Verdade que futebol não é uma disputa de orçamentos. E, a rigor, seria muito chato se, jogo após jogo, o mais rico vencesse. Mas a queda de três brasileiros na primeira fase da Libertadores obriga uma reflexão sobre o futebol que se joga no Brasil.
Porque Flamengo, Botafogo e Atlético-PR não caíram por acidentes, por aquela noite infeliz em que “a bola não entrou”. Foram dominados técnica e, o principal, taticamente. E por quem? Por rivais modestíssimos, de realidades incomparáveis às dos nossos clubes.
E ao longo do ano, quando as dificuldades surgiram e as limitações dos elencos se manifestaram, os dirigentes apontaram o dedo para as finanças. No Flamengo, o argumento tem sido a reestruturação que promete um clube mais forte no futuro. No Botafogo, penhoras e bloqueios de receitas por causa de dívidas antigas.
E é aí que os números nos ajudam a dimensionar o tamanho do desastre. E derrubar argumentos. Porque financeiramente, nossa crise doméstica é luxo quando comparada ao poder econômico do restante da América.
O Flamengo, por exemplo, tem previsão de receitas de R$ 340 milhões para 2014. O Botafogo trabalha com um número menor, R$ 160 milhões. E vejam bem para quem estes clubes perderam.
No grupo do Flamengo, o Bolívar, que terminou líder da chave e contra quem o rubro-negro somou apenas um ponto, prevê arrecadar apenas R$ 7 milhões ao longo de todo o ano. Parece surreal para os nossos padrões. É quase 50 vezes menos do que o Flamengo.
O Emelec perdeu os dois jogos para o Flamengo, é verdade. Mas foi dono da bola em parte do jogo do Maracanã e nos 90 minutos de Guayaquil. E tem orçamento de R$ 20 milhões para 2014.
Este blog não teve acesso ao orçamento do León. Mas há indicadores importantes. O America e o Chivas Guadalajara, maiores arrecadadores do país, têm receitas com direitos de TV e patrocinadores que somadas geram cerca de 35% a menos do que o Flamengo.
O Botafogo, por sua vez, foi eliminado ao ser derrotado inapelavelmente pelo San Lorenzo, da Argentina, por 3 a 0. O clube arrecada, por ano, cerca de R$ 45 milhões. O outro classificado, o Unión Española, contra quem o Botafogo só somou um ponto, arrecada R$ 11 milhões por temporada. Ou seja, mais de 13 vezes menos do que o alvinegro. Sem falar no Independiente del Valle, que venceu o Botafogo no Equador e deu sufoco no Maracanã, com seus R$ 10 milhões de receitas previstas para 2014.
Já o Atlético-PR foi eliminado pelo The Strongest, da Bolívia, time de receita prevista em não mais de R$ 7 milhões neste ano.
Não para por aí. Um estudo da Pluri Consultoria, antes do início da Libertadores, determinou o valor de mercado dos elencos dos 38 clubes participantes do torneio. Quarto colocado no ranking com um grupo de jogadores avaliado em R$ 148,7 milhões, o Flamengo caiu numa chave que tinha rivais bem “mais baratos”. O mais próximo era o León, nono na lista com um plantel de R$ 120,5 milhões. Depois, vem o Emelec, com R$ 90 milhões – décimo nono -, e por fim o classificado Bolívar, apenas o trigésimo quarto, com valor de mercado de R$ 32,9 milhões. Ou seja, o elenco do Flamengo vale quase cinco vezes o time boliviano.
O Botafogo, sétimo com R$ 143 milhões, foi derrotado por um San Lorenzo mais valioso, segundo o estudo: R$ 145 milhões, número que coloca os argentinos em quinto lugar. Mas o alvinegro perdeu também para o vigésimo oitavo, o Unión Española, que tem jogadores valendo R$ 41,8 milhões, menos de um terço do Botafogo. O Independiente del Valle, décimo sétimo, vale R$ 97,3 milhões.
Fonte: Blog do Mansur