Libertadores distorce a realidade, mas o Flamengo não tremeu.

A Libertadores engana. A Libertadores ilude. A Libertadores é uma gigantesca lente de aumento através da qual pedregulhos dos mais reles assumem a dimensão de montanhas intransponíveis. Em outras palavras, a Libertadores distorce a realidade.

E é exatamente nessa capacidade de distorcer, nesse dom de iludir, que reside um dos maiores encantos da competição cucaracha. Que é transformar peladinhas de qualidade técnica análogas as do nosso carioqueta chumbrega em jornadas épicas, emocionantes e inesquecíveis.

Peguem o jogo de ontem. O Emelec é um timinho dos mais vadios, sem maiores recursos que o chutão pra frente e cruzamento no bolo. Mas sob a tal lente de aumento da Libertadores tornou-se adversário terrível encastelado na invencibilidade proporcionada por seu caldeirão.

Todo o entorno da partida constituía um ambiente propício ao nervosismo, ao destempero e à síncope cardíaca. Ainda mais para um Flamengo que entraria em campo não apenas precisando desesperadamente de um resultado, mas sob a ameaça real de uma eliminação precoce. Ameaça multiplicada pelo peso da nossa embaraçosa permanência de 32 anos na fila.

Mas mesmo assim o Flamengo não tremeu. Aliás, o Flamengo fez mais do que não tremer, o Flamengo propôs o jogo, ditou o ritmo da partida. Só por ter sido corajoso que o Flamengo foi capaz de encaixar a primeira jogada logo no começo, os famosos 4 passes certos, arrumou um pênalti e a vantagem no placar.

Foi a senha para que o Emelec partisse pra cima que nem doido. Para nossa sorte os emeleks são ruins de doer. Nem com aquele juizinho safado, que não expulsou o cara que meteu a mão na bola, só marcando falta pra eles, os caras conseguiam nos ameaçar. O Flamengo, mesmo nervosão, se segurou do jeito que deu.

E, que legal é a evolução, percebeu na hora que o filha da mãe não ia marcar nada enquanto não conseguisse compensar o pênalti dado contra os donos da casa. Não vimos ninguém do Flamengo de bracinhos abertos olhando com cara de coitado pro apitador depois de perder a bola.

O Flamengo poderia ter conseguido ampliar o placar se tivesse conseguido manter a bola mais tempo em seu poder. Mas parecia que a danada queimava os pés da nossa gente. Era evidente o nervosismo da rapaziada. Mas era perfeitamente justificável a afobação. Caceta, se nós mesmos, no conforto aconchegante de nossos sofás, estávamos nervosos, imagina os caras lá no meio do tiroteio.

No sufoco máximo, naquele perrengue no qual fomos forjados, o Flamengo foi se segurando. O tempo passava muito devagar e Jayme resolveu mexer no time. A maionese ameaçou desandar com a entrada de Recife. O moleque errou umas bolas na sequência e praticamente obrigou Welinton a usar seus talentos de jiu-jitsu em um dos poucos lances perigosos do adversário. Pênalti pros caras, incontestável.

Por incrível que pareça tomar o gol foi benéfico pro Mengão. Porque só com 1 x 1 no placar o maldito chileno parou de proteger o time da casa e deixou a disputa um pouco mais justa do ponto de vista da arbitragem. Nossos jogadores perceberam essa mudança e começaram a tentar diminuir a exagerada posse de bola dos equatorianos. Houve momentos em que o Flamengo parecia mesmo um time cascudo na Liberta, principalmente na hora de cair no chão e rolar de um lado pra outro pra quebrar o ritmo e arrefecer o ímpeto do adversário. Estamos aprendendo.

Não é preciso muita sinceridade para confessar que o 1 x 1 no placar nos satisfazia plenamente, era um ótimo resultado pra se conseguir na casa dos alemão. Depois da entrada de Chicão, Jayme, que conhece nossa molecada como poucos, matou vários gato-mestres com apenas uma caixa-d’água quando mandou entrar Negueba pra puxar contra-ataques. Sábia mexida.

Negueba entrou solto, confiante e cheio de gás. Implantou a correria, zoneou com o planejamento dos emeleks e realizou uma das suas melhores partidas depois que se profissionalizou. E pra cerejar o bolo arrumou lindo passe pra Paulinho, que matou a bola na categoria e a mandou no cantinho, no apagar das luzes. Como é bom vencer fora de casa! Agora tudo mudou. É no Maraca, nossa casa, que vamos resolver essa parada.

A vitória simples, ainda que não resolva a nossa vida na tabela, deu muita moral. Além de acabar cruelmente com o resto da semana da arco-íris invejosa e mal vestida, fez com que nós, torcedores, compartilhássemos com os jogadores uma sensação rara e deliciosa. Uma mistura de alívio e de orgulho, própria de quem voltou são e salvo de uma excursão à Lua.

Alguém duvida que se continuar jogando desse jeito o Flamengo pode ir muito mais longe?

Fonte: Urublog

Coluna do Flamengo

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