Após o vexame da seleção brasileira na Copa do Mundo, a opinião pública tratou de enumerar os motivos, alertar para consequências e claro, conjecturar saídas para a melhora do futebol nacional como um todo.
Dentre esses argumentos, a falta de um campeonato nacional forte tecnicamente é certamente um dos mais contundentes. Com nossos melhores valores sendo comprados por europeus e asiáticos, os clubes se tornaram verdadeiros criadouros de talentos, que são abatidos e aproveitados nas prateleiras europeias.
A Europa é uma predadora natural. No futebol, não é diferente e não vem de agora. Mas atualmente, não só os grandes leões pegam, matam e comem o futebol brasileiro. Pequenos clubes de países periféricos do Velho Mundo e também os tigres asiáticos vêm aqui pescar nossas peixes, que em média são fartos e se proliferam em progressão geométrica. E mesmo com a quantia de dinheiro que hoje circula no país, muito maior do que em tempos idos, não conseguimos segurar nossos jogadores e nos contentamos em gastar essa grana recontratando-os, já mais velhos, isso quando esse dinheiro não é sugado por dívidas ou simplesmente somem dos caixas combalidos dos clubes.
A metáfora perfeita: pegam a carne crua; temperam, dão seus molhos, seus preparos, maturam, assam e comem. A gordura, os nervos e um ou outro ossinho que vez por outra tem alguma carne, volta pra gente roer, a preço de filé mignon.
Certamente um torcedor já imaginou: e se aquele jogador, craque ou promessa, tivesse ficado no meu time ?
Dito isto, resolvi pôr em prática uma ideia antiga e que nunca conseguia colocar no papel: trata-se de mostrar como estariam os 12 principais clubes do país se pudessem formar esquadrões com jogadores saídos de sua base. Bacana salientar que na minha pesquisa, conseguiria fazer de outros times, como Coritiba, Bahia, Vitória e Atlético Paranaense, tão fortes ou mais que os 12 grandes. Preferi cortar com nos tais 12 por mero praxe.
Procurei utilizar os melhores jogadores, na atualidade, como se um campeonato fosse começar semana que vem: fazer um time, encaixar na posição e vamos pro jogo!
O critério utilizado:
– Estar em atividade;
– Se passou pela base, ainda que contratado de outro time, tá dentro do cenário. Ou seja, jogador XIS fez 10 anos de base pelo clube YPSILON mas se transferiu para o clube ZÊ. Se chegou para a base, tá dentro do clube Z. Se foi direto para o time principal, é do clube Y;
– Não precisa necessariamente estar no exterior. Se já voltou, ótimo, fica. Se ainda não foi vendido, também pode ser utilizado. Se tá no rival…bem, traição à parte, também tá dentro!
Em alguns times mais abundantes de valores formados em casa, tive que optar por um ou outro e acabei deixando alguns bons nomes de fora (o que dá bem a dimensão de que alguns fazem trabalhos de base melhores que outros). Quem estiver lendo fará sua própria lista.
Em alguns casos rolaram uns improvisos estilo Carpegiani ou Mário Sérgio. Tentei evitar usar os jovens ainda no time, já que o intuito é mostrar os que saíram mas em alguns casos foi preciso e também foi útil para dar a dimensão da qualidade (ou não) da formação.
De qualquer maneira, é apenas um exercício para auferir a força da base de cada um dos 12 gigantes do Brasil e como está a atual geração de jogadores. E claro, pra fazer viajar os torcedores de cada time, já que invariavelmente, teríamos astros do futebol mundial com a camisa que amamos.
Ao fim de cada escalação, teço alguns comentários. Vamos lá:
BOTAFOGO:
Renan (Botafogo);
Léo Moura (Flamengo), Dória (Botafogo), Rafael Marques (Verona) e Gilberto (Internacional);
Lucaz Zen (Vitória), Gabriel (Botafogo), Jadson (Udinese) e Almir (Vila Nova).
Caio (Vitória) e Vitinho (CSKA) .
Ufa! Quase que não dá pra fazer um time do Botafogo. Anos sem revelar alguém de destaque ocasionou, além do improviso, alguns jogadores que estão atualmente no clube. O goleiro não passa confiança. A zaga é boa e as laterais dão para o gasto já que Gilberto está improvisado e Léo, quase-aposentado.
A meiuca é fraca, apenas Gabriel com algum destaque.
No ataque, a correria de Caio e a habilidade de Vitinho ainda tem algum valor.
Opções: Daniel e Rodrigo Dantas.
FLAMENGO:
Julio César (Toronto FC/QPR);
Henrique (Fluminense), Juan (Internacional), André Bahia (Botafogo) e Egídio (Cruzeiro)
Felipe Melo (Galatasaray), Fellype Gabriel (Sharjah), Renato Augusto (Corinthians) e Andrezinho (Tianjin Teda);
Paulo Sérgio (Avaí) e Reinaldo (Luverdense).
