Vai, Alemanha! Vai pra… Eu vou torcer é para o Brasil.

No século XVIII (18, animal) o inglês Samuel Johnson escreveu que o patriotismo é o último refugio de um canalha. Excelente frase. Mas era muito fácil dizer isso quando ainda não existiam Copa do Mundo, leis bancárias suíças e nem os voos regulares para o Brasil. Canalhocracia à parte a verdade é que desde os anos de chumbo da década de 60 que torcer patrioticamente pela Seleção Brasileira é considerado um hábito meio jeca.

Nos anos 70 os milicos tentaram uma aquisição hostil da Seleção Brasileira que acabou custando a cabeça do treinador João Saldanha e rendendo a convocação de Dadá Peito-de-Aço pro escrete. Nas rodinhas de intelectuais da época não havia nada mais cafona do que torcer pela Canarinho. O que não impediu que a comunistada toda comemorasse o TRI e a conquista definitiva da finada Jules Rimet enchendo a cara e soltando morteiro junto aos reacionários, entreguistas, dedos-duros e alienados de plantão.

O tempo passou e a Copa do Mundo ganhou importância ao mesmo tempo em que as nacionalidades ficavam cada vez mais débeis. Os clubes ficaram riquíssimos (só os gringos) e transformaram a Copa do Mundo em um feirão de compra e venda de jogadores. Um mercado exclusivo pros grandes clubes europeus no qual os brasileiros são apenas produtores e feirantes, no máximo atravessadores.

Mas o Brasil também ganhou importância e organizou a sua segunda Copa do Mundo, dessa vez com boas chances de conquistar o Hexa mundial e se vingar do vexaminoso Maracanazzo de 50. E aí aconteceu de novo o fenômeno de 70 e torcer pela Seleção passou a ser coisa de burguês, coxinhas e alienados da elite branca. Ou, dependendo da origem do discurso, coisa da rafaméia descamisada, classe C ou teleguiados do Bolsa Família. Que beleza é a evolução da sociedade brasileira.

E na terça-feira, também conhecida como amanhã, o Brasil disputa mais uma semifinal de Copa do Mundo. E mais uma vez teremos vários brasileiros torcendo contra o Brasil. Os motivos pra anti-torcida brasileira são muitos, englobam fila no SUS, 20 centavos, bigode de Felipão, não convocação de Brocador e camisa 2 da Alemanha.

Parece um pouco quinta colunismo torcer contra o Brasil, mas isso também atesta o desenvolvimento do recém desperto gigante brasileiro. Torcer contra o próprio país é coisa própria de países modernos, democráticos e respeitadores dos direitos individuais. Essa parada de “Todos Juntos, Vamos” hoje em dia só se permite para republiquetas bananeiras e teocracias abstêmias.

Para países com classificação Baa2 na Mooody’s essas patriotadas absolutistas simplesmente não pegam bem. Tem que ter uns manés do contra pra mostrar independência. Se bem que não me lembro de ver nenhum italiano, inglês ou alemão torcendo pra outra seleção enquanto a sua própria ainda disputava a Copa. Bem, sejamos tolerantes com a galera, ainda estamos aprendendo a ser um país rico.

De toda forma é importante salientar que a Seleção Brasileira, com ou sem Brocador, não é o Brasil. Assim como a Alemanha, mesmo bem vestida bagarai, não é o Flamengo. A camisa 2 da Alemanha é a mais bonita da Copa, ok. Mas é só uma imitação do Manto do Mengão. Torça pra quem você quiser, cada um com seu cada um. Mas não banque o otário achando que se o Brasil perder as coisas vão melhorar, o povo vai despertar do torpor estupefaciente do ópio futeboleiro ou que a eleição de outubro vai ser assim ou assada. Tem nada a ver. Aliás, se o Brasil ganhar também não vai mudar nada.

Eu, atrasado, classe C e reacionário que sou, vou humildemente torcer pro Brasil. O Mengão já ganhou a Copa do Brasil três vezes, tá na hora de deixar a Seleção Brasileira ganhar uma pelo menos.

*Vai pra Puta que Pariu!

Fonte: Urublog

Coluna do Flamengo

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