Após mais de um ano da reabertura do Maracanã para utilização pelos clubes do Rio, já se pode analisar mais precisamente os impactos dessa nova realidade aos cofres Rubro-Negros. Vale relembrar que, por determinação do Governo Estadual, o estádio passou a ser gerido pelo Consórcio Maracanã Entretenimento S/A que, mesmo sem ter investido um centavo sequer no complexo, foi o vencedor do edital público do qual os clubes – justamente os que geram eventos e renda – foram impedidos de participar.
Sem alternativa, três clubes do Rio assinaram contrato com o consórcio: Flamengo, Fluminense e Botafogo. O SóFLA fez um estudo comparativo dos três contratos. Foram considerados todos os jogos realizados por essas três equipes em todas as competições até o último dia 18, com exceção do falido Campeonato Carioca – que não entendemos como parâmetro para qualquer pesquisa desse porte.
No período analisado, Fluminense e Botafogo fizeram, cada um, 31 jogos no estádio – 34% do total – sendo que a soma desses jogos atingiu 32% do montante (16% cada) arrecadado com bilheterias. Por outro lado, mesmo tendo realizado apenas 28 jogos, 31,1% do total, o Flamengo gerou R$ 17,5 milhões para seu “sócio”, o equivalente a 68% da receita total com bilheterias. Ademais, se desconsiderássemos os jogos do Botafogo na Libertadores – considerando que sua participação não se repete com frequência –, esse percentual subiria para mais de 72% – uma demonstração ainda mais vigorosa do peso do Flamengo para a sustentabilidade financeira do equipamento.
Cabe salientar que 13,1% dos valores pagos pelo Botafogo ao consórcio foram apurados em dois jogos contra o Flamengo em que tinha mando de campo, jogos esses em que a nossa torcida foi maioria expressiva, naturalmente. No caso do Fluminense, também em dois jogos, esse percentual sobe para 23,3%. Portanto, boa parte da fatia arrecadada pelo consórcio com nossos rivais tem grande parcela de contribuição da força da torcida do clube mais popular do país.
Outro dado relevante é que somente a receita obtida pelo consórcio nos três últimos jogos do Flamengo da Copa do Brasil de 2013 (Botafogo, Goiás e Atlético-PR) foi superior a tudo que os outros dois reuniram nesse período. A final da competição, inclusive, representou mais de 60%, em termos de receita, do que contribuiu o Fluminense e quase 61% do que gerou o Botafogo – reforçando que excluímos o Campeonato Carioca desta pesquisa.
Resumindo, o Flamengo paga a conta para os outros dois clubes usarem também o palco. E a conta é muito salgada.
Sabemos que o custo para abrir o Maracanã em cada partida envolve uma série de despesas fixas e variáveis – essas, majoritariamente, proporcionais ao público. Ainda assim, os valores divulgados nos borderôs não explicitam a composição dos chamados “custos operacionais” do estádio. Da mesma forma, não se sabe quais são os critérios de seleção dos fornecedores de serviços como segurança, bilhetagem e fiscalização.
As Demonstrações Contábeis do Consórcio Maracanã Entretenimento S/A, com prejuízo superior a R$ 48 milhões no ano em 2013, representam toda a incompetência e falta de experiência em administrar um estádio – a mesma incompetência que explica o fato de menos de 30% dos camarotes terem sido comercializados após mais de um ano de operação. Elas também apontam gastos superiores a R$ 10 milhões com “Serviços de Segurança”, apenas nos últimos seis meses do ano de 2013. Mais do que isso, o que transparece é o descaso na operação de um complexo esportivo que custou mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Como é de conhecimento público, o Flamengo enfrentou um cenário duríssimo durante a negociação com o grupo administrador do Maracanã. O surpreendente fechamento do Engenhão só contribuiu para aumentar ainda mais o poder de barganha daqueles que arrendaram um dos maiores patrimônios públicos do Rio de Janeiro.
Ainda assim, os números comprovam que, além da melhor torcida do estado (e do Brasil), o Flamengo conseguiu, após uma dura negociação, o melhor modelo (possível) de contrato – mesmo um pouco distante do ideal. No entanto, ele ainda é muito generoso com os “donos” do estádio, ao passo que aqueles que promovem o espetáculo não conseguiram alcançar uma divisão mais justa e menos leonina das despesas, fato esse que, se ocorresse, contribuiria para um maior investimento em jogadores, pagamento de despesas ou do nosso passivo.
No fim das contas, cabem as perguntas: que sociedade é essa? Ela beneficia quem? Não estaria faltando um pouco mais de equilíbrio? Afinal, somos parceiros?
Fonte: Sócios pelo Flamengo