Se em 2012 o futebol brasileiro vivia boas perspectivas financeiras e celebrava contratações de impacto como Seedorf, a temporada de 2013 ligou o sinal vermelho para os clubes. O crescimento nas receitas em relação ao ano anterior foi de apenas 6%, o pior desde 2003, e os gastos com futebol aumentaram, levando os clubes a um déficit e a um aumento de 4% nas dívidas anuais. Os dados são de um levantamento realizado pelo consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi, que teve como base o balanço financeiro publicado por 13 clubes – o Atlético-PR não foi incluído por não divulgar seus números.
O Flamengo encabeça a lista dos maiores devedores, com R$ 757,4 milhões no total, mas vai na contramão dos outros clubes. Ele reduziu seus débitos em 6% em relação a 2012, queda menor apenas do que a do São Paulo (8%). Fluminense e Palmeiras também buscaram sanear suas finanças em 2013, apresentando uma diminuição das dívidas. O Botafogo, segundo colocado, apresentou um aumento de 6%. No Vasco, terceiro, o número foi 21% maior.
– As dívidas tiveram um aumento de apenas 6% em 2013, mas os clubes apresentaram novas dívidas de 2012 no balanço de 2013. Assim, o crescimento de 2011 para 2012 é de 28%, e nos últimos três anos, é de 35% – explica Amir Somoggi.
O aumento das dívidas teve dois grandes vilões: o Cruzeiro, campeão brasileiro, viu seus débitos crescerem em 40% de 2012 para 2013 e precisou vender o atacante Vinícius Araújo para ganhar um respiro financeiro. O Grêmio, vice-campeão, teve um aumento de 47%, em contraste com a diminuição da dívida em 2012.
O Tricolor gaúcho também teve um dos maiores déficits da temporada, pois gastou R$ 51 milhões a mais do que arrecadou para bancar um time com jogadores como Elano, Zé Roberto, Kléber, Eduardo Vargas e Barcos. Em 2014, anda na direção contrária, faz cortes no orçamento e tenta compensar essa perda com vendas de jovens como Ramiro, Wendell e Bressan.
– Foi um ano de excesso de gastos. As receitas dos clubes cresceram pouco, mas o dinheiro investido no futebol aumentou muito. Um exemplo é o Botafogo, que investiu muito para contratar Seedorf e agora tem um déficit de mais de R$ 80 milhões. Acho que 2014 é o ano de pagar a conta dessa gastança – analisa Somoggi.
No levantamento, essa realidade fica mais clara. Os gastos dos clubes com o departamento de futebol aumentaram em 23% e atingiram R$ 2,07 bilhões, contra R$ 1,6 bilhão de 2012. Um crescimento quase quatro vezes maior em relação ao aumento da receita. Os motivos foram as contratações caras, que inflaram a folha salarial dos clubes.
O Botafogo, que aumentou seus gastos com o departamento de futebol em 71% em 2013, tem o maior déficit entre os clubes analisados. Dos 13 balanços, apenas o do São Paulo, com lucro de 28%, e o Corinthians, com 1%, arrecadaram mais do que gastaram em 2013.
– Os clubes brasileiros acreditavam que estavam ricos, falou-se até de patamar europeu. Mas bastou um ano de desaceleração para mostrar que a realidade não é essa – completou Somoggi.
Fonte: GE