Tão bom morrer de amor [pelo Flamengo]! e continuar vivendo. Marcamos na plataforma do metrô. Pelo olhar, ainda de longe, as coisas não estavam bem, e só mesmo o Flamengo para salvar aquela noite. Isso mesmo, só o Flamengo, que precisava vencer de QUATRO gols de diferença pra avançar na competição, poderia salvar aquela noite. Eu eu tinha decidido classificar o time – Apenas isso – assim que o juiz apitou o fim da derrota lá em Curitiba. O trem se aproximou, abriu a porta, e resolvi fazer a pergunta derradeira, uma média, me aproveitando das circunstâncias: “Você quer REALMENTE ir ao jogo?” A porta do metrô escancarada pra gente, só chutar pro gol, e ele respondeu: “NÃO, quero ver em casa com você.” E a porta se fechou. Meu mundo caiu. Ingresso na bolsa. Ansiedade pela bola rolando. “Meião. Calção. Chuteira. Manto. E a força-gigante-da-natureza rubro-negra na alma”. E ele insistiu: “Quero ver em casa só com você.” E ficamos os dois ali parados, vendo o trem do metrô partindo. Naquele momento morri pela primeira vez na noite. E só tive forças para pensar: FUDEU. Como vou meter a bola pra dentro? Como vou cantar 90 minutos sem parar? Como vou xingar o juiz? Vaiar o batedor de pênalti deles? Como eu vou entrar em campo? E com todas essas questões na cabeça e no coração questionei: “Tá maluco, porra? Nós vamos pro jogo SIM, vamos trazer a porra dessa classificação pra casa, caralho!!!” Nessas horas as aulas de Educação Moral e Cívica do Sacre-Coer fazem a diferença. E um novo trem parou na plataforma. Dessa vez, entrei. E pedi para São Judas o primeiro milagre: que ele viesse atrás. E ele veio. Vendo a porta se fechar, agora por um outro ângulo, falei aliviada: “Você não vai se arrepender.”
O resto dessa história você já sabe. Viveu. Chorou. Se emocionou. Cantou. Se desesperou. E Comemorou. Como eu, ele, e mais 20 mil alucinados rubro-negros, que torceram sem parar. Amaram o Flamengo sem parar. Como um casal de idosos, ao nosso lado. Confirmando o que meu coração rubro-negro me diz a todo instante: O que o Flamengo uniu, ninguém separa. Ele com um radinho de pilha colado no ouvido. Ela de casaquinho de crochê, com a camisa do Flamengo por baixo. Quantas histórias, quantas vitórias épicas, quantas voltas pra casa em estado de graça. Voltei a viver, depois de morrer com o penalti batido pelo Léo Moura. Voltei a viver com cada defesa do Paulo Victor. Voltei a viver com a torcida que não desistiu. Com os pulinhos do Luxa na beira do campo. Com o time ajoelhado durante as cobranças. Com a menina que ria, sorria, gargalhava quando o pai a jogava pro alto em cada comemoração. Voltei a viver com ele, que quando a porta do vagão se fechou. Se inflamou do amor rubro-negro dizendo: “Eu não vou me arrepender. Vamos vencer. Vamos fazer 3 gols.” O amor pelo Flamengo não nos decepciona. Alguns jogadores podem nos decepcionar. Dirigentes, Técnicos, Diretorias, Situação ou Oposição. Decisões.O Flamengo NÃO. O Flamengo não nos decepciona. Comecei essa crônica baseada em fatos quase reais, em sonhos, em desejos, em amores, com o Quintana. Inspirada nele, digo para os próximos adversários, para a torcida arco-íris e quem mais chegar…Todos estes que aí estão…Atravancando o meu caminho…Eles passarão. Eu passarinho! [Poeminha do Contra]. Tão bom morrer de amor e continuar vivendo. Com o amor dele.
Vivi Mariano
Fonte: Magia Rubro-Negra