Que nesta quarta-feira houvesse menos 100 mil pessoas que nos áureos tempos em que Flamengo e Galo promoveram embates épicos, pouco interessa. Porque a multidão rubro-negra e a significativa massa atleticana que compareceram ao Maracanã trataram de reavivar os anos dourados na base do GOGÓ. Para o Flamengo, no fim das contas não havia Zico ou Renato Portaluppi – os tempos são outros, claro, mas Gabriel e Paulo Victor fizeram das tripas coração para quem ninguém percebesse. Já o Galo parece viver num constante exercício de provação, profissão de fé, colocando seus padroeiros contra a parede, tentando ver até onde será possível reverter de forma monstruosa estes placares que sempre parecem definitivos, mas que invariavelmente nos últimos tempos acabaram reduzidos a pó. Não se cumpriu a promessa de um confronto que remetesse àqueles placares LARGOS de priscas eras, em que vermelho, preto e branco era tudo meio cinza na TV, que nos foi sugerida com o chute à queima-roupa de Eduardo da Silva e a defesa monumental de Victor com menos de dois minutos de jogo. Levir Culpi havia postado o Galo de forma mais precavida, com Pierre no lugar de Luan, mas as melancias se acomodaram e o Flamengo, que precisa de espaço para suas loucas aventuras ofensivas, tratou de esperar o Galo, que investia forte com Diego Tardelli, que depois se apagaria, mas até então era o gatilho mais rápido de Minas Gerais e outros três quartos de Sudeste. O primeiro tempo acabou igualado em zero, mas foram atleticanas as iniciativas mais claras. Na segunda etapa, tão logo Luxemburgo resolveu apostar em NIXON e ficou claro que a defesa do Galo se apresentaria como uma GARGANTA PROFUNDA: num daqueles súbitos arroubos de ofensivismo, embalados pelo ESPECTRO de um Maracanã fervendo em chamas negras e vermelhas, João Paulo cobrou uma falta enviesada na trave de Victor. No rebote, Gabriel cruzou para a área e gol de cabeça de Cáceres. O Flamengo voltara melhor e se aproveitava de um Galo meio disperso, sem saber exatamente para onde apontar a espora. Justamente quando os atleticanos pareciam se ajustar no gramado, Gabriel foi tomado daquela volúpia digna dos ponteiros antológicos que volta e meia ainda se manifesta nos atacantes como uma natureza selvagem que sobrevive às burocráticas e civilizatórias funções do meio campo. Ele driblou de cabeça e disparou pela esquerda, encarando dois atleticanos como se às suas costas ainda fervesse em alegria e folclore a antiga geral do Maracanã. Olhou bem pela fresta e enveredou pelo meio dos dois, sofrendo pênalti em um carrinho de CANGOTE de Josué. A alegria manfesta-se de diferentes formas, inclusive com a nuca alheia. Chicão bateu, Victor se esfalfou na relva e o resultado foi inapelável. Um sonoro, reluzente e truviscante 2 a 0 despontava no placar do Maracanã.
O Galo se alvoroçou para tentar diminuir, mas quando tudo mais falhava nas hostes flamenguistas, havia a presença imperturbável de PAULO VICTOR, que praticou uma memorável sequência de defesas que teve como EPICENTRO uma intervenção aos pés de Dátolo. O Flamengo mostra, novamente, que está se tornando AUTODIDATA em termos de Copa do Brasil – não interessa a circunstância ou o adversário, quando todos mais titubeiam, a camisa rubro-negra emerge na reta final. O grande tira-teima, a regra de três, a prova dos nove, será confirmar o placar contra o Galo, que nos últimos anos já promoveu incontáveis e improváveis reviravoltas continente afora – seguindo a recente mística atleticana, o placar agora está mais aberto do que se tivesse sido 0 a 0. E, prova de que não restou nenhum INOCENTE na Copa do Brasil, é que a outra semifinal está ainda mais em carne viva: o Cruzeiro bateu o Santos por 1 a 0, placar tímido mas HONESTO, já que os estrelados não levaram gol em casa. A volta, no entanto, será na Vila Belmiro, e lá as coisas são bem mais difíceis para todos os times, especialmente aqueles que não são o Santos.