“Craque o Flamengo faz em casa”. Essa geração mostra que não é bem assim que a banda anda tocando no clube. No gol, está bem servido. Júlio César teve carreira sólida e ainda rende um bom caldo. A zaga é razoável mas já envelhecida e conta com o improvisado Henrique na lateral-direita.
No meio-campo, se falta aquele talento nato de outrora (Zico, Djalminha, Marcelinho), sobram peças que tem algum valor. Não deixa a desejar.
No ataque e nas laterais, fica devendo muito.
Opções: Marcelo Lomba, Samir, Ibson, Airton, Luis Antônio e Adriano (ou não).
FLUMINENSE:
Fernando Henrique (América-RN);
Rafael (Man. United), Thiago Silva (PSG), Antônio Carlos (São Paulo) e Marcelo (Real Madrid);
Fernando Bob (Ponte Preta), Arouca (Santos), Diego Souza (Metalist) e Wellinton Nem (Shakthar);
Maicon (Lokomotiv) e Alan (Red Bull Salzburg).
Xerém realmente é um celeiro. Com um monstro na zaga, a linha de defesa é o ponto forte. Três de seus jogadores atuam em gigantes europeus. Antônio Carlos destoa mas não deixa a desejar.
O meio-campo também é bom, ainda que com jogadores sem tanto destaque internacional. Mas forte o suficiente para uma disputa nacional – mesmo com Fernando Bob.
O ataque é eficiente, com destaques do leste europeu. No gol, um problema.
Opções: Júnior César, Wallace e Fábio.
VASCO:
Hélton (Porto),
Alan (Udinese), João Carlos (Spartak), Wescley (sem clube) e Guilherme Santos (Bahia);
Rômulo (Spartak), Souza (São Paulo), Philippe Coutinho (Liverpool) e Alex Teixeira (Shakthar);
Souza (sem clube) e Allan Kardec (São Paulo).
O Vasco ficou algum tempo sem revelar bons jogadores, o que ocasionou numa defesa frágil, tirando o experiente e regular Hélton. João Carlos e Wescley apareceram bem mas decaíram com o passar dos anos. Alan é volante mas se destacou atuando também na lateral-direita.
Do meio pra frente, tem bons valores, destaque para Phillipe Coutinho, que pouco jogou pelo clube mas brilha na Europa. Souza e Allan Kardec fazem um ataque regular.
Opções: Luan, Ygor, Morais, Marlone e Thalles.
CORINTHIANS:
Júlio César (Náutico);
Coelho (Guaratinguetá), Fábio Ferreira (Criciúma); Marquinhos (PSG) e Dodô (Internazionale);
Nilton (Cruzeiro), Boquita (Atlético Sorocaba), Everton Ribeiro (Cruzeiro) e William(Chelsea)
Dentinho (Besiktas) e Jô (Atlético-MG).
Bastante opção o Timão tem. Em um time com altos e baixos, o goleiro é contestado, assim como um dos zagueiros e um lateral. Os outros dois constroem carreira em grandes clubes da Europa.
Como volantes, a mesma coisa: um com boa carreira nacional, o outro sumido.
Isso tudo deixa o Corinthians desequilibrado, tendo no ataque, com os habilidosos Everton Ribeiro e William, e o matador Jô, seus grandes nomes.
Opções: Rubinho, Kleber, Ronny, Betão, Lulinha e Bobô.
SÃO PAULO:
Rogério Ceni (São Paulo);
Jean (Fluminense), Breno (Bayern/São Paulo); Bruno Univi (Santos) e Fábio Aurélio (sem clube);
Denilson (Arsenal), Hernanes (Inter), Oscar (Chelsea) e Kaká (São Paulo);
Lucas (PSG) e Diego Tardelli (Atlético-MG).
Principalmente do meio pra frente, o São Paulo tem fartura e qualidade.
Com o quase-aposentado ídolo no gol, a defesa do São Paulo é jovem e uma verdadeira incógnita. As laterais não são confiáveis, principalmente a esquerda.
Do meio pra frente, entretanto, sobra talento, colocando o passado sensacional de Kaka ao lado do futuro promissor de Lucas, sobrando para Hernanes e Oscar a missão de comandar o meio-campo. Tardelli é o homem-gol.
Opções: Gabriel, Edcarlos, Kléber Gladiador, Júlio Baptista.
PALMEIRAS:
Diego Cavalieri (Fluminense);
Ilsinho (Shakthar), David Braz (Santos), Gláuber (Columbus Crew) e Marquinho (Roma);
Paulo Assunção (Deportivo La Coruna), Elias (Corinthians), Taddei (Roma) e Diego Souza (Portuguesa)
Zé Love (Coritiba) e Vagner Love (Shandong Luneng)
Apesar de contar com um dos melhores goleiros brasileiros da atualidade, a defesa do time é preocupante.
Os laterais apoiam bastante e sobra para o cão de guarda de idade avançada conter os ataques.
