Ainda que distante do apelo popular de outros tempos, a rivalidade que move um Flamengo x Vasco faz da decisão a última chance de salvar um Estadual esvaziado. Quando o clássico começar, irá exibir apenas uma das faces do futebol do Rio. Se para os grandes a vida segue, o calendário continua e as aspirações de conquista são palpáveis, para os pequenos o desfecho do Carioca coincide com a explosão do desemprego e o início da luta pela sobrevivência.
Eles se dividem em dois grupos: os que disputam as Séries C ou D do Brasileiro e os que não têm competição no horizonte. Mas se unem num ponto comum. Terão que conviver com o prejuízo, desmontar elencos. Aos jogadores dispensados, restará a dura tarefa de se posicionar num mercado que encolhe durante oito meses do ano. Um drama que, aliás, não é exclusividade carioca. A realidade é nacional.
Quem for a Bangu nos próximos dias, não encontrará um time profissional treinando. O elenco que jogou o Estadual e terminou em décimo lugar, aos poucos, vem sendo desfeito. Durante o Carioca, era possível manter um grupo graças à cota de cerca de R$ 1 milhão paga pela TV.
Agora, resta ao clube apenas a Copa Rio, competição organizada pela Federação do Rio e que reúne clubes das três divisões do Estadual, a partir de agosto. O prêmio, uma vaga na Copa do Brasil. O custo, prejuízo jogo após jogo.
– Vários jogadores que estavam emprestados tiveram contratos encerrados. Outros, estamos tentando emprestar para disputarem a Série C do Estadual. Os que têm idade para os juniores, descem. Não ficamos com atleta nenhum. Quando os emprestados voltarem, formamos o grupo para a Copa Rio – conta Jorge Varela, presidente do Bangu. – Além da cota de TV do Estadual, buscamos parcerias para custear a folha do clube e os salários dos funcionários para o ano todo.
A diferença é que, após o Estadual, não há mais exposição. A Copa Rio acontece quase na clandestinidade. E nem sempre é simples reduzir a folha de pagamentos.
– O problema é encontrar o clube certo para emprestar um jogador. Tentamos encaminhar para clubes que jogam a Série C ou D do Brasileiro. Mas grande parte acaba não pagando o jogador. Estes times entram na competição na raça, no decorrer dela, não conseguem arcar com os custos – alerta Jânio Moraes, presidente do Nova Iguaçu, que também ficou com o calendário “vazio”.
Rebaixado no Campeonato Estadual, o Duque de Caxias tem vaga na Série C do Brasileiro. Longe de ser um consolo. Hoje, até as competições nacionais longe da elite são sinônimo de prejuízos.
– Não há nenhuma garantia de receita, só que os custos de alimentação, hospedagem e passagens são pagos pela CBF. Vou ter que mudar 80% a 90% do elenco. Trazemos jogadores para o Estadual com contrato de três meses. Estes vão embora. Os que têm contrato maior, tentamos emprestar. É ruim para todo mundo. É muito jogador desempregado – afirma Luís Carlos Arêas, presidente do Duque de Caxias, que recebeu R$ 1,1 milhão no Carioca. – No Estadual, tem cota de TV. Saiu dali, fica difícil.
Arêas e Jânio alertam para outro aspecto. Segundo eles, as dificuldades dos clubes em torneios como a Copa Rio ou mesmo as séries C e D do Brasileiro são um sinal de que a proposta elaborada pelo Bom Senso FC, entre elas uma Quinta Divisão com 430 clubes, seria inviável.
– Quem vai custear campeonatos de Quarta ou Quinta Divisão durante o ano todo. Falam: “o pequeno tem que jogar”. Mas quem banca o custo? – pergunta Jânio Moraes.
Situação peculiar vive o Resende. O prazo de validade do elenco atual tem relação direta com a participação do time na Copa do Brasil. Após o empate em 0 a 0 com o Vasco, em Manaus, resta o jogo de volta, em São Januário, no dia 16. Se for eliminado, restará ao Resende a Copa Rio.
– A redução de receita é muito grande, não é possível manter o elenco. Jogaremos a Copa Rio com um elenco enxuto, alguns jogadores serão emprestados. No ano passado, jogamos a Série D do Brasileiro e procuramos manter o elenco. Tivemos grande prejuízo – conta o presidente do Resende, Ricardo Tuffik.
Fonte: Blog do Mansur