A demanda é antiga. Desde que o Blog Teoria dos Jogos trouxe a público a distribuição geográfica do projeto sócio-torcedor do Corinthians, o Flamengo se tornara alvo para uma coluna com as mesmas informações. Após alguns percalços, felizmente a diretoria de marketing do Rubro-Negro se prontificou a disponibilizar esta importante informação em caráter totalmente exclusivo. Veja agora o número absoluto e o percentual de associados ao projeto Nação Rubro Negra por unidade federativa:
Nada menos que 70,32% dos sócios-torcedores se encontram no estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um número 13 vezes superior ao quantitativo do DF (5,62%), segundo colocado no ranking. São Paulo surge na terceira posição (3,27%), desbancando estados do Sudeste tidos como amplamente rubro-negros – como Minas (3,26%) e Espírito Santo (3,21%). Santa Catarina (1,65%), Bahia (1,48%), Amazonas (1,25%), Paraná (1,23%), Goiás (1,03%) e Mato Grosso (1%) superam a marca unitária. No final da tabela surge o Rio Grande do Sul (0,19%) junto às três unidades menos populosas da federação: Amapá (0,18%), Acre (0,16%) e Roraima (0,14%).
Não seria diferente em um projeto focado em ingressos: a associação ao Nação Rubro-Negra só faz sentido aos que adquirem o produto “jogos no Maracanã”. No encontro que tivemos com o departamento de marketing do Flamengo, interpelei os responsáveis sobre o desincentivo associativo àqueles fora do estado do Rio. Argumentei que do tripé “ingressos + produtos + direito a voto”, o Nação Rubro-Negra só oferece a primeira opção – embora a última seja complexa pela fervilhante política do clube. Respondeu-se que a inserção de produtos (ex: camisas oficiais) encontra barreiras, embora não nos fossem esclarecidas quais. A distribuição de produtos como brindes também enfrentaria dificuldades pelo monopólio da Caixa sobre sorteios de qualquer natureza.
De volta ao perfil geográfico: a tabela seguinte utiliza informações extraídas do mapeamento promovido pelo Blog Teoria dos Jogos ao longo dos últimos três anos. Com base no tamanho exato da torcida do Fla em cada estado já mapeado, analisamos o índice de sucesso ou fracasso do projeto, numa comparação direta com os principais cases na área: as iniciativas de Internacional (onde 2,2% da torcida é associada) e Benfica, de Portugal (4% da torcida associada):
*Estados onde não se verificam substanciais diferenças entre torcidas de capital e interior. Números considerados foram os da capital.
ND: Não Disponível (Estados ainda não mapeados pelo Blog)
A surpreendente liderança do Rio Grande do Sul (0,93% de rubro-negros associados) é fruto de distorção por conta da base extremamente pequena – apenas 11.200 flamenguistas estimados. A verdade é que os 104 associados provavelmente correspondem a integrantes da Fla-RS, única embaixada do clube no estado. Entre “localidades rubro-negras”, apenas o Rio (0,50%) e o DF (0,42%) apresentam proporção de associados relevante, embora longe das referências do parágrafo anterior. Além destes, São Paulo (0,21%), Espírito Santo (0,13%) e Paraná (0,10%) possuem índice associativo aceitável. Os demais, em maior ou menor grau, se aproximam do traço estatístico. Destaques negativos vão para Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Acre, todos com 0,02%. E ao Pará, lanterna na estatística, onde míseros 0,01% dos torcedores são sócios.
A recente aproximação, por parte do departamento de marketing, da chamada “mídia alternativa” (blogueiros, colunistas e congêneres) foi providencial para demonstrar o quanto se vem trabalhando para mudar o estado das coisas. Mas em face dos números apresentados, não se pode permitir tão pouca penetração em estados onde a torcida do Flamengo atinge metade da população. Compreendem-se dificuldades que estão aí justamente para serem superadas. Mas enquanto os únicos trunfos forem ingressos e doações unilaterais – que visem tão somente o fortalecimento das finanças – é improvável que verifiquemos mudanças substanciais. A flutuação do número de associados ao sabor dos bons resultados não é boa notícia para um clube cuja torcida se encontra 80% fora do estado de origem.
Fonte: Teoria dos Jogos