nação de “antis” que apenas Muricy Ramalho, com seu jeito simples e direto, conseguiu esfriar, recuperando de forma incrível um time que parecia sem poder de reação. Mas agora tem uma semifinal continental contra a Ponte Preta! Há alguma dúvida de que os “antis” vão abraçar com todo o carinho do mundo a Macaca? Já li aqui e ali que a “Ponte é o Brasil na Copa Sul-Americana”. E será mesmo, faz todo o sentido. De um lado estará um dos times mais vitoriosos do mundo, cuja torcida já vai contabilizando seu 13º título internacional oficial, e do outro lado estará a sensação do torneio, um time mais que centenário que jamais ganhou título de primeira linha e que está debutando em torneio da Conmebol. A Ponte não faz mal a quase ninguém, a exceção se resume basicamente à hoje sofrida torcida do Guarani.
Qual é o pecado em secar um rival ou um time que é sabidamente mais forte e favorito? Nenhum! Pecado é mentir dizendo que não se importa com um confronto do odioso adversário quando no fundo está se mordendo todo de raiva com o possível sucesso do inimigo. A alegria geral caso a Ponte elimine o São Paulo e impeça o seu bicampeonato invicto será quase tão grande quanto um eventual título do Atlético-PR diante do Flamengo na Copa do Brasil. A torcida do Flamengo não será a maior do Brasil nessa decisão nacional, pois muito mais que botafoguenses, tricolores e vascaínos estarão empurrando o Furacão. Os “antis” costumam se juntar mais em torno dos mais fracos e oprimidos e, de Norte a Sul da nação, há a chance de gozar muito os flamenguistas, que têm certeza de que “deixou chegar, fudeu”. Os rubro-negros do Rio temem um vice mais que tudo, ainda mais diante de um clube de bem menor expressão, caso do Atlético-PR. E olha que o Furacão há muito tempo deixou de ser uma Ponte Preta no país, hoje o rubro-negro paranaense é uma incômoda pedra no sapato de muitos grandes, é um time “chato”, que enfrenta, que peita, que ousa, que vence muitas vezes e cuja torcida tornou-se também desafiadora, orgulhosa, insuportável, como é toda torcida de um clube grande, de um time que se acha a última bolacha do pacote.
Como se vê, os “antis” são todos. E os “antis” mudam sem pudor de camisa, gozam com o orgasmo dos outros mesmo. Quem se assume secador compra uma briga ou outra e corre o risco de quebrar a cara se a sua torcida contra não funcionar no final das contas. Mas no fundo isso é parte inerente do espírito do torcedor. Não é violência torcer contra um rival, é algo até sadio. É comum até torcer contra um técnico mala, contra um jogador prepotente, contra um árbitro desgraçado, contra um dirigente provocador, contra um justo campeonato de pontos corridos, contra qualquer coisa. Tudo isso é futebol. Há quem diga, também falsamente, que não gosta de futebol, que gosta apenas de seu clube. Outra cascata! Seu clube é futebol, como todos os outros times são, sejam esses grandes, médios, pequenos ou gigantes. Seu clube tem uma torcida a favor e, invariavelmente, uma grande torcida contra.
Imagine agora a Ponte Preta na final da Copa Sul-Americana. Será uma alegria para milhões, não há dúvida. Mas creio que essa torcida diminuirá bem numa hipotética decisão, pois há muito clube grande que ainda sonha com o primeiro título internacional oficial. E imagine as brincadeiras do tipo: “A Ponte é maior que seu clube porque é campeã continental”. Talvez, pensando bem, já tenha um ou outro “anti” que vai torcer pelo São Paulo já na semifinal mesmo… Ô raça!

Fonte: Blog do Rodrigo Bueno
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