Enquanto seu magnífico telhado de vidro é apedrejado, as portas e paredes da fortaleza do futebol brasileiro vão sendo derrubadas a golpes de picareta, liminares voadoras e cartas-bomba. Expondo ao mundo a realidade assustadora de seus subterrâneos mal cheirosos, suas tubulações clandestinas e suas ligações elétricas cheias de gatos.
Em meio à ruidosa demolição do condenado edifício em que coabita com seus coirmãos e, vá lá, algumas coirmãs, vai novamente o Flamengo pra pista. Sacolejar num busum Via Dutra afora para evangelizar os povos lá onde o rio faz a curva, unicamente em nome do charme da mulher carioca, digo, em nome do charme do futebol carioca. E, claro, também lutar para manter sua vaguinha no pomposo G4 do Campeonato Carioca. Que fase.
O time pra pegar o Volta Redonda será o mesmo que quebrou o tabu contra o Audax no domingo. A única modificação é que Rodolfo entra no lugar de Matheus. Uau! Agora sim, desde o ano passado que a torcida quer saber onde está Rodolfo. Nos blogs, sites e em todas as redes sociais a pergunta Cadê o Rodolfo? só perdeu em repetições e compartilhamentos para a trágica Cadê o Amarildo? Tomara que hoje à noite Rodolfo consiga mostrar no gramado do Raulino que a fama instantânea que conquistou após alguns jogos de uma Taça Guanabara é merecida. A torcida tá de olho.
De olho pela TV, porque um jogo desse naipe na quarta-feira depois da novela, no Raulino, é dose pra mamute. Se no Maraca já dá preguiça de botar a cara, imagina a 130 km do Rio? É programa exclusivo pra legionário ninja com especialização em sobrevivência na selva. Bato palma pra quem vai, é muito amor. Espero que os moleques se toquem da extensão do sacrifício de quem está lá ralando a bunda no cimento da cidadania e honrem o Manto.
No último post cornetei à beça o preço dos ingressos pro Carioca, que apontei como vacilo da diretoria e motivo número 1 pra nego não ir. Aí no dia seguinte os números, ah sempre esses malditos, destroem quase toda a minha teoria. Se liguem no que aconteceu lendo o texto da nota oficial que o clube soltou na segunda-feira:
A vitória em campo no domingo não foi o único resultado a ser celebrado pelo clube na estreia do Campeonato Estadual. Como se pode ver no borderô em anexo, a partida contra o Audax também apresentou outros números superiores ao início da temporada 2013. Neste primeiro jogo, o Flamengo teve o maior público da rodada (14 mil presentes), que superou a estreia do ano passado e também a média de público do time na competição (10 mil). Do total de torcedores no Maracanã neste ultimo domingo, apenas cerca de 10% eram sócios torcedores.
Além disso, a renda bruta no ano passado foi de R$ 188 mil, contra R$ 525 mil neste ano. Já a renda líquida contra o Audax foi de R$ 72 mil contra apenas R$ 22 mil na estréia em 2013. Outro dado a ser ressaltado é que, no último Campeonato Brasileiro, dos 11 jogos do Flamengo no Maracanã como mandante, três foram disputados diante do mesmo número de pessoas ou menor do total da estreia deste ano no Estadual.
Autor: Comunicação
Fonte: Site Oficial do Clube
Com os números contextualizados, ficamos sabendo que um público ridículo de 10 mil pagantes no Maraca na verdade não é ridículo. É o público médio que o Flamengo, Alegria do Povo, Titã das Arquibancadas, o Mais Querido do Brasil, costuma levar aos estádios durante nossa eletrizante competição rural. Essa é a verdade nua e crua. E ainda tem maluco querendo que o Flamengo construa um estádio pra 50 mil pessoas. Como se a cidade já não estivesse muito bem servida de estádios vazios.
Agora raciocinem comigo, se não há nada errado com a torcida do Flamengo, e sabemos que não há, se continuamos a ser a maior entre as maiores e a nos reproduzir como se fossem criminalizar o sexo heterossexual amanhã, como é possível que a média de público do Mengão Papaizão Severo Doutrinador Econômico e Povoador das Terras seja inferior à média de público da Feira de Tradições Nordestinas em São Cristovão?
Elementar, meu caro Watson, a torcida do Flamengo é grande mas não é otária. E, obviamente, não dá moral pro carioqueta. Nem nesse ano e nem em ano nenhum. Podem contextualizar, relativizar, amarrar no pé da mesa ou fantasiar de dominatrix esses números durante a noite inteira que na hora de ir embora eles dirão a mesma coisa que eu digo há anos com voz grossa e em roupas civis: o campeonato carioca já era, ninguém mais quer saber dessa droga. Será que vale a pena sacrificar nossa secular tradição de formador de multidões só pra manter felizes os miúdos? Eu acho que não vale.
Mas já que estamos nesse mico, the show must go on, que o Flamengo trate de voltar pra casa com três pontos, só pra manter a palhaçadinha em níveis aceitáveis. Mesmo porque é a última oportunidade que os moleques terão para brilhar e, quem sabe, beliscar uma vaguinha no time que vai jogar a Liberta. Dizem os bem informados que na terceira rodada do carioqueta, contra o perigoso emergente Duque de Caxias, o Flamengo mandará a campo todos os seus craques, que também precisam de ritmo de jogo pra enfrentar as feras nas cucarocholândias da vida.
Cada dia com sua agonia, podemos esperar até semana que vem pra nos preocupar com Libertadores. Por hoje nosso assunto é doméstico e corriqueiro. Ganhar do Volta Redonda é mais do que obrigação.
Fonte: Urublog