Boa parte da magia do futebol foi vista na noite da última quarta-feira, nas inesperadas e espetaculares viradas de Flamengo e Botafogo, conquistando vagas que já pareciam perdidas, nas quartas de final da Copa do Brasil. Flamengo 3 x 0 Coritiba e Ceará 3 x 4 Botafogo foram jogos pobres em técnica (como quase todos desse Brasileirão) mas riquíssimos em emoções.
E nada é mais gostoso do que ganhar algo que parecia irremediavelmente perdido. É difícil dizer qual foi a vitória mais tensa e emocionante. Se a rubro-negra, com uma equipe mista, revertendo um placar dilatado, com direito a uma disputa por pênaltis cardíaca; ou a alvinegra, também de virada, com direito a dois gols nos últimos dois minutos dos acréscimos.
É verdade que tanto num como no outro jogo houve erros de arbitragem que beneficiaram os cariocas. Mas não aconteceu nada que se possa considerar escandaloso ou intencional. Tentar diminuir os feitos heroicos de Flamengo e Botafogo é inútil e demonstra apenas tolo ressentimento.
Em condições normais, pelos times que têm, nem um nem o outro podem sonhar com o título da Copa do Brasil. Mas se a lógica prevalecesse sempre no futebol, nenhum dos dois teria se classificado anteontem. Sonhar, portanto, é possível. E não custa nada.
RESSURREIÇÃO
Campeão brasileiro cinco vezes e, em determinada época, considerado por muitos o melhor técnico brasileiro, Vanderlei Luxemburgo já estava há sete temporadas sem ganhar nenhum título à altura de seu prestígio e, após inúmeros fracassos, sua carreira parecia decadente. A ponto de seu nome jamais ter aparecido na lista de possíveis substitutos de Felipão, após a humilhante derrota da seleção na Copa e ele estar desempregado desde o início de novembro do ano passado.
Essa sua volta ao Flamengo, porém, está se tornando estrondosamente triunfal. Nem o próprio treinador, em seus sonhos mais ambiciosos, poderia esperar resultados tão bons em tão pouco tempo — da lanterna do Brasileiro, o Fla pulou para a nona colocação e, na Copa do Brasil, conseguiu virar uma situação contrária que parecia irreversível.
Do que mais gostei, contudo, foi da postura tranquila do treinador, na entrevista coletiva, no Maracanã, após a classificação improvável. Muito questionado (inclusive por mim) por determinadas decisões (como escalar uma equipe mista em Curitiba) e manter no banco de reservas jogadores que têm decidido os jogos (como Eduardo da Silva e Lucas Mugni), Vanderlei se mostrou tranquilo, confiante e nem um pouco beligerante. Ao contrário, disse achar normal que haja opiniões contrárias às suas e que ele as respeitava, mas tinha que tomar as decisões baseadas no que estava vendo e fazendo no dia a dia do clube. Perfeito.
Se mantiver o foco no trabalho de campo (que sempre foi o seu forte) e levar esse limitadíssimo time rubro-negro a voos mais altos, Luxemburgo estará renascendo em grande estilo. E se souber agir diplomaticamente, na vitória ou na derrota, pode acabar até de volta à seleção brasileira (seu grande sonho). Afinal, ainda faltam quatro anos para a próxima Copa e Dunga tem muitos desafios pela frente — a começar por esse perigoso amistoso de hoje, contra a Colômbia, em Miami…
Fonte: Blog do Renato Maurício Prado