Majorar os valores dos ingressos da partida contra o Corinthians foi o estopim para a mais nova crise nos bastidores da Gávea. Mas, no fundo, o motivo do aumento dos ingressos tem até preço: cerca de R$ 30 milhões. Este é o valor do rombo que aponta a calculadora do orçamento rubro-negro deste ano e que causou desencontros e desgastes. Aumentar a arrecadação da bilheteria é visto como uma das fontes mais viáveis de receita para evitar o número vermelho diante da escassez de opções para cobrir o valor. A queda de braço, no entanto, ainda vem sendo contornada.
Entre planilhas financeiras e muita conversa, o presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, foi apresentado ao déficit previsto atualmente. Um dos argumentos deixava claro: o fato de que a arrecadação com bilheteria líquida de 2014 é bem inferior à conquistada em 2013 prejudicava até o futuro dos salários em dia. Aconselhado, Bandeira bateu o martelo e, apoiado por três vice-presidentes, bancou o aumento, ainda que estivesse ciente do desgaste político iminente.
A medida, claro, não agradou nem um pouco o departamento de futebol, principalmente o vice-presidente, Alexandre Wrobel. Tão logo assumiu o cargo, no fim de agosto, ele garantiu publicamente que os preços mais modestos, com mínimo de R$ 40 para o setor Norte do Maracanã, seriam mantidos. Contrariado, ele deixou claro internamente o desgosto com a decisão que o esvaziava externamente.
O valor do setor Norte, antes de R$ 40, pulou para R$ 50. O do setor Leste saltou de R$ 60 para R$ 90. O Setor Sul, onde parte é destinada à torcida visitante, foi catapultado de R$ 40 para R$ 70. Na conta rubro-negra, cada real a mais em arrecadação ajuda principalmente pelo fato de o acordo com o Consórcio Maracanã estipular um valor fixo de R$ 10 como custo de cada torcedor. Dentro das correntes políticas do clube houve quem atribuísse o aumento de ingressos ao vice-presidente de marketing, Luiz Eduardo Baptista. Bap, no entanto, está na Inglaterra e, mais longe de holofotes, foi apenas mais um a endossar a ideia quando consultado, sem ter sido autor da decisão que fez a Gávea borbulhar com uma nova crise. Preocupado com as consequências do desgaste, Bandeira de Mello chegou a conversar com Wrobel e assumiu o ônus do aumento dos preços.
O orçamento do Flamengo para 2014 era estimado em R$ 342 milhões e tinha como base oito pilares de arrecadação, entre eles a bilheteria de futebol. Mas o mau desempenho do time na Libertadores e no início de Campeonato Brasileiro prejudicou não só a arrecadação, mas também a projeção do programa de sócio-torcedor, que decaiu diante dos maus resultados.
Com a necessidade de angariar R$ 30 milhões para fechar as contas nesta temporada, o Flamengo ainda tem de lidar com o baque do calote da venda de Hernane para o Al Nassr, que resultaria em R$ 7 milhões para os cofres. O tema delicado do preço dos ingressos, no entanto, ainda vem sendo debatido. Há quem defenda, ao menos, o retorno do valor do setor Norte do Maracanã para os mesmos R$ 40 do recorde de público no Brasileiro, na derrota de 1 a 0 para o Grêmio, no último sábado.
Fonte: ESPN