Há uma reclamação crescente do Flamengo sobre os altos custos do Maracanã para realizar jogos: fica apenas com pouco mais de um terço de sua renda. Por isso, aumento ingressos no jogo diante do Corinthians. A versão da concessionária do estádio, no entanto, é de que tem prejuízo na operação do equipamento.
A reportagem apurou todos os custos e rendas reais do Maracanã, segundo as contas da administradora. E a conclusão internamente da Odebrecht é que tem subsidiado o funcionamento do estádio para que, no futuro, ele se torne rentável. Ressalte-se que esses são a versão e os números da concessionária, embora não oficiais.
Para que esse cenário de déficit no Maracanã ocorra, há a contribuição de vários elementos: uma série de obstáculos de legislação, uma equipe grande para garantir serviços de boa qualidade, e os altos custos de um estádio moderno de Copa do Mundo.
Vamos aos motivos para o buraco no estádio. Primeiro item, a concessionária estima entre 15% e 20% o número de pessoas que entram sem pagar no estádio por conta de leis para crianças abaixo de 12 anos, e idosos. Não há limitação, mas esses torcedores têm que receber os mesmos serviços dos que pagam ingresso. Outro fator é o alto índice de meia entrada.
Segundo item, a venda de camarotes está abaixo do esperado com apenas 30 comercializados, em um total de 80. A Odebrecht entende que ainda não convenceu o mercado corporativo da atratividade desses setores, especialmente em um ano quebrado pela Copa do Mundo.
Terceiro item, são os altos nos custos do Maracanã. Clubes têm questionado a alta despesa operacional de R$ 300 mil em jogos grandes. A concessionária calcula que gasta muito mais do que isso em partidas cheias. Assim, uma partida como a entre Flamengo e Grêmio teria um custo real em torno de R$ 450 mil, na visão da aministradora.
O contrato entre o clube e a Odebrecht prevê que seja cobrado R$ 10,00 por torcedor pagante no estádio. Só que o acordo determina que as despesas sejam limitadas a R$ 300 mil. Ressalte-se que os jogos grandes não são o problema para a Odebrecht: sua estimativa é que pelo menos se pagam.
A questão é em partidas menores como as do deficitário Estadual do Rio. Neste caso, a concessionária estima que o gasto é de R$ 280 mil só para abrir o estádio. Muitas vezes a renda não chega nem perto disso. E, como o valor é de R$ 10,00 por torcedor, haveria R$ 30.000 repassados a gestora com os ridículos públicos próximos de 3 mil pessoas do campeonato.
Quarto item, por que o estádio é tão caro? A conta da administradora é de que em torno de 1.400 funcionários trabalhem em um jogo grande. Com serviços terceirizados -segurança, limpeza, orientadores -, a estimativa é que se gaste R$ 200,00 por cabeça, o que significa R$ 280 mil. Partidas menores têm menos gente. Além disso, entram neste quesito gastos com água e iluminação, R$ 40 mil por cada um deles.
Outras despesas ainda incluem telão e som, que são R$ 17.500, e leitos médicos, R$ 50 mil. Há uma ressalva: nem todos os descontos são responsabilidades da Odebrecht. Outros itens como confecção de ingressos e grades, por exemplo, também são de responsabilidade da gestora do Maracanã.
Quinto item, há despesas que não tem relação com a administradora. A Ferj (Federação de Futebol do Rio) tem taxa de 5% nos últimos jogos e ainda impõe uma “despesa operacional” com seus funcionários que é de R$ 20 mil por jogo. Fora descontos que vão de escoteiros, a ex-jogadores e jornalistas esportivos.
Sexto item, limitações impostas pelo Estado também dificultam a arrecadação no Maracanã. A PM não permite a venda de todos os ingressos porque exige que a torcida visitante fique isolada e em setor superior, o que pode reduzir a carga em até 6 mil em um jogo grande.
Sétimo item, a Odebrecht estima que a manutenção do Maracanã em um ano tem custo de R$ 50 milhões. Esse valor não está incluído nos borderôs e permite que o estádio se mantenha novo. Seria o correspondente às constantes reformas feitas pelo Estado no passado para melhorar a arena.
Qual a solução? A administradora do Maracanã tenta reduzir custos enquanto aprende a operar melhor o estádio. Ao mesmo tempo, queria que o governo do Estado e federal criassem limitações para as gratuidades e para as meias entradas.
Outra reivindicação seria um melhor conteúdo (jogos mais atrativos) para manter os estádios cheios, inclusive com um calendário mais pensado. Pela estimativa inicial da empresa, o Flamengo daria público médio de 40 mil pessoas, e o Fluminense 30 mil. E os ingressos teriam de ser em torno de R$ 50,00 como preço mínimo. Só o clube rubro-negro cobrará esse valor diante do Corinthians – já chegou a R$ 60,00 em partidas regulares.
O déficit nos anos iniciais era previsto pela Odebrecht. A questão é que perde-se mais dinheiro do que o estimado. A concessionária faz uma estimativa de três a cinco anos para ter a operação do estádio em perfeitas condições. Aí, poderá avaliar se, de fato, o Maracanã pode se tornar rentável para ela, e para o Flamengo, Fluminense e Botafogo, que hoje, ganham menos do que gostariam.
Resta saber se o governo do Estado, e os clubes concordam com as contas da concessionária ou têm intenção de rever as condições atuais.
Fonte: Blog do Rodrigo Mattos