Foi contra o Vasco, com gol impedido, no último minuto do segundo tempo. Tem sensação melhor? O flamenguista sabe que não. É sabido e esperado que numa decisão de campeonato, qualquer que seja ele, o time português reafirme sua fama de vice eterno.
A vitória e o título não foram surpresa para nenhum rubro-negro. Mas com a emoção oferecida pelo estufar da rede nos derradeiros minutos do jogo, quando os vascaínos empunhavam faixas de campeão estadual pela arquibancada, o campeonato estadual, cada vez mais insuportável e deficitário, devolveu a cada torcedor o sorriso perdido na cova do León.
Pode não ter sido um título de tanta expressão, mas garantiu o posto de hegemonia estadual, alguns milhões a mais nos combalidos cofres do clube e a certeza de não ser chacota nas rodas de amigos na segunda-feira.
Gostoso, mas perigoso. Perigoso por que a supremacia conquistada em certame com tão baixo nível técnico pode dar a falsa impressão de que está tudo certo para as disputas vindouras. Nada mais longe da verdade.
Os dois jogos finais, entremeados pela tragédia do “Maracaleonazo”, evidenciaram alguns problemas seriíssimos no atual elenco do Flamengo. O principal deles: a falta de um meia armador. Mugni, contratado para vestir a camisa dez, apesar de ainda estar em fase de adaptação é o único jogador da posição no elenco. Penso que deveria ter sido escalado mais vezes, principalmente nos últimos quatro jogos, quando era óbvia a lacuna entre defesa e ataque, tornando quase nula a presença de nosso artilheiro no ataque. Antes um especialista em adaptação ao monte de cabeças de bagre errando passes de meio metro.
Nossa lateral esquerda está órfã há anos e a sonolência e irresponsabilidade do André Santos não atendem nossa necessidade.
O sistema defensivo ainda não encaixou. Extremamente vulnerável, não se acerta nas bolas aéreas e, por insegurança e despreparo, seus jogadores cometem pênaltis desnecessários e parecem sempre presos ao gramado.
O meio de campo está acéfalo. O excesso de volantes peca nos passes curtos e perde no confronto com qualquer adversário, deixando-os no mano a mano com os zagueiros.
O ataque, veloz e até eficiente, carece de bolas. Elas raramente chegam e se a bola não chega, tem menos chance de entrar.
Somos campeões. O maior vencedor do Rio. Ótimo, vamos comemorar! Mas não nos deixemos iludir. O time é limitado e carente de jogadores à altura de nossas tradições em diversas posições. Não tem nenhuma condição de disputar o título brasileiro.
A situação deve ser encarada de forma racional. Estamos em fase de reestruturação. O foco está na redução do imenso passivo deixado pelas administrações incompetentes do passado e na reconquista da credibilidade. A cada ano, o pagamento do principal da imensa dívida e dos juros decorrentes dela faz com que aumente a capacidade de investimento do clube.
O sonho da Libertadores foi, mais uma vez, adiado. É preciso entender que ganhar o torneio sul-americano não estava planejado. O que é preciso planejar é o aumento de nossas participações, pois quanto mais participarmos, mais chances teremos de sermos campeões.
Sem ilusões, com os pés no chão e contratações pontuais e certeiras, nossa direção prepara o caminho para as grandes conquistas. Cabe a cada um de nós, torcedores, contribuir com confiança, fidelidade e grito na garganta. Na falta de onze craques, entramos com doze em campo.
Parabéns, Flamengo, pelo título. Foi gostoso demais. Diretoria, perigoso é achar que está tudo bem. O time precisa melhorar.
FLAVIEW