O Fla-Flu brasileiro no futebol e na política.

O Brasil vive, e não é de hoje, um imenso, e nefasto Fla-Flu.

O clássico mais charmoso do futebol nacional, aquele que nasceu 40 minutos antes do nada, segundo Nelson Rodrigues, virou sinônimo do que pode ser chamado de absoluta insanidade sobre os destinos do país.

Simplificando, o embate PT-PSDB no campo político reproduz o Fla-Flu do gramado, até pela proximidade das origens das quatro agremiações, uma nascida da outra ou vice-versa.

Briga de irmãos que se separaram e passaram a se odiar.

Comecemos pelo futebol, pelo embate mais recente que tem a Portuguesa como vítima maior.

Para quem vê como desproporcional a pena decidida para o erro da Lusa, sobram críticas dos dois lados, tricolor e rubro-negro.

E para quem aposta que houve corrupção no episódio, não resta dúvida: com carradas de argumentos lógicos, mas nem por isso verdadeiros, os tricolores acusam o Flamengo pelo mal feito. Já os rubro-negros, do mesmo modo, denunciam o Fluminense.

A racionalidade perde por goleada.

Quem defende a Portuguesa, se de São Paulo, é bairrista e ponto final.

Argumento de quem toma os outros por si mesmo, porque ninguém, nem mesmo um torcedor luso, ousaria comparar a grandeza e a importância de seu time à dos dois da dupla Fla-Flu.

Incomparavelmente mais grave, o episódio da morte do cinegrafista Santiago Andrade reproduz a insanidade, agravada pela colaboração da imprensa.

O Fla-Flu muda de campo e infesta o noticiário, os editoriais e as colunas da mídia.

Na busca de um bode expiatório, um deputado carioca, Marcelo Freixo, de trajetória limpa e corajosa, foi o escolhido.

Declarações mal postas assumem ares de verdade e, pior, são tratadas como tal.

Não notícias viram notícias e instala-se o clima para a festa dos pescadores de águas turvas dos dois lados.

Lembremos que aquilo que era atribuído à imaginação dos derrotados, como a colaboração dos Estados Unidos ao Golpe de 1964 no Brasil, hoje é História, assumida pelos americanos.

Lembremos, também, que quem denunciava a ditadura cubana estava certo.

Diante das críticas vindas de quem não aceita prato pronto de nenhum lado, sublinhe-se, de nenhum lado, ao menos, já há quem se explique.

Trata-se de inegável avanço.

Devido, no caso, a Caetano Veloso em sua coluna de ontem em “O Globo”, e ao editorial do jornal hoje.

Aleluia!

Que seja sinal — por indisfarçável pedido de desculpas, mesmo que com a arrogância que caracteriza todos nós, jornalistas — de uma nova postura daqui por diante e que seja seguida por todos, na política e no futebol.

O Brasil de hoje, depois de oito anos de FHC e mais oito de Lula, é melhor, com todos os seus problemas e desvios, que o Brasil de antes.

Deixemos que siga seu curso, sem envenená-lo.

A coluna de Caetano Veloso:

Freixo outra vez

Gosto de Freixo não porque ele é do PSOL. Acho que gosto um tanto do PSOL por ele abrigar Freixo.

Sou independente, conforme se vê. Ser estrela é bem fácil.

Nada importam as piadas dos articulistas reacionários que classificam minhas posições como Radical Chic. Desprezo a tirada de Tom Wolfe desde o nascedouro. Antigamente tentavam me incluir na chamada esquerda festiva. Isso sim, embora incorreto, me agradava: a expressão brasileira é muito mais alegre, aberta e democrática do que a de Wolfe.

Mas tenho vivido para desmontar o esquema que exige adesão automática às ideologias da moda.

Deploro o resultado das revoluções comunistas. Todas.

E, considerando o Terror que se seguiu a 1789, sou cético quanto a revoluções em geral.

Na maioria das vezes, a violência se dá, não para fazer a história humana caminhar, mas para estancar seu fluxo.

