Eu esperei passar a reapresentação e 1ª semana de treinos antes de falar sobre essa retomada de trabalho e perspectivas para o 2° semestre. Ainda é cedo para falar de contratações ou dar prognósticos fatalistas como o famoso “não vai vir ninguém”, por isso me limitarei a falar de um problema muito mais grave que é a ausência de uma barca de saída.
Em dezembro os integrantes da Chapa Azul fizeram uma série de reuniões para sócios e deram entrevistas para o André Tozzini na TozzaCam, o discurso era afinado e pregava uma série de diretrizes nas quais acreditamos, porque ia contra todas as práticas viciosas dos dirigentes do Flamengo nas últimas décadas. Austeridade, profissionalismo e meritocracia eram os pilares que regeriam inclusive o futebol, no entanto, como acontece sempre na política brasileira, o discurso foi totalmente diferente da prática.
Se em outros departamentos temos vice-presidentes que apitam pouco e diretores que comando os departamentos, como é o caso de sucesso dos esportes olímpicos, no futebol nada mudou. Se na administração de Patrícia mandavam no futebol Coutinho e Levy, na administração Bandeira de Melo mandam Bap e Wallim, o diretor seguiu sendo o gerente de futebol, só trocaram Zinho por Pelaipe, dono de um currículo extremamente amador e com ausência de vitórias expressivas ou boas campanhas.
O resultado de todo o amadorismo e incompetência foram planejamentos completamente equivocados para 2013 e 2014. Ex-jogadores em atividade chegaram por uma fortuna e ganhando um salário altíssimo, mesmo com histórico recente de problemas e reserva em seus clubes anteriores, fora a extensa ficha médica de Elano e Carlos Eduardo, como podemos então dizer que o futebol é austero? Pagar mais de meio milhão para Carlos Eduardo, mais da metade dessa quantia para jogadores como Chicão, Léo Moura, André Santos e Elano é algo que saneia as finanças? Não faltou dinheiro ao futebol (o Flamengo tem a folha salarial compatível com as dos times do G4) e sim sabedoria no seu emprego.
Não irei entrar na discussão das contratações com sombras de suspeita como a de Gabriel (investigada pelo ministério público da Bahia), Carlos Eduardo (que recebia seu salário dividido em 5 partes pagas a 5 contas de pessoa jurídica), ou ainda de André Santos que cedeu 50% dos direitos ao Flamengo, que não divulgou o quanto isso custou, ou a compra muito estranha do Éverton com o Carlos Leite como “intermediário” (mesma situação da compra do Gabriel).
Se a austeridade aparece nos discursos só quando interessa, a meritocracia nem é mencionada para não haver questionamentos. Bonificação por conquistas e metas plausíveis alcançadas é meritocracia, dar bicho para conseguir 4 pontos em 12 possíveis num campeonato brasileiro não é meritocracia e sim se sujeitar aos desmandos de jogadores, se colocar como refém das velhas práticas das gestões anteriores tão duramente criticadas. Para ser clara, considero bonificação estabelcer a meta de terminar o 1° turno no G4 ou com uma diferença pequena de 2 ou 3 pontos pro G4, finalizar o campeonato no G4 ou como campeão (quantias diferentes, claro), além de bônus simbólicos por passar de fase nas competições mata-mata como Copa do Brasil e Libertadores, pro estadual bônus apenas se for campeão.
Só para ilustrar o exposto acima, em 2013 a diretoria pagaria 1 milhão a cada 10 pontos conquistados em 15 possíveis no início do 2° turno, aumentando ainda mais a quantia no final do ano quando cada ponto valia 100 mil reais, com uma divisão proporcional dando mais a quem estava em campo. Aliás, alguém aí lembra da escalação desnecessária do André Santos no último jogo que quase rebaixou o Flamengo? Além do bicho, sabemos que o Flamengo tem feito desde a administração Patrícia contratos que tem parte da remuneração variável de acordo com o número de jogos disputados no mês.
