Em meio à Copa, é importante refletir sobre o futebol brasileiro e a situação do Flamengo é um bom ponto de partida. O único clube hexacampeão brasileiro, com a maior torcida do mundo, que nunca foi rebaixado em sua história, estaria na série B se o Campeonato Brasileiro terminasse hoje.
O Zico, um exemplo de atleta e cidadão, cuja importância para o Flamengo e o Brasil não se discute, outro dia declarou à Radio Globo que é mais importante para o clube pagar suas dívidas do que ficar na primeira divisão. Isso não existe! O objetivo de um clube é ganhar títulos. Aliás, se cair, aí mesmo que não consegue fechar suas contas.
Diferentemente de qualquer empresa, onde os acionistas esperam a distribuição de dividendos, os sócios e torcedores de um clube esperam nada mais, nada menos, que um bom desempenho. Enquanto estava na presidência do Flamengo, conquistamos 53 títulos. Nem sempre os salários estavam em dia.
O desempenho dos jogadores não se resume aos seus vencimentos. O Zico, por exemplo, jamais jogou no Flamengo apenas por dinheiro, embora nunca tenha deixado de receber seu salário.
Hoje, a maior parte da dívida dos clubes é com o governo, mas alto lá! Será que o Governo pode cobrar alguma coisa dos clubes?
Quando criou a Timemania, o governo convenceu os clubes a confessarem dívidas que não tinham, prometendo arrecadar no mínimo R$ 520 milhões por ano com a loteria. Os clubes fizeram a sua parte, o Governo não fez a dele. Prometeu e não cumpriu! Agora pode cobrar dos clubes como se essa dívida não fosse sua responsabilidade?
Os clubes sofrem com um modelo de concentração de riqueza na CBF e nas federações, que fazem coro com o governo criticando a gestão dos clubes, mas quem são eles para cobrar boa gestão de alguém?
Aqui no Rio, por exemplo, saem fragilizados da Copa por uma ação deliberada do governo do estado para favorecer a Odebrecht com a privatização do Maracanã, cujo edital proibia a participação dos clubes de futebol na administração do estádio.
Em 2007, o Flamengo tinha todas as autorizações e licenças para construir seu estádio de 30 mil lugares na Gávea, ampliando suas instalações e expandindo a sede social com lojas, cinemas, restaurantes, espaço para eventos e estacionamento para 1.836 carros, que funcionaria independentemente dos dias de jogo. O governador Sérgio Cabral revogou a autorização que o Flamengo havia recebido de sua antecessora, deixando o clube refém da Odebrecht no Maracanã.
Em tempo, em 2008, Flamengo, Fluminense e CBF assinaram protocolos e investiram em estudos de viabilidade para remodelagem e reforma do Maracanã, que custaria R$ 600 milhões sem nenhum investimento público.
O governo do estado preferiu excluir os clubes e gastar cerca de R$ 1,3 bilhão na obra do Maracanã. Agora, o torcedor do Flamengo, que é maioria em todas as classes sociais, sofre com o preço dos ingressos no Maracanã e não tem nenhuma opção, já que o governo ainda mantém o Engenhão fechado para garantir o monopólio da Odebrecht.
E ainda tem gente que acha que os problemas estão só nos clubes.
Fonte: Coluna do Márcio Braga