Olho com desconfiança os moços que entram em transe narcisista ao quebrar vidros crendo que desfazem a trama dos poderes.

Ainda hoje não consigo adotar a posição que considera Eduardo Gianetti, um liberal crítico, ou André Lara Rezende, o homem que põe em discussão o crescimento permanente, conservadores.

Nem acho que o conservadorismo seja necessariamente um mal. A adesão de alguns colegas meus à nova direita me deixa nauseado, não por ser à direita, mas por ser automática.

Simplesmente me pergunto qual exatamente será a intenção do GLOBO ao estampar manchetes e editoriais induzindo seus leitores a ligarem Marcelo Freixo aos rapazes que lançaram o rojão que matou Santiago Andrade. A matéria publicada no dia em que saiu a chamada de capa com o nome do deputado era uma não notícia. Nela, a mãe de Fábio Raposo, o rapaz que entregou o foguete a Caio Souza, é citada dizendo acreditar que o filho “tem algum tipo de ligação com Freixo”. Isso em resposta a uma possível declaração do advogado Jonas Tadeu Nunes, que, por sua vez, partiu de uma suposta fala da ativista apelidada Sininho. O GLOBO diz que esta nega. Como então virou manchete a revelação da possível ligação entre o deputado e os rapazes envolvidos no trágico episódio? Eu esperaria mais seriedade no trato de assunto tão grave.

Li o artigo do grande Jânio de Freitas em que ele defende a tese de intenção deliberada de assassinar um jornalista, o que está em desacordo com as imagens exibidas na GloboNews. Sem falar na entrevista do fotógrafo, que afirma que o detonador do artefato tinha mirado os policiais. Claro que me lembrei, ao ver a primeira reportagem na GloboNews, dos carros de emissoras de TV incendiados durante as manifestações, o que me levou a participar da indignação dos âncoras do noticioso. Um vínculo simbólico entre aquelas demonstrações de antipatia e o ocorrido em frente à Central é óbvio: um rojão sai das mãos de um manifestante e atinge a cabeça de um jornalista. Mas parece-me abusivo ver nisso o propósito de matar o repórter.

Nas matérias que se seguiram, O GLOBO, ecoando falas do advogado Jonas Tadeu, que diz não ser pago por ninguém para defender os dois réus mas conta que um deles diz receber dinheiro para ir às manifestações, insiste em lançar suspeita sobre Freixo, por ser o PSOL, seu partido, um possível doador do alegado dinheiro. Na verdade, as declarações do advogado, mesmo nas páginas do GLOBO, soam inconvincentes. O mesmo Jânio de Freitas, em artigo posterior àquele em que defende a tese de assassinato deliberado, se mostra desconfortável com o comportamento de Jonas Tadeu.

Já O GLOBO, no qual detecto uma sinistra euforia por poder atacar um político que aparentemente ameaça interesses não explicitados, trata as falas de Tadeu sem crítica. Uma das manchetes se refere a vereadores do PSOL que teriam contribuído para uma ação na Cinelândia, na véspera de Natal, sugerindo ligação do partido com vândalos, quando se tratava de caridade com moradores de rua. O tom usado no GLOBO é, para mim, de profundo desrespeito pela morte de Santiago.

Freixo, em fala firme ao jornal, desmente qualquer ligação com os dois rapazes. Ele também lembra (assim como faz Jânio) que Jonas Tadeu representou o miliciano Natalino.

Quando Freixo era candidato a prefeito, escrevi artigo elogioso sobre ele. O jornal fez uma chamada de capa que, a meu ver, desqualificava meu texto. Manifestei minha indignação. A pessoa do jornal que dialogava comigo me assegurou não ter havido pressão dos chefes. Acreditei. Agora não posso deixar de me sentir mal ao ver a agressividade do jornal contra o deputado. Tudo — incluindo os artigos de autores por quem tenho respeito e carinho — me é grandemente estranho e faço absoluta questão de dividir essa estranheza com quem me lê.