Por fim, o motivo final pelo qual chamo a todos nós de otários: Mesmo depois de tudo que vimos desde que a atual administração assumiu, acreditamos que a retirada estratégica de Wallim e a contratação de Ximenes fosse mudar o departamento de futebol. Quem aí não ficou esperançoso com as barrações de Felipe, André Santos e Elano? Nenhum dos três estourou o limite de atuações no campeonato brasileiro e podiam ser negociados. Além disto, houve o famoso vídeo do esporro do Ximenes no time após a derrota humilhante contra o Cruzeiro, flagrada pela ESPN. Quem aí não acreditou que o time voltaria diferente, sem as frutas podres que contaminam o grupo?
Eu acreditei que algo diferente poderia acontecer. Haviam interessados em Felipe e Elano, não vi notícias sobre André Santos e Léo Moura, mas todos deveriam estar fora do elenco do Flamengo na reapresentação! Se não desse pra vender, emprestasse, mesmo que precisasse pagar uma parte dos salários, se o jogador fizesse birra e não quisesse sair, rescisão pra quem tem menos de um ano de contrato como Léo Moura e afastamento para os demais, indo treinar na gávea em separado até o fim do contrato.
Alguns dirão que isso causará prejuízo, que não dá para rescindir com jogadores assim… blá, blá, blá. Bem, se rescindiram com Ibson e Alex alegando que ganhavam muito e não produziam de modo correspondente, o mesmo pode ser usado para a dispensa dos citados acima, aliás, o mesmo argumento da dispensa do Renato Abreu também pode ser usado. Todos os jogadores citados fazem mal ao grupo, mais do que a ineficiência técnica e a displicência em campo que têm afetado o desempenho do time nos campeonatos desse ano, há o movimento que não aparece, o pouco caso dos jogadores com a situação do time, o jogar para derrubar treinador ou arrancar um bicho, resumindo: os jogadores se portam como donos do time, tudo que o Bap prometeu que não aconteceria como o vídeo abaixo demonstra.
É claro que não contratar jogadores pode comprometer o campeonato brasileiro, mas muito pior é manter a turma de “donos do time”, as frutas podres, por isso dar o recado de que os jogadores podem fazer o que quiserem e ainda continuarem titulares, faz com que os que cheguem se acomodem sabendo que serão escalados pelo currículo, os novatos se desestimulem por saber que não ganharão espaço se não forem da panelinha, além de estragar os garotos da base como vimos acontecer com Luiz Antônio (amiguinho de Léo Moura) e Muralha (desceu ladeira abaixo ao se aproximar de Ronaldinho). Um time de jogadores esforçados, mesmo que limitados tecnicamente, pode alcançar bons resultados jogando motivados, obedecendo há um bom esquema tático, não precisamos de “pseudo-craques”, jogadores que foram muito bons há 4 ou 5 anos atrás e que não conseguem jogar bem há 1 ano ou mais, sequer precisamos de meio time de jogadores experientes, basta 2 ou 3 como o Chicão e Wallace, compondo uma linha de 3 zagueiros com Samir por exemplo.
Estou cansada de ver o Flamengo refém de jogador, não aceito rebaixamento de modo algum, pois ele não será fruto de falta de dinheiro e sim de sucessivos erros de planejamento, de manutenção da incompetência com fins políticos e afins. Não deixemos a atual administração continuar nos fazendo de otários, não nos amansemos com a Copa do Mundo, não nos deixemos levar por discursos vazios, pois a própria prática vigente os desmentem, a hora de protestar é agora, quando ainda há tempo de reverter a vexatória posição em que estamos e não no fim do ano ou depois que as frutas podres já tiverem feito o número máximo de jogos.
Vamos acordar o gigante Rubro-Negro!
Por Náyra M. Vieira
Fonte: Flamengo em Foco