São exatos 4 meses e 18 dias do título da Copa do Brasil até a vexatória eliminação na primeira fase da Libertadores, em pleno Maracanã. Faltou Elias? Contratações de peso? Padrão tático? Ou a mistura de tudo, que reflete os problemas do Flamengo antes mesmo da Copa do Brasil, competição marcada por dar um troféu, mas maquiar o planejamento falho de seus últimos vencedores?
Jayme sabia que era preciso mudar sem Elias. O time que jogava essencialmente na transição puxada pelo camisa 8, na direita ou centro do 4-2-3-1 que predominou em 2013, agora tinha que propor mais jogo, no mesmo desenho. Por isso Elano, Mugni e Éverton chegaram: opções de passe qualificado para o time não depender tanto dos avanços de Paulinho ou do ex-camisa 8.
Se manteve um desenho tático (o 4-2-3-1 não mudou), Jayme não conseguiu achar um time que apresentasse o equilíbrio tão desejado. Lesões, queda de rendimento (principalmente de Paulinho) e mudanças na hora do jogo explicam o vexame na Libertadores que nem a final do Carioca, contra o maior rival Vasco, parece amenizar.
Os 7 jogos antes da estreia na Liberta serviram para aperfeiçoar o sistema. Jayme percebeu que, com Elano na direita, o time perdia presença na área e fazia Léo Moura avançar muito. Muralha tentava, mas não dava velocidade na saída como Elias e colaborava para que o time acionasse pouco Paulinho e Carlos Eduardo, os meias do 4-2-3-1.
Para depender menos da saída dos laterais, Jayme colocou Éverton e puxou Elano para o centro. Queria velocidade nas pontas, mas a saída de bola ainda era lenta: Muralha saía, não encontrava um jogador para passar e o adversário contra-atacava. Resultado prático: 3×0 para o Fluminense.
Na estreia da Liberta, a expulsão de Amaral no início do jogo desmanchou os planos de Jayme com Mugni no meio, Elano e Éverton pelos lados, formação repetida no polêmico 2×1 no Vasco, com arbitragem desastrosa e amplo domínio vascaíno.
O mesmo problema de lentidão apareceria no primeiro tempo dos 3×1 no Emelec, novamente com uma nova trinca de meias: Mugni, Éverton e Elano atrás de Hernane. O primeiro tempo foi o reflexo dos jogos anteriores: Elano e Mugni recuavam para qualificar a saída e isolavam Hernane, que não recebia bolas ou cruzamentos.
No segundo tempo, Jayme faria uso da solução recorrente em 2014: lançar Gabriel, avançar a marcação e soltar os laterais para Everton e Gabriel inverterem e Elano acompanhar Hernane na área. A estratégia finalmente deu a velocidade que faltava nas jogadas e, com 2 gols, solucionou um jogo que parecia complicado no Maracanã.
Não por acaso Gabriel ganhou vaga nos jogos seguintes, inclusive os 2×0 nos reservas do Botafogo que asseguraram a Taça Guanabara: centralizado, o camisa 10 ganhou uma surpreendente boa atuação de Márcio Araújo na direita, reprisando o papel de Elano, mas com velocidade, e Éverton pelo lado do 4-2-3-1 que tinha ainda Luiz Antônio como opção no Carioca.
Mas as lesões e a queda de alguns jogadores minou o sistema que engatinhava para dar certo. Paulinho, por exemplo, admitiu que caiu de rendimento quando foi barrado contra o León. Muralha, Luiz Antônio, Cáceres e Araújo rodavam no time durante o Carioca. O time ainda não tinha o equilíbrio que Jayme desejava.
Hora de se voltar para a Liberta, mas os desfalques nas laterais obrigaram Jayme a improvisar Paulinho, que levou um baile nos 2×2 com o Bolívar que impediram o Fla de virar líder. Mais uma vez, um primeiro tempo muito lento, com marcação facilitada pela saída de bola. E um segundo tempo de abafa com Alecsandro, Paulinho e Carlos Eduardo que fizeram de defesa prato fácil ao time boliviano.
No jogo de volta, atuação ruim em La Paz com o “resgate” de Amaral e Carlos Eduardo, que saiu no segundo tempo. Ficava clara a dúvida: Jayme não sabia se mantinha uma linha que se movimentasse com velocidade atrás de Hernane (Éverton, Gabriel e Paulinho), ou meias mais estáticos jogando para o apoio dos laterais (Elano e Mugni.). Talvez por isso rodou tanto a formação.
Nas semifinais contra a Cabofriense, Jayme novamente parecia ter achado a fórmula certa: Mugni cuida da armação pelo meio (como ele quer), Paulinho dá profundidade pela esquerda e Luiz Antônio (e depois Gabriel) ajuda no apoio de Digão (ou Léo Moura), nos 3×0 e 3×1 que pareciam mostrar um time para o milagre nos dois jogos da competição continental.
Surpresa do Cariocão, o teste com a Cabofriense não era de se jogar fora. Quando o mais lógico seria seguir com Mugni, Paulinho voltando a entrar em facão e Gabriel na direita, Jayme mudou: colocou Éverton para dar velocidade e o “milagre” contra o Emelec escancarou os problemas defensivos do time, com Welinton improvisado na direita (Léo Moura e Léo lesionados) e linhas distantes.
Com tantas mudanças, o time começava a se ficar muito desorganizado. Não era raro ver um volante cobrindo um lateral, que ia caçar um adversário no meio. Típica desordem de um time que não têm sequência e o entrosamento custa a aparecer – como acertar as jogadas sendo que não se conhece o jogador mais próximo?
Não foi a toa que o Léon explorou a jogada aérea no “Maracaleonazo”: a falta de coordenação de um time vem das muitas mudanças nos 11 iniciais e nos poucos treinos. A ausência de setas no campinho é pra demonstrar isso: o Flamengo, contra o León, não teve coordenação ofensiva e principalmente defensiva. Por isso os gols do León saíram pelo alto, ou por falha de marcação no lado.
Jayme teve muitos problemas para montar o time: lesões, jogadores que caíram bruscamente de rendimento e a chegada tardia de Márcio Araújo, o substituto de Elias. Várias vezes, treinava um time e mandava outro na hora do jogo. Mas também demorou a se decidir.
É hora do Flamengo se voltar aos problemas que nunca deixaram de existir: jogadores caros que não renderam o esperado, a preparação física que enche o DM desde 2013 e as lacunas no elenco, que tem bons nomes, não equilíbrio. Ou o sufoco de 2010 e 2012 pode voltar a ser realidade.
Fonte: Painel Tático