O editorial de “O Globo”:

O dever de um jornal

Se há algo a que os jornalistas estão acostumados é a contrariedade que a publicação de fatos negativos sobre pessoas, partidos, artistas, políticos, empresários gera naqueles que os admiram, respeitam e os têm acima do bem e do mal. O fenômeno é diário, e recebido pelo jornal como algo natural.

Essa contrariedade se expressa de diversas formas: cartas, e-mails, telefonemas e comentários em redes sociais. E até mesmo em colunas assinadas publicadas por colaboradores: como o jornalismo deve buscar a expressão livre de opiniões para que o leitor tenha diante de si uma pluralidade de ideias, é normal que colunistas divirjam do próprio jornal em que escrevem.

O episódio em torno do deputado Marcelo Freixo é um exemplo. Muitos criticaram a postura da imprensa em geral, e do GLOBO em particular, de publicar fatos que o tocavam diretamente.

No dia em que foi preso Fábio Raposo, réu confesso de participar diretamente da ação que resultou na morte do cinegrafista Santiago Andrade, Marcelo Mattoso, o estagiário do advogado que defendia o detido, disse duas coisas: a ativista Elisa Sanzi Quadros telefonara para ele e oferecera ajuda jurídica; e que, ao passar o telefone para o próprio advogado, Jonas Tadeu Nunes, este ouvira dela que o homem que atirou o rojão contra o jornalista “era ligado ao deputado Marcelo Freixo, do PSOL” e que o deputado estaria à disposição de Fábio. Ao telefone, a ativista avisava que estava indo à delegacia junto com outros ativistas para protestar contra a prisão. Tudo isso foi registrado, oficialmente, num termo de declaração prestado pelo estagiário na delegacia.

Logo em seguida, de fato a ativista e alguns colegas foram à delegacia. A primeira parte do termo de declaração, prestado antes de Elisa aparecer na repartição policial, estava confirmada. Um dos ativistas, Yan Carrazoni de Matos, chegou a ser agredido por um dos jornalistas ao dizer a ele e seus colegas que estavam de plantão na delegacia: “Tomara que vocês sejam os próximos” (os próximos a levar um rojão na cabeça). O que fez a imprensa e O GLOBO em particular?

Ligou para o deputado e relatou o ocorrido. O deputado primeiro disse que não sabia de nada e que só se manifestaria depois de ler o termo de declaração. De posse dele, decidiu gravar uma entrevista para a TV Globo, a primeira a procurá-lo. Na gravação, o deputado decidiu admitir que recebera um telefonema da ativista naquela manhã, solicitando assistência jurídica porque temia que o ativista preso fosse torturado. No telefonema, segundo seu relato, negou assistência jurídica, porque para isso existe a defensoria pública, mas concordou em agir para que torturas não ocorressem.

Por fim, negou ter dito à ativista que o atirador de rojão fosse ligado a ele. E prometeu processar a ativista e o advogado se insistissem nessa afirmação. Mais tarde, revelou que o advogado Jonas Nunes tinha sido o defensor de Natalino Guimarães, um dos líderes das milícias cujos crimes foram denunciados por ele quando presidia a CPI sobre o tema. Insinuou, assim, que o relato do advogado era enviesado.

A ativista, por sua vez, confirmou aos jornalistas que oferecera assistência jurídica e que telefonara para o deputado para pedir ajuda, mas negou ter dito que o atirador do rojão fosse ligado a Freixo. O delegado que cuidava do caso deu entrevista afirmando ter ouvido o telefonema e, por esse motivo, pedido ao estagiário para documentá-lo no termo de declaração.

