O blog Garrafão Rubro-Negro publica nessa quarta-feira a segunda e ultima parte da entrevista com Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo. Póvoa que não fugiu de nenhuma pergunta polêmica como a questão do patrocínio com a TIM, utilização de ginásios no NBB 6, Leandrinho, entre outros assuntos.
Garrafão Rubro-Negro: Qual é a realidade financeira atual do basquete do Flamengo, e qual é o acordo firmado com a TIM?
Quando o último NBB terminou, tínhamos garantias dadas por um patrocinador de que poderíamos fazer um grande investimento no basquete adulto do clube. Mas ocorreram contratempos nesse período, e não fechamos com essa empresa em questão. Em agosto, conseguimos fechar o patrocínio da TIM, via Lei de Incentivo ICMS ESTADUAL. O nosso acordo com essa empresa é que ela será exposta apenas no número do uniforme. Por uma questão de burocracia estadual e da própria empresa, ainda não recebemos o valor do acordo firmado com a TIM. Esse contrato é retroativo, ou seja, vamos receber os valores acumulados desde agosto. Estamos com dois meses de salários atrasados com os jogadores, e estamos conversando isso com eles diariamente. É algo que me tira o sono, mas acredito que até o fim de dezembro ou no começo de janeiro tudo será resolvido. Estamos muito próximos de fechar um patrocínio para colocar na frente da camisa do basquete.
No atual NBB, o Flamengo já atuou em três ginásios: Arena da Barra, Tijuca e Gávea. Qual é a preferência do clube em relação ao ginásio para o basquete mandar seus jogos no Rio de Janeiro?
Nossa opção é sempre jogar no Tijuca Tênis Clube. É a nossa casa. Tivemos que jogar na Gávea em razão de conflitos de datas do time de vôlei do Rio de Janeiro, que também manda seus jogos no Tijuca. Inclusive tivemos a liberação do NBB para atuar na Gávea, sendo que o ginásio tem a capacidade inferior à permitida para os jogos da competição. Nossa ideia é utilizar a Arena da Barra apenas em jogos com maior apelo, e que tiverem transmissão da Globo ou do SporTV. A questão do Maracanãzinho é a mais complicada. Queríamos jogar lá na estreia do NBB, mas só agora o ginásio está sendo repassado para a gestão do Consórcio que cuida do complexo do Novo Maracanã. O ginásio está com problemas no placar e existe a questão do piso que é necessário para jogarmos o basquete. Mas não é um ginásio que descartamos, e estamos negociando para quem sabe atuarmos lá no ano que vem. Sabemos que comparado à Arena da Barra, o Maracanãzinho é um ginásio com acesso muito mais facilitado para o torcedor.
Alguma novidade sobre a Arena Multiuso na Gávea?
É um projeto que está andando e estamos conversando com a Prefeitura, mas eu não posso enganar meu torcedor. A Arena não é um projeto para 2014. Se tudo der certo, pode ser a nossa Arena própria a partir de 2015.
Como você avalia o elenco adulto do Flamengo nessa temporada?
Eu particularmente gosto do elenco que montamos nessa temporada. Conseguimos um grupo mais qualificado. Na temporada passada eu achava o elenco forte individualmente, mas carente em algumas posições como a de pivô. E essas carências no elenco prejudicam a rotação do time durante os jogos. Infelizmente tivemos o problema do Benite nesse final de ano, mas o Marquinhos deve voltar a atuar em janeiro e já podemos contar com o Marcelinho de novo em quadra.
O Flamengo chegou a procurar o Leandrinho ?
Leandrinho é um baita jogador. Gosta do Flamengo, todo mundo sabe disso. Mas quando eu contrato um jogador no Flamengo quero que ele tenha um contrato longo, ou seja, se procurássemos o Leandrinho queríamos um contrato no mínimo até a Olimpíada. Não gosto de contratar jogador como ocorreu na gestão passada e esse jogador ter uma cláusula que o libere após qualquer sondagem da NBA ou da Europa. Isso prejudica o planejamento do time e também mexe com o torcedor, que fica desapontado pelo fato de o jogador ter ficado pouco tempo no clube. Prefiro ter um jogador menos badalado com um contrato de um ano do que um jogador com mais nome que eu corra o risco de perdê-lo a qualquer momento. Não faria o maior sentido, na filosofia atual que o esporte olímpico do Flamengo segue, contratar o Leandrinho nesses moldes. Mas eu torço para que ele continue no Brasil e com isso fortaleça ainda mais o nosso campeonato.
