A missão de tirar o time da lanterna precisava de alguém que conhecesse os sempre complicados bastidores da Gávea. Após meses desempregado, Vanderlei Luxemburgo ganhou nova chance no Flamengo e deu o padrão tático que faltou com Ney Franco e a definição de forma de jogo que faltou com Jayme de Almeida.
Como ele diz, o time joga “com um saco de cimento nas costas”. O técnico entendeu que o momento pedia estancar a defesa e montou um 4-4-2 simples, em duas linhas de 4. Em certos momentos, um 4-1-4-1 com Paulinho e Éverton nos lados. O time aposta nos rápidos contragolpes, articula com Éverton saindo do lado ou Mugni centralizado e solta os laterais para a bola aérea ofensiva, arma com Eduardo da Silva.
O camisa 22, que também ganhou nova chance no Fla, é peça fundamental na saída de bola: ele recua, recebe dos laterais e dita o ritmo do jogo, organizando as jogadas junto a Canteros. Os laterais ultrapassam e geralmente Alecsandro ou Eduardo recuam, levam uma marcação e o time acaba concentrando as jogadas pelo centro (principalmente quando tem o passe de Mugni em campo).
Faz tempo que o Flamengo transita entre os 3 zagueiros ou a linha de 4. A explicação é sempre para melhorar a defesa que Léo Moura (e mates André Santos) não compunham bem. Com Luxa, os laterais possuem participação ofensiva importante: eles dão amplitude no campo e aproveitam quando os atacantes correm na área para cruzar. Isso ocorre de forma coordenada, como Luxa diz: “é preciso saber a hora de correr e cruzar”.
A sequência de vitórias que saíram dos pés de João Paulo e pararam na cabeça de Eduardo da Silva não foram a esmo: Luxemburgo usa laterais como meias-cruzadores desde 1993, e essa [e uma arma forte do Flamengo.
Quando se defende, o time é compacto e fecha a área em duas linhas de 4. Muitas vezes, coloca Cáceres entre elas, fazendo um 4-1-4-1 que tira ainda mais espaço do adversário. Você já deve ter visto o Flamengo marcando muito no primeiro tempo, deixando o adversário passar e passar….quando retoma, a velocidade de Éverton e Márcio Araújo se combina aos 2 atacantes e faz o contragolpe forte, ainda que nem sempre eficiente.
Voltando aos laterais: como Luxa fez para que um time com Léo Moura e João Paulo não ficasse exposto? Simples: organizou a marcação para os meias pelos lados do 4-4-2 acompanharem os laterais adversários, assim os laterais não fecham a linha defensiva na área, mas sim saem no combate do meia adversário. Com Cáceres se aproximando – Luxa sempre gostou de um “cão de guarda” mais posicional – o time mata as linhas de passe do oponente. É comum ver Éverton ou Araújo bem abertos, por vezes mais recuados que os alas.
No 2×2 com o Palmeiras, o time novamente foi organizado e executou o plano de jogo transitivo na primeira etapa. Os 2 gols poderiam ser mais, se náo fossem as inúmeras chances desperdiçadas que o Palmeiras, repaginado no segundo tempo, conseguiu igualar. Falta contundência para um time que naturalmente cria pouco – e o problema já vem de vários jogos.
Todos os comportamentos mostrados acima comprovam: o Flamengo é um time organizado, “reinventado” por Vanderlei para sair da confusão. Mas ainda é cedo para afirmar que o time pode mais: muitas vezes, o torcedor precisa entender os limites do elenco e comissão técnica. Fica a impressão que, para quem já foi lanterna, o décimo lugar está de bom tamanho.
Fonte: Painel Tático