O Flamengo não é mole, nas horas mais graves, nos momentos mais decisivos do time, começam a pipocar assuntos desagradáveis e não urgentes de tudo que é lado. Nada de anormal. Sossego e tranquilidade sempre foram artigos raros na Gávea. Principalmente antes de jogos decisivos. Fazer o quê se existe uma cultura rubro-negra da dispersão, da falta de foco, que já está entranhada no tecido social da Nação? Fazer o quê se as manchetes buscam o Flamengo assim como a bola procura o craque? O Flamengo conforma-se, sorri para as câmeras e segue em frente.
Além dos rubro-negros praticantes do perigoso esporte do tiro no pé ainda temos que administrar os carentes de fama, relevância, reconhecimento ou simplesmente audiência que, aos magotes e espalhados pelo Brasil inteiro, sempre tentam uma abinha pra aparecer na hora em que o Flamengo é centro das atenções. Ou seja, é um problema com o qual o Flamengo tem que lidar mais ou menos uns 364 dias por ano. Mas nossas conquistas comprovam que estamos acostumados e que os problemas que enfrentamos no café da manhã fariam soçobrar 99% dos times da Confederação Arco-Íris.
Por ser essa zona que historicamente é, o Flamengo é reconhecidamente o clube mais brasileiro. E como todo brasileiro, deixa tudo pra última hora. Na Libertadores, que é ao mesmo tempo objeto do desejo (leia-se tara) da torcida, benchmark corporativo e tábua de salvação dos big players do futebol business em um ano em que já não teve Carioca e o Brasileiro já nascerá desmoralizado, não poderia ser diferente. O Flamengo não soube se destacar dos seilaquenzinhos do seu grupo e chega na última rodada no veneno, com a obrigação de vencer o jogo em que o adversário joga por um empate. Será puro tudo ou nada.
Esse sufoco não significa que o futebol que o Flamengo está praticando esteja muito distante da média cucaracha. Por enquanto ainda podemos manter a cabeça erguida quando o assunto for futebol ou fútbol. Dos 32 times que iniciaram a competição chegamos à ultima rodada com 26 deles classificados ou disputando a vaga e apenas 6 já fora da brincadeira. A causa dessa formidável embolação tanto pode ser entendida como o admirável equilíbrio da competição ou como a lamentável mediocridade da mesma. Seja lá qual for a causa, o Mengão está lá, imerso até o pescoço na areia movediça de nuestra latinidad. Mas doido pra pisar na terra mais firme das oitavas.
Vai ser difícil pra cacete, nem adianta se iludir com possíveis molezas. Os mexicos estão no páreo e vem pra arrumar um empate mixuruca e correr pro abraço. Mesmo jogando na nossa casa e sem fazer as contas arrisco dizer que as probabilidades estatísticas pró Flamengo não são maiores que a dos mexicos. E tem outra, o Flamengo não tem exatamente um bom histórico com times mexicanos. E muito menos com o Maraca lotado em jogos da Liberta com times mexicanos. O que isso quer dizer é que pro Mengão conseguir o que quer o desgastado cliché da superação dessa vez terá que ser mais que um cliché.
Para qualquer time do mundo a necessidade absoluta da vitória é um peso gigantesco. Mas esse sufoco traz recompensas embutidas, como, por exemplo, exigir a máxima entrega e forçar o time a jogar futebol ofensivo, o famoso futebol pra frente. Que é, basicamente, a receita tática de sucesso do Flamengo na imensa maioria de seus títulos e vitórias épicas ao longo da história. Lógico, não dá pra ser épico jogando lá atrás, esperando os alemão dar mole. Ainda mais o Flamengo, que se fez conhecido mundialmente pelo apuro no vestir, mas também pelo ímpeto, pela raça e pela volúpia pelo gol. Nunca soube jogar esperando os neguinhos vir pra cima.
Como já fomos assombrosamente sinceros sobre nossas desvantagens, vamos falar também das nossas vantagens. A primeira, que se sobrepõe acima de quaisquer outras vantagens que o Flamengo possa vir a ter, é a inimitável entidade filantrópica de utilidade pública sem fins lucrativos Torcida do Flamengo. Que é tão gigantesca, tão multitudinária, que apenas uma ínfima fração de seus integrantes pode comprar as entradas pro jogo. Resultado, tudo vendido, geral procurando ingresso. Está oficialmente bombado o MaracaNano.
Esses poucos eleitos é que vão formar o assustador paredão vermelho e preto que congela o sangue nas veias dos nossos adversários e ao mesmo tempo eleva a temperatura da retrofitada panela de pressão da Rua Professor Eurico Rabelo até o ponto ideal pra cozinhar os cucarachos. Mas isso é só uma parte do serviço, a linha de frente. No back office dessa mega-operação estarão 39.950 milhões de rubro-negros fechados com o certo fazendo a corrente e mandando aquela energia inexplicável que empurra as bolas pra dentro do gol mesmo quando não são chutadas. Uma vantagem bastante considerável em um jogo em que não temos alternativa à vitória. Além do mais, não podemos esquecer, que o cavernoso pico do Tudo ou Nada é a nossa praia preferida. Pra quem gosta dessa onda hoje está clássico.
Essa é a equipe do Flamengo pra hoje, os 11 em campo, os outros tantos no banco e no vestiário e os 40 milhões sem crachá espalhados no mundo. Essa é a equipe que fará a diferença. Rubro-negro, esteja onde estiver, não fuja ao chamado da Nação. O Manto, o Maraca, a Torcida, o Perrengue, todos maiúsculos, já confirmaram presença. Só falta confirmar o Flamengão Fuderosão Decididor Master dos Jogos de Vida ou Morte. E você é um dos responsáveis por faze-lo aparecer.
R.S.V.P.
Fonte: Urublog