No início da temporada, o Flamengo liberou o Kojo e o Zanotti, e contratou Jerome Meyinsse e Nicolás Laprovittola para seus lugares. Como você analisa os estrangeiros no elenco adulto do Flamengo?
Muitos torcedores questionaram quando liberamos o Kojo e o Bruno Zanotti no início da temporada. Quero deixar claro que quando o Flamengo contrata um jogador estrangeiro, é jogador para decidir. Reconheço que o Bruno Zanotti foi muito importante na final do NBB, pois anulou o Robert Day, principal jogador do Uberlândia. O Kojo também foi muito importante durante a temporada, mas ele não era um armador tão clássico como eu gostaria de ter no time. O nosso planejamento sempre foi contar com três estrangeiros no elenco do Flamengo, e contrataríamos o terceiro apenas em janeiro, antes do início da Liga das Américas. Mas ocorreu a lesão do Benite, e tivemos que antecipar essa pesquisa no mercado. Sobre o Caio Torres, o Flamengo gostaria de continuar com ele, mas queríamos um contrato apenas de um ano. Apenas em casos extremos oferecemos um contrato superior a esse período. O Caio queria um contrato de dois anos, e foi para o São José. Na temporada passada, tivemos uma “Caio dependência” em muitos jogos. Queriamos mudar isso. Contratamos o Jerome e o Cristiano Felicio, que ainda vai evoluir muito e nos dará muitas alegrias. Falando sobre o Nico Laprovittola, queríamos um jogador capaz de ajudar o Gegê a evoluir ainda mais como jogador, já que acreditamos muito no potencial dele. E para a nossa alegria, a parceria entre Nico e Gegê já está dando muito certo, como podemos notar nos jogos do NBB 6.
Até agora nessa temporada, o Flamengo não contou com bom público em seus jogos como mandante. Você acredita que isso se deve ao valor cobrado pelo ingresso?
Não acredito que a questão do preço seja um fator determinante para o baixo público nos ginásios. Acredito que isso é mais pelo interesse do torcedor no momento. Acho o valor de vinte a dez reais, um valor justo. E podemos dizer que quem vai aos jogos de basquete pertence à classe média. Caso o campeonato avance e o público não aumente, podemos repensar em diminuir para dez a cinco reais. Eu não quero ganhar dinheiro do torcedor em cima da renda dos jogos, prefiro ter o ginásio cheio. Também precisamos melhorar a divulgação do esporte na mídia aqui no Estado do Rio de Janeiro.
Na coletiva de apresentação dos reforços estrangeiros do atual elenco rubro-negro, você citou que a Confederação Brasileira de Basquete não liberou alguns atletas para se apresentarem nos clubes, enquanto a Confederação Argentina de Basquete liberou seus jogadores, inclusive Nico Laprovittola, em plena preparação para a Copa América. Depois desse dia, como você avalia o relacionamento do clube com a CBB e a CABB (Confederação Argentina de Basquete)?
Concentração demais adiantou para a classificação do Brasil ao Mundial? Isso não funciona. Posso falar isso tranquilamente, pois fui jogador. Podemos constatar hoje o vexame que foi. O ideal seria a CBB dar folgas aos atletas, permitir que eles tenham um contato maior com seus familiares durante o período de treinos. E lembrando lque a CBB não ajuda os clubes, que mesmo com as dificuldades enfrentadas no dia a dia têm que arcar com os salários dos jogadores. Na assembleia do NBB o Flamengo já solicitou que na próxima temporada a LNB peça à CBB que libere os atletas para fazermos a apresentação no clube. Mesmo que só por um dia, já ajudaria a valorizar o esporte. O que faltou à CBB foi bom senso naquela situação. Só uma pergunta: a Argentina, que liberou o Nico, se classificou? Então fica a reflexão. Torço para o Brasil ir para o Mundial através do convite, ou seja, uma questão política. Não tenho porque mudar a crítica que fiz à Confederação no dia da apresentação dos reforços do Flamengo.
Como você avalia a nova geração do basquete brasileiro e a importância da LDB na formação de novos jogadores?
