Ecos do passado.

Vendo o jogo de ontem e valorizando o personagem do dia, o novo velho técnico, fui remetido a gratas lembranças rubro-negras. Minha memória viajou a um passado distante e inesquecível. O comandante da primeira vitória depois de oito jogos jogou num time poderoso do Flamengo. Vanderlei Luxemburgo, àquela época apenas Vanderlei, é esse entre um Cantarelli cabeludo e um Jayme de bigode e bem mais jovem. Era um medíocre lateral esquerdo, então improvisado como lateral direito, esforçado mas destoante do restante de um time cheio de estrelas. Quase todos que não eram estrelas naquele time jogaram na seleção nacional ou jogariam. Um time que contava com Jayme de Almeuda, Luiz Carlos na zaga, Rodrigues Neto na lateral esquerda, Liminha e Zé Mário no meio campo, Paulinho, Doval, Zico e Arílson no ataque. Não demorou muito para faltar vaga e o Vanderlei foi jogar em outro clube.

O Luxemburgo de hoje se acostumou faz décadas com a ideia de ser estrela no banco. Ganhou muitos títulos ao longo de sua carreira como técnico, mas no momento está em baixa. Precisava de uma campanha positiva, algo desafiador como o Flamengo na lanterna para fazer um trabalho de recuperação do time e dele como treinador. Por coincidência, esse time que assumiu agora ganhava na mão de um companheiro daquele tempo. Numa das inúmeras lambanças dessa diretoria, demitiram o Jayme por celular e contrataram um engodo para afundar o clube numa crise sem precedentes. Assim chegou o Luxa, para ao mesmo tempo consertar o estrago e se reinventar como técnico.

Compadre da estrela maior do Flamengo em que jogou, chamado por ele de Pascoal e por nós de Zico, aprendeu a respeitar a influência do maior ídolo rubro-negro e ser respeitado por ele. O Zico anda de luto pelo Flamengo há um logo e tenebroso inverno. Seja pela forma como foi tratado por dirigentes aproveitadores num passado recente ou pelas tristes exibições do seu time de coração, a exemplo do Pofexô, outro rubro-negro declarado. Ao contrário do compadre Pascoal, Luxa pretende ser presidente do Flamengo um dia. Vanderlei também já pensou em ser político, mas desistiu. Imagino que seu temperamento e sua autoestima injetem doses maiúsculas de sonhos em suas veias entupidas de vencedor.

Não tenho esperanças de ver um time com qualidade semelhante ao da foto, muito menos de testemunhar revelações simultâneas como Zico e Geraldo. Não creio que minhas gerações futuras vejam surgir um menino que brilhe no Flamengo e no mundo como o Zico brilhou. Tampouco prevejo um futuro brilhante do Pofexô como técnico, no Flamengo ou em outro clube. Meu desejo é que personalidades rubro-negras como essas nos resgatem do lodo em que nos enfiaram administrações equivocadas como as duas últimas. A anterior, uma enganosa e articulada fantoche a usurpar o clube por trás uma fachada de bondade angelical. A atual, um factoide de pretensos gênios que não passaram de trapalhões a levar o futebol rubro-negro a um limite inferior jamais alcançado antes.

Por sorte, o mesmo passado que me traz doces lembranças teve presidentes importantes no clube, que mais acertaram do que erraram, conduzindo o futebol do clube a êxitos que os atuais jamais conseguirão. Os gestores de hoje viraram as costas para essa história gloriosa como se ela fosse pecaminosa em razão de falhas cometidas na gestão financeira. Não foram humildes o suficiente para trazer os acertos do passado ao conteúdo da intervenção drástica nas finanças do Flamengo. Pior, gastaram mal o pouco que diziam ter, a exemplo dos episódios risíveis da escalação absurda do André Santos em 2013 e da contratação do Pelaipe, do Cadu e do Ney Franco, só para citar alguns.

Pois foram exatamente esses execrados pecadores do antigo Flamengo que obrigaram esses presunçosos e soberbos de hoje a um choque de realidade. Gente com alma e pele rubro-negra. Gente como o Márcio Braga, o mais vencedor de todos os presidentes da história rubro-negra, ou o George Helal, pai do Georginho e do Ronaldo, meus parceiros no Santo Inácio. O seu Helal, como o chamávamos, gastou no Flamengo a sua loja, onde meu pai comprou a minha primeira bicicleta, uma Monark aro 26. Vamos torcer e muito, como sempre faz a Imensa Nação e mais uma vez provou ontem, num domingo frio e chuvoso, no fim do mês e com o time na lanterna. Só desse jeito o clube se livrará dessa ameaça amarga no futebol. O trabalho do Luxa está só no início e espero que os jogadores demonstrem o profissionalismo de ontem nos jogos futuros. O mesmo profissionalismo apresentado pelo adversário, conforme a faixa estendida antes da partida. Só todos unidos, os de antes, os de agora e os de depois, nos livraremos desse cadafalso, dessa tragédia.

Faltam quarenta pontos em setenta e oito a disputar.

alexandrecpf@magiarubronegra.com.br

TWITTER: @alexandrecpf

Fonte: Magia Rubro-Negra

Coluna do Flamengo

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