A imprensa agiu corretamente. De posse de um documento oficial com uma narrativa grave como essa, num momento grave como aquele, ouviu todos: o advogado, a ativista, o deputado e o delegado. Parte do que a ativista disse ao telefone se confirmou: ela de fato compareceu à delegacia para protestar (e um de seus amigos ameaçou os jornalistas) e ela própria admitiu ter telefonado ao estagiário oferecendo ajuda jurídica e reconheceu ter telefonado ao deputado naquela manhã em busca de proteção ao preso contra maus tratos. Depois de dizer que não sabia de nada num primeiro instante, o deputado admitiu ter recebido um telefonema da ativista solicitando ajuda, mas negou envolvimento com o homem que atirara o rojão (desconhecido naquele momento).

O que faz um jornal diante disso? Omite os fatos na presunção de que o deputado Marcelo Freixo é um homem acima do bem e do mal? Mas esses homens, infelizmente, não existem. E, se existissem, nem eles poderiam ganhar da imprensa essa imunidade. O dever da imprensa é jogar luz sobre os fatos, não importando se atingem fulanos ou sicranos.

Confirmado que o telefonema existiu, e parte do seu conteúdo, não cabia ao jornal julgar se o trecho onde não havia coincidência de relatos era ou não verdadeiro (se o homem do rojão era ou não ligado a Freixo). O certo, ali, a obrigação da imprensa, era revelar a discordância e dar espaço igual para que todos a manifestassem. Inclusive destacando a informação de que o advogado Jonas Nunes fora o defensor de um miliciano. Isso foi feito, sem dúvida alguma.

O jornal não disse em momento algum que o deputado Marcelo Freixo era ligado ao homem do rojão, nem de forma alguma induziu seus leitores a acreditarem nessa versão. Seria absurdo e leviano, porque não há prova alguma sobre isso. Mas, certamente, o jornal foi leal com os leitores, publicando, com o destaque merecido, uma notícia, dando amplos espaços para que todos se manifestassem, o deputado principalmente. Agindo assim, foi respeitoso com a família do cinegrafista, interessada em tudo que lhe possa fazer justiça.

O que resta agora? Jogar mais luz no episódio. Acompanhar as investigações policiais, fazer investigações jornalísticas próprias para que, ao fim, a verdade apareça. Seja ela qual for. Jornalistas não são adivinhos: a verdade só aparece quando se expõem os fatos sem preconceitos.

Que essa atitude irrite os que admiram Freixo é absolutamente compreensível. Como dissemos, é um fenômeno cotidiano, e atinge pessoas de todos os matizes, origens, crenças e valores.

E não irrita O GLOBO. Ao contrário, ajuda-o a rever seus procedimentos e verificar se acertou ou errou. Como faz agora.

Fonte: Blog do Juca Kfouri

Coluna do Flamengo

Notícias recentes

Corinthians vence Fortaleza e avança na Sul-Americana; Flamengo segue de olho no adversário da Copa do Brasil

Corinthians venceu o Fortaleza por 5 a 0, no placar agregado Adversário do Flamengo na…

24/09/2024

Flamengo ‘muda nome’ de Gabigol e confirma jogador contra o Peñarol

Gabigol, que já foi Gabi, virou Gabriel Barbosa nos canais oficiais do Flamengo Fora dos…

24/09/2024

AGORA | Flamengo se posiciona sobre chance de Luís Castro substituir Tite

Tite segue como treinador do Flamengo até o final da temporada 2024 Luís Castro deixou…

24/09/2024

Ídolo do Flamengo revela ‘arma secreta’ para classificação contra o Peñarol na Libertadores

Junior acredita em virada do Flamengo na Libertadores, mas fez alerta sobre o Peñarol (URU)…

24/09/2024

Torcedores do Peñarol compram ingressos de setor para torcida do Flamengo em jogo da Libertadores

Peñarol (URU) disponibilizou dois mil ingressos para torcida do Flamengo O jogo entre Flamengo e…

24/09/2024

Ex-joia do Flamengo é dispensado de vice-lanterna da Série B do Brasileirão

Jorge, que surgiu como grande promessa do Flamengo, teve contrato rescindido com o CRB-AL Revelado…

24/09/2024