Vou confessar uma fraqueza: quando o Mengão perde eu não gosto de ler jornal e não assisto ao Globo Esporte nem amarrado. Acho desnecessário. Já perdemos o jogo, pra que ficar se torturando com malditos replays? O dia seguinte às derrotas do Maior do Mundo é o dia da rafaméia mal vestida e rancorosa estabelecer um cessar-fogo na sua luta eterna contra a inteligência, se ilustrar um pouco e desfrutar dos prazeres da nossa pujante produção cultural. Leiam jornal, vejam TV, comentem no Urublog, aprendam alguma coisa, buchas. Aproveitem este breve remanso porque em muito pouco tempo o Flamengo estará de volta a assombrar seus dias e aterrorizar suas noites mal dormidas.
Mas enquanto o Flamengo não emerge do fundo do lago escuro, o que é uma questão de horas, dias no máximo, não há problema nenhum em fazer uma resenha humilde sobre os últimos 90 minutos de nossas vidas. Mengão jogou mal à beça e foi incapaz de se impor sobre um time ainda mais frágil que nós mesmos. Coisas da vida, já aconteceu antes e não é motivo de preocupação exagerada. Mas uma coisa na pelada de ontem me chamou a atenção negativamente: a aparente falta de vontade da mulambada.
Em nome da justiça de da isenção é preciso dar todos os descontos antes de acusar qualquer um dos nossos jogadores de chinelismo. Sabemos que a televisão e a paralaxe distorcem legal as imagens. Mas lá do alto do meu sofá a impressão é que os nossos diletos come-e-dorme não se empenharam suficientemente durante a partida. O que seria, se confirmado, uma falta gravíssima.
Aceitamos resignados a perebice, os altos salários e até mesmo a intrigante inimizade de alguns dos nossos atletas com a bola. Mas não admitimos e não aceitaremos jamais a hematofagia e a economia de suor porque estas não seriam atitudes flamengas de raiz. Pra não encerrar o assunto deixando no ar uma suspeita de difícil comprovação só digo que já vi times do Flamengo correrem mais do que o time de ontem correu.
Por outro lado esse time do Flamengo possui uma característica em especial que o aproxima do way of life mulambo como poucos. Falo da atração pelo perigo e da irresistível tendência de se aproximar mais e mais do precipício. Um comportamento típico dos rubro-negros de todas as cepas, acostumados a caminhar altaneiros pelo fio da navalha que circunda o topo da cadeia alimentar do futebol. Esse time do Mengão parece que só sabe jogar com a corda no pescoço, e a corda não pode estar frouxa, tem que estar apertada. Como a maioria de nós, esse time do Flamengo curte viver perigosamente. É radical na mais radical acepção do termo.
Nesse sentido, pouca valia tem as nossas reclamações, já que no fundo todo mundo que é mesmo fechado com o certo se amarra nesses perrengues. E esse time do Flamengo, com todos os seus defeitos e bugs, tem nos entregado doses generosas de emoção. É coisa de maluco, mas quem decidiu torcer pro Flamengo achando que ia se divertir o tempo todo foi enganado pelo vendedor. Mesmo porque a vida não é só abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim. Valeu, Mengão! Já tava com saudade de te xingar.
Fonte: Urublog