Muitos fãs do basquete falam que o vexame na Copa América se deve à geração que não é boa. Posso até não discordar disso, mas precisamos valorizar o que temos hoje e aperfeiçoar. A LNB é uma esperança quando o assunto é basquete, ainda mais pelo campeonato da LNB, que é realizado com recursos financeiros próprios. Como é bom ver no Flamengo atletas com potencial jogando os campeonatos, seja o NBB ou a LDB, como o Felício, o Gegê, o Diego e o Leo Medeiros. O Leo, inclusive, entrou muito bem no jogo do NBB contra a Liga Sorocabana. Se quisermos colher os frutos e construir uma geração boa, temos que nos preocupar muito com a base. E pode ter a certeza que o Flamengo quer continuar sendo espelho para formar novos jogadores de basquete na base. Queremos que a cada dia, mais jovens passem a jogar pelo clube.
Como você descreve o atual panorama do basquete no Rio de Janeiro?
É muito triste o que ocorre no basquete do Estado do Rio de Janeiro. A FBERJ passa por graves problemas financeiros, e temos oscilações constantes no número de participantes no Campeonato Carioca. Esse ano Campos dos Goytacazes participou, mas não sabemos como será no ano que vem. Tivemos a ausência do Tijuca nessa temporada. Eu torço para que o Macaé mantenha seu investimento na próxima temporada. Mas acredito que a solução para o basquete carioca seja a volta dos times de futebol à modalidade, como o Fluminense, que teve sua vaga garantida no NBB, mas desistiu de disputar a competição. Com todo o respeito à maioria dos times do NBB, são os times de camisa que dão mais visibilidade ao esporte, que lotam os ginásios. Sei que o Fluminense, como outros, ainda não apoia o esporte olímpico como poderia, por não ter a Certidão Negativa de Débito. Mas torço para que em breve possam voltar a competir conosco de igual para igual. A grande desculpa que eu escuto é que os clubes não disputam as competições nesse momento por medo de sofrerem uma grande derrota quando enfrentarem o Flamengo em algum jogo.
Como o clube lidou com a falta de fornecimento de material esportivo para as categorias de base do basquete? Esse é um problema que já foi superado, ou você acredita que ele só será totalmente normalizado a partir do próximo ano?
Não posso negar que tivemos problemas com a Adidas. A normalização do fornecimento dos uniformes para as categorias de base do clube ainda não foi 100% resolvida, mas posso te dizer que esse problema já está 70% solucionado. A Adidas colocou muito dinheiro no clube no início do ano, mas não deu a atenção necessária às categorias de base do basquete. Notificamos a empresa em razão desse problema. Existe também a questão do uniforme branco do basquete. Pedimos à fornecedora que ele tivesse mais detalhes em preto, e que não ficasse restrito apenas ao vermelho e branco. Do jeito que está nesse momento, não parece uniforme do Flamengo. Esperamos que isso seja resolvido no próximo ano.
Após praticamente um ano da atual gestão, qual balanço você faz da realidade do esporte olímpico do clube, e o que ainda pode e deve ser feito?
Como falei anteriormente, a meta é conseguirmos os 20 % de arrecadação em cada projeto do Anjo da Guarda. Passo a passo, vamos tentar reestruturar o esporte olímpico do Flamengo. O clube não encerrou com nenhuma modalidade olímpica, apenas cortamos o investimento em algumas modalidades da categoria adulta. Só em 2013, o Flamengo já pagou 90 milhões em impostos e conseguiu certidões negativas de débito. Pagamos sete milhões de reais por mês em impostos. Esse ano de 2013 foi um ano difícil. Mas estamos terminando com boas perspectivas para 2014, e vamos financiar apenas as modalidades adultas que já temos. Ainda não é a hora de voltarmos a investir como antes, sem responsabilidade. Em 2013 plantamos uma nova filosofia, e 2014 é o ano para começarmos a colher os frutos para que em 2015 possamos voltar a ser uma referência dos esportes olímpicos no Brasil. Queremos voltar a ser referência olímpica através da Lei de Incentivo e de patrocínios, e não mais sendo dependentes do futebol. Essa é a nossa meta. Em 2014 temos um projeto via Lei de Incentivo ICMS para reformar a piscina olímpica do Flamengo, e, com a ajuda do Comitê Olímpico Norte-Americano, devemos ter obras nas estruturas olímpicas na Gávea. Esse intercâmbio também vai permitir que tenhamos mais atletas no judô e no tênis.
Fonte: Garrafão Rubro-Negro