Último domingo, três de agosto, pouco depois das cinco e meia da tarde. O pai, sentado no sofá da sala, alterna a posição de sua cabeça: alguns momentos olhando atônito para a televisão, outros a apoiando com as mãos em sinal de profunda tristeza. Seus dois filhos invadem a sala, animados, sem perceber a situação, perguntando o que o pai gostaria de ganhar no Dia dos Pais. O pai, simplesmente, não os ouve. Não por querer ignorá-los, mas pelo fato de estar completamente fora de si.
As crianças percebem a tristeza, olham para a televisão e gritam: É jogo do Mengão! A mãe, esposa já há bastante tempo e conhecedora do amor do marido pelo Rubro-Negro, sai do quarto e explica aos filhos: Papai está triste, o Flamengo está perdendo o jogo. Naquele momento, as crianças param por um instante e tentam entender o que está acontecendo. Afinal, todas as lembranças que elas têm do pai em relação ao Flamengo são super positivas: já haviam ido ao Maracanã, vibrado com vários gols e cantado músicas da torcida.
Então, a filha questiona: “Mãe, eu não gosto de ver o papai triste. Ele canta um monte de músicas do Mengão com a gente e sempre fala que o Mengão é o maior. O que está acontecendo?” A mãe tenta explicar: “Futebol é assim mesmo, às vezes perdemos, às vezes ganhamos.” A filha parece entender, mas o filho não se dá por satisfeito.
Naquele momento, com o pai ainda atordoado pelas imagens que a televisão mostra, a mãe e os filhos têm uma idéia genial: Que tal dar ao nosso pai um ingresso para o próximo jogo do Flamengo, no Maracanã, como presente de Dia dos Pais? E que tal se toda a nossa família fosse ao jogo? A mãe, decidida, compra os ingressos para o jogo, que coincide com o Dia dos Pais. Melhor presente, com certeza, não há de existir.
Ingressos na mão, é chegada a hora (antecipada, é claro) de entregar o presente para o pai. Antes, porém, o filho, que ainda não sabe escrever, pede para que a mãe escreva um cartão para o pai, com algumas palavras. A mãe escreve, todos assinam (se pudermos dizer que um carimbo colorido das mãos serve como assinatura) e entregam o cartão para o pai.
O pai olha os ingressos, comemora muito e só para de agradecer e beijar a família para ler o cartão:
“Pai, a gente te ama muito. E sabemos o quanto o Flamengo é importante para você. Quando te vimos tristes no último domingo, também ficamos tristes. Aí eu pensei naquelas músicas que você nos ensinou. Uma diz assim: “eu juro que no pior momento, vou te apoiar até o final”, a outra diz: “não importa onde esteja, sempre estarei contigo”. Mamãe e minha irmã acham que você estava triste porque o Flamengo estava perdendo. Mas eu, que aprendi direitinho o que as músicas dizem, sei que você estava triste de verdade por não poder estar naquele momento perto do Mengão, quando ele precisava de você. Fica triste não, domingo todos nós estaremos pertinho do Mengão.”
O final da história? Eu posso contar mais um capítulo no fim da tarde de domingo, mas essa história não tem final. Assim como é eterno o Clube de Regatas do Flamengo, por renascer diariamente no coração das nossas crianças.
Fonte: Falando de Flamengo