Na armação, o experiente Taddei reveza com o faz-tudo Elias, sim, ele passou pela base do Palmerias!
No ataque, Love é a salvação.
Opções: Fábio, Patrick Vieira, Renato, Vinicius e Edmílson.
SANTOS:
Rafael (Napoli);
Gustavo Henrique (Santos), André Luis (Boa Esporte) e Domingos (Al-Kharitiyath);
Adriano (Vitória), Wesley (Palmeiras), Diego (Fenerbahçe) e PH Ganso (São Paulo);
Robinho (Milan), Neymar (Barcelona) e Gabigol (Santos).
No Santos, notabilizado pela sua base desde Pelé, dá pra ver que a preferência é o ataque.
O goleiro é promissor e faz carreira sólida na Europa mas zaga é um perigo.
Na frente, talento puro com Diego e Ganso armando para as tabelas infernais de Neymar e Robinho. Rápido, o time tem em Wesley e Adriano a garantia de segurança lá atrás.
Gabigol é o homem, ou melhor, garoto, que fará os gols.
Opções: Paulo Almeida, Felipe Anderson, André, Victor Andrade, Alan Patrick, Neílton e quem mais você quiser.
CRUZEIRO:
Jefferson (Botafogo);
Maicon (Roma), Luisão (Benfica) Gladstone (CRB) e Maxwell (PSG);
Charles (sem clube), Lucas Silva (Cruzeiro), Bernardo (Palmeiras), Dudu (Grêmio) e Guilherme (Atlético-MG);
e Vinícius Araújo (Valência).
CRUZEIRO
O Cruzeiro, hoje grande comprador, também teve (e ainda tem) uma “cantera” de qualidade.
Na defesa, o time pode ficar tranquilo, ainda que com Luisão tendo que jogar por Gladstone: tanto no gol, quanto nas laterais, o time está muito bem servido.
O meio-campo é instável e deixa a desejar, com valores ainda jovens que não se firmam.
No ataque, o promissor Vinicius Araújo.
Opções: Gomes, Mayke, Diego Renan, Thiago Heleno,Wendell, Kerlon(claro!) e Jonathas.
ATLÉTICO-MG:
Diego Alves (Valencia);
Marcos Rocha (Atlético-MG), Leandro Castán (Roma), Werley (Grêmio) e Leandro Almeida (Coritiba);
Rafael Miranda (Bahia), Renan Oliveira (Sport) e Mancini (América/MG);
Éder Luis (Al-Nasr), Bernard (Shakthar) e Rafael Moura (Internacional).
O Galo não é lá muito pródigo em revelar jogadores. A linha defensiva é apenas razoável mas não parece dar susto na torcida. No gol, a segurança de um nível europeu.
O meio-campo, assim como o do rival, deixa muito a desejar, ficando a missão de armar as jogadas para os rápidos Bernard e Éder Luis. A missão de empurrar (ou ao menos tentar) a bola para o gol fica a cargo do He-Man Rafael Moura.
Opções: Thiago Feltri, Lima, Welton Felipe, Renan, Ramon e Kim.
INTERNACIONAL:
Muriel (Internacional);
Juan (Internazionale), Sidnei (Espanyol), Lúcio (Palmeiras) e Ramón (Besikitas);
Sandro (Tottenham), Josimar (Palmeiras) e Fred (Shakthar).
Pato (São Paulo), Nilmar (Al-Jaish) e Leandro Damião (Santos)
Outro que tem se notabilizado pelas compras, o Inter se destaca também pela base (e suas boas vendas) O Inter tem uma defesa jovem e irregular comandada pelo xerife Lúcio, que chegou a jogar na base do clube. No gol, Muriel também não passa confiança.
O meio-campo tem boas opções com Sandro e Fred.
O ataque, quando comecei a fazer esse texto, era forte. Hoje, letárgico. Mas Pato e Damião são jovens e ainda podem estourar. Ou não… Mas tem as opções de Taison e Giuliano.
Opções: Renan, Rodrigo Possebom, João Guilherme, Taison e Giuliano.
GRÊMIO:
Cássio (Corinthians);
Wellinton Silva (Internacional), Mário Fernandes (CSKA), Neuton (Udinese) e Saimon (Grêmio),
Lucas (Liverpool), Fernando (Shakthar), Anderson (Man. United), Douglas Costa (Shakthar) e Ronaldinho Gaúcho (sem clube);
Leandro (Palmeiras).
Com um time internacional, o goleiro do Imortal é o responsável por passar segurança a uma linha de defesa jovem e ainda não estabelecida.
O meio campo é completo, contando com uma dupla de volantes excelente, além dos habilidosos Anderson e Douglas. Ronaldinho, experiente, volta ao Olímpico para municiar o arisco Leandro.
Opções: Marcelo Grohe, Fellipe Mattioni, Rafael Carioca e Yuri Mamute.
Fonte: Lanceativo