Samir e Wallace observam Ney Franco de longe. |
Well…..não tá fácil a vida de flamenguista. Escrevo, é óbvio, antes do último jogo pré-férias, aquele que quando a tabela foi divulgada todo mundo olhou e falou, “ah, esse aqui a gente deve perder, mas tudo bem, ninguém é campeão invicto mesmo”, só que a situação é tão desesperadora que é recomendável ganhar do Cruzeiro.
Não sei se já se tocaram que nossos vizinhos da Zona maldita jogam em casa contra adversários sem grife. E uma não tão improvável vitória deles 3, combinada com uma derrota nossa pode nos deixar não apenas na Zona em que já estamos, mas na vexatória lanterna do campeonato pelo longo recesso.
Sei que é difícil manter a serenidade e o bom humor, mas só nos resta ser propositivo e manter a fé inabalada. Quem sou eu para dar sugestões ao Ney Franco, ao X-MENes e para tanta gente inteligente que comanda nosso destino, mas como o meu negócio é falar com torcedores, vou aproveitar o espaço que o patrão Mulamba me cede 1 vez por semana para dialogar com os leitores uns temas que talvez sirvam para a gente recuperar a esperança que nos move. A eles, portanto:
I – Padrão Tático
Faz tempo que o time é desorganizado taticamente. O grande exemplo de como a tática faz a diferença é o Atlético de Madri, a equipe mais surpreendente deste ano, que com jogadores não tão badalados, deixou escapar a Champions no instante final, mas sem apagar o brilho do time. É emocionante ver como as linhas defensivas do Atlético jogam compactadas, dando ao adversário um espaço mínimo para construção de jogadas de ataque.
Todos nós, flamenguistas, nos acostumamos a ver e desejar um time com muita ofensividade e entrega, mas tenho a impressão que o caminho agora vai no sentido inverso: mais do que nunca, precisamos melhorar a consistência defensiva. O Flamengo de 2014 cede muito campo ao adversário, ignora a ocupação de espaços que é a tônica do futebol moderno.
O que o Ney precisa fazer é construir um time muito difícil de ser batido, que desgaste os adversários e possa se aproveitar das características de velocidade que temos no elenco, como Paulinho, Everton, Negueba, Gabriel. Eu sei, eu também gostaria de citar outros nomes, mas são esses que, até segunda ordem, o Ney tem para escalar.
Portanto, fecha o time, aguenta a ladainha das críticas pela opção defensivista e confia nos contra-ataques. Com o que temos hoje, não temos condições de propor o jogo contra praticamente ninguém e a nossa preocupação maior deve estar em não perder. Dureza…
II – Contratações
Goleiros – A torcida está de mal com o Felipe, mas ele é um goleiro que dá para o gasto. Não é espetacular, mas não é um frangueiro crônico. Seu reserva, Paulo Vitor, é do mesmo nível, vai bem às vezes, mal outras (como, por exemplo, contra o Figueirense, quando entregou o gol de empate instantes após termos aberto o placar e mudou o panorama da partida). E ainda tem o Cesar, uma grande promessa. Eu pouparia dinheiro e não traria ninguém. Mas se for para trazer, que não seja alguém que vá custar os olhos da cara, como Julio Cesar.
Zagueiros – Eu acho que os que estão lá cumprem bem o papel. Samir é uma grande revelação, Wallace se destacou e tem liderança, Chicão também é regular. Eles precisam de mais proteção, só isso. E laterais mais participativos, próximo item.
Laterais – Nosso pior setor, disparado. Quem quiser pode dar uma olhadinha no site FootStats, que mostra o mapa de calor de Léo Moura e André Santos. Há jogos onde eles ficam simplesmente parados, enquanto os mapas de calor dos adversários que atuam por seus setores mostram intensa movimentação. Isso sobrecarrega a defesa e retira a capacidade ofensiva do time. Léo Moura é querido pela torcida e ainda tem lampejos. André Santos, ao contrário, é insolente, antipático, fora de forma e símbolo desse Flamengo caindo pelas tabelas, acertando, no máximo, algumas assistências. Antes de qualquer coisa, eu traria laterais. Se não trouxer, escalem Digão, João Paulo, juniores, seja lá o que for, mas é preciso ter gente que ao menos se movimente.
Volantes –Outro setor que não vai bem. Amaral não é mais o cão de guarda dos jogos da Copa do Brasil, Cáceres sofre com seguidas contusões, Muralha ainda não disse a que veio, Marcio Araújo se esforça, mas não dá conta do recado. A grande verdade é que nossos volantes sobrecarregam o trabalho da zaga, já consumida pela ineficiência defensiva dos laterais. Seria bom encontrar alguém que desse mais segurança. Ou ver se os treinamentos melhoram a performance dessa gente.
Meias –Bom, não preciso nem dizer, né? Luis Antonio quase sempre inútil, Elano é uma piada de mal gosto (porque custa caro), Mugni certamente jogou pedra na cruz, porque vive um fenômeno curioso, a torcida tem paciência com ele, quem não tem são os treinadores. Everton vive machucado e ainda não se destacou como se esperava. Gabriel não chega a ser meia, mas pode ser uma alternativa, seu problema é a parte física. Mattheus não passa credibilidade. É urgente trazer um meia, mas não me venham com gente cara e de futebol incerto, como parece ser o caso do Montillo, cuja última boa atuação foi em 2010, quando Elano era craque também.
Ataque – Volta, Hernane. Sempre gostei do Brocador, mas não imaginava a sua importância para o time. Paulinho segue veloz e útil, mas é horrível nas finalizações, Negueba é tão rápido quanto atrapalhado, Alecsandro é exatamente o que se previa, poucos gols e sem brilho, Nixon e Igor seguem no campo das promessas. É outro setor que merecia um investimento.
Somando tudo, dá para ver que o elenco é ruim, porque nada está encaixando direito. Eu traria 2 laterais, 1 volante, 1 meia e 1 atacante. O resto, vamos com o que temos.
III – Férias
Vou remar contra a maré. Sou a favor da manutenção das férias.
Esse desejo de cancelar vai ao encontro de uma inspiração vingativa e punitiva, no estilo “seus vagabundos, deixaram o time na 2a divisão, agora vão treinar para aprenderem que isso aqui é Flamengo”. Só que isso só vai servir para irritar os jogadores, que bem ou mal devem ter feito seus planos e terá poucos ganhos práticos, já que o clube não se programou para esse ciclo de treinamentos, que seria feito todo de improviso. O que menos precisamos agora é de improvisos. Ou de jogadores insatisfeitos, porque é com eles que se deve contar.
IV – Fé
Ela não costuma falhar. São muitos anos nessa pasmaceira de lutar contra o rebaixamento. Eu adoraria que isso tivesse ficado para trás, mas é uma sina que não nos larga. Sempre costumamos escapar, graças a uma combinação de reforços, apoio da torcida e, sempre, os Inexplicáveis Poderes do Manto. Vamos com eles, mais uma vez.
Que venha a Copa. Não vou ficar debatendo se é bom ou ruim ter a Copa. Só garanto que para o Flamengo, nas lamentáveis condições que nos encontramos, a Copa do Mundo é a tábua de salvação que nos faltava. A parada pode servir para refletir sobre tudo o que foi feito de errado e tentar, escapar, mais uma vez.
Walter Monteiro
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