Caindo na real.

Lembro como se ontem fosse, as sensações que na infância acometiam aquela inocente criança. Passados os rápidos dias de pura diversão irresponsável, os brinquedos eram minha única preocupação e a alegria de dormir até mais tarde no dia seguinte, total motivação.

O último dia de férias sempre foi uma mistura de sentimentos incompletos e antagônicos. A tristeza de ver o improviso virar rotina, o sono rompido pelo som estridente do despertador dividiam meus sentidos com a esperança de conhecer novos amigos, ganhar mochila e uniformes novos, sentir o cheiro delicioso da capa nova dos livros recém impressos.

Quando, por algum motivo, problemas de limitação orçamentária familiar obrigavam-me a começar o ano letivo usando roupas usadas, mochila antiga e lápis pela metade, era acometido pela abrupta vontade de querer parar tudo e voltar para o primeiro dia da alegria das minhas férias.

Encarar a realidade monótona das aulas insuportáveis de Cultura Clássica, cercado pelas mesmas pessoas, usando a mesma mochila velha e tendo de forçar a ponta do grafite no papel para tirar as palavras da ponta daquela peça usada de madeira me dava saudade.

Um mês de sonhos. Fazer o que queria, dominar o tempo, brincar com a vida. Ah, se fosse sempre assim …

Irônico, quase trinta anos depois, ter de volta o sentimento que era da minha infância. A escola já não é mais o cenário. A mochila não renovo todo ano, mas isto já não é importante. No lugar do lápis, a lapiseira, muito mais gostosa de usar.

Foram dias de grandes espetáculos. Os maiores craques do mundo desembarcando nos aeroportos inacabados, cheios de improviso, como nas brincadeiras de antigamente. Um clima contagiante de festa espalhado pelo país do Norte ao Sul do imenso e diversificado território.

Jogos ótimos, outros nem tanto. Povos de todas as origens, raças, credos e culturas misturados em arenas em que pátrias de chuteiras travam embates memoráveis pela hegemonia do esporte que imita a vida.

O tempo de descanso fez quarenta milhões de torcedores especiais ansiarem pelo retorno ao seu ofício. Promessa de mudanças, novidades e o fim de um primeiro semestre frustrantemente monótono.

Quinze dias depois, a verdade nua e crua. Aos que acordaram cedo para conhecer as boas novas prometidas, a boa e velha mochila usada. Mesmos colegas, mesmo lápis, mesma sala. Em breve a magia dos toques geniais de Messi, Hobben e Neymar, o desfile de jogos e estratégias cativantes, estádios completamente lotados, cores, gritos e danças curiosas e inovadoras darão lugar ao jogo acinzentado e monótono do campeonato brasileiro de futebol.

O time que tirou férias volta igual. Na gávea, Sneijder e Van Persie, dão lugar a Alecsandro e Elano. As novidades? Um belo gramado, lembrança do período de férias, Thomás e Vinícius Pacheco. Escreveremos com lápis velho em caderno novo.

Falta dinheiro, dirão os responsáveis pelas mochilas novas. Enquanto isso, jogadores historicamente impossíveis para o Flamengo, como Kleber Gladiador e Giuliano, desembarcam com facilidade e naturalidade invejáveis em dois clubes igualmente asfixiados financeiramente: Vasco, aquele que joga na segunda divisão, e Grêmio, devendo tanto que namorou a bancarrota no fim do ano passado.

Sem material novo, só me restava o empenho. Estudar em dobro para tirar boas notas, entrar para a melhor faculdade, arrumar o melhor emprego e, esperava-se, poder comprar o lápis novo todo ano para os filhos.

Vai ser chato, sofrido talvez, mas nós, torcedores, devemos fidelidade e amor ao clube que moldou a referência de felicidade em nossas vidas. Vamos de mochila velha, mas vamos juntos. O futuro nos reserva dias melhores.

Bem-vindo de volta, Flamengo!


FLAVIEW
Coluna do Flamengo

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