Do alto de nosso gigantismo.

Me lembro dos meus anos de escola, lá para meados dos anos 80 quando Vasco e Flamengo disputavam a primazia no Estado do Rio de Janeiro, nossos principais craques viajam para a velha Bota e eram protagonistas do Calcio. Recordo que por estes anos, em um brasileirão, todas equipes eram patrocinadas pela Coca-Cola exceto o Flamengo e talvez mais uma equipe que me fuja a memória.

Os mercados europeus obviamente eram extremamente fortes, mas, o que se via era uma avolumada ponte aréa com destino à Italia e Portugal. Mas o ponto aqui era como o futebol era visto. Os clubes se dividiam capitalistamente em uma pirâmide social, obviamente normatizada e regulada por questões geopolíticas, ou seja, sul e sudeste fortes e vez por outra alguma equipe do nordeste aparecia.

A bem da verdade sempre fomos, ou melhor, atuamos bem no papel de colônia do esporte bretão, como fornecedor de matéria prima e mão de obra qualificada, a preço barato, mas há de se aceitar a situação, a década de 90, ou década perdida, sofríamos nos campos de futebol e plantações de cana dos mesmos males. Ora, somos o país do futuro, continental, tínhamos Romário, Bebeto, tínhamos a cana de açúcar e o petróleo, uma hora chegaríamos lá.

Aliás, tínhamos o Flamengo, já Campeão do Mundo, maior vencedor do Campeonato Nacional, maior torcida do país, que como todo bom brasileiro já vivia o sonho da casa própria, mas ao contrário de todos nós, se gabava de ter sua casa, a maior casa do Mundo, desde já “o Maraca é nosso”.

Não precisaríamos ser nenhum Julio Verne para viajar nas projeções que o futuro nos reservaria. Bastava esquecermos que éramos os “maiores” em tudo e olhar pela janela. Na Inglaterra acabaram as grades e investiu-se em um campeonato rentável. Equipes passaram a investir na base e olhar para seus vizinhos com mais carinho. Afinal, eram ricos, mais que franceses, espanhóis, holandeses, logo, elegeriam “Novas colônias”, mais próximas e com menos barreiras culturais.

Alemães investiram pesado na base e estádios. Seguiram os mesmos passos dos ingleses, mas em terras turcas e polacas. Mas talvez estivéssemos tão preocupados em rixas geográficas que esquecemos de olhar para fora. Aliás, estes mesmos que passavam a crescer de forma exponencial, seguiram exemplos de outros, como ligas americanas e europeias de outros esportes.

Nós, aqueles, os maiores, pasmem, seguimos crescendo, mas assim como a cara do Brasil que sempre fomos, crescemos de maneira amorfa, sem organização, planejamento, norte. Seguíamos sem nossa casa, aliás, ao menos nós achávamos que tínhamos uma casa.Talvez do alto de nosso gigantismo, ou carregados nos braços de nossos seguidores, não percebemos que nossos pés já estavam descalços, e nossas calças puídas pelos anos de algumas “traças” que estiveram ali espalhadas pelo reino do “Mais Querido”.

A estas “traças”, que tinham títulos de nobreza ou semi nobreza. Que conquistaram cargos públicos, por assim como Nossa Senhora Aparecida, estarem envolto em um manto abençoado e protegido por milhões de seguidores, sempre adotaram discursos e condutas similares. O paradoxo do enaltecimento da instituição seguido da drenagem de seus bens, valores, da deterioração do que já havia sido a marca mais valiosa do esporte nacional, e que a cada ano que passava descia um degrau, como aquele velho urubu que perdia o galho mais alto para os mais jovens, pois não soube se impor e se cuidar ao longo dos anos.

Mas o sonho do gigantismo nos afastou demais de nossa realidade. Acordamos, ou estamos acordando com a grandeza, mas das dívidas, da vergonha e do tempo perdido. Algumas coisas não mudaram, e pelo viés da paixão, ainda contamos com um potencial enorme. Mas seguimos morando de aluguel, perdemos nosso status de “todos querem jogar no Flamengo”, enfrentamos situações e problemas embaraçosos. Eliminações, questões policiais e antes que nosso sonho se torne coma, é com os olhos embargados que olhamos para o alto, pois já nem mais de joelhos estamos. Então vemos a nossa maior esperança, que nos dá forças e acorda nosso coração através do seu canto e energia.

A mudança, assim como na queda da Bastilha, tem que partir do nosso povo, povo este que para algumas daquelas velhas “traças” e membros da realeza, não pode ser tratada como mercado consumidor ou que seu “tão amado” Flamengo não pode ser um produto. Mas façamos um acordo e passemos a utilizar o termo respeito. O primeiro passo é reconhecer nossos erros e recomeçar. O mundo está cheio de exemplos de deram certo. Equipes que caíram, passaram por anos de fracassos e hoje se reergueram e assumiram papeis de protagonistas.

Não há mais espaços para achismos, caprichos e mercantilismos, a jornada é muito longa e certamente terá percalços. O primeiro passo, onde o clube mantém sua responsabilidade fiscal está corretíssimo, mas é apenas um começo. Passar a entender e dialogar com sua torcida é fundamental. Investir na base, não apenas do futebol, mas do clube como um todo. Estudar, entender e adaptar casos de sucesso.

Não será lá do alto de nosso gigantismo que iremos enxergar tudo aquilo que precisamos ver, mas certamente será pelos olhos do nosso povo, nossa Nação, que iremos enxergar quem realmente somos e escutar aquilo que realmente precisamos ouvir, e que possamos deixar pelo caminho as “traças”, mesmo que caminhemos nus (de nossas vaidades e “grandiosidade”) por algum tempo e que possamos deixar pelo caminho a “velha nobreza” como suas riquezas esquecidas que sempre foram pilhadas de nossa grandeza.

Fonte: Falando de Flamengo

Coluna do Flamengo

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