Roberto Dinamite foi à Brasília todo esperançoso ontem. Como não é segredo para ninguém, o Vasco está devendo dois meses de salários. E precisa urgentemente de dinheiro. No início de novembro, completará três meses. Já há a promessa de um empréstimo bancário para quitar pelo menos um mês e não perder legalmente seus jogadores.
O contrato com a Caixa Econômica Federal terminou em agosto. Dinamite havia ouvido que não seria renovado até o fim das eleições presidenciais. Com a reeleição de Dilma e, por enquanto a manutenção de Jorge Fontes Hereda como presidente, o dirigente vascaíno apostou alto. Em vez dos R$ 15 milhões que seu clube recebia, queria R$ 21 milhões. Ofereceria a frente e também o verso do uniforme da cruz de malta.
Mas Dinamite voltou preocupado de Brasília. Ouviu que ainda não está garantida a manutenção da política de investimento do banco estatal no futebol em 2015. Vai depender da postura do novo ministro da Fazenda que Dilma vai nomear no lugar de Guido Mantega. Há uma disputa acirrada. Os nomes mais cotados são de Rossano Maranhão, ex-presidente do Banco do Brasil e executivo do Safra; o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco; e o economista Nelson Barbosa.
O novo ministro pode manter ou não Fontes Hereda. O baiano presidente da Caixa viu no futebol uma maneira de não só fortalecer o nome do banco, como fazer política com os patrocínios. Hoje é a entidade que mais investe no futebol brasileiro. Coloca um total de R$ 106 milhões anuais em 14 clubes.
Na Série A, são sete os clubes agraciados. Corinthians, R$ 30 milhões; Flamengo, R$ 25 milhões, Atlético Paranaense, Coritiba e Vitória ganham R$ 6 milhões. Figueirense embolsa R$ 4,5 milhões. E a Chapecoense, R$ 4 milhões. Na Série B, o Vasco era o privilegiado, R$ 15 milhões. O Atlético Goianiense recebe R$ 2,5 milhões. O Paraná Clube, o América do Rio Grande do Norte e o ABC, R$ 2 milhões. Na Série C, CRB e ASA de Arapiraca, R$ 500 mil cada um.
A decisão do banco estatal começar a investir no futebol foi política. Em 2012 para fortalecer os clubes. Deixá-los atrativos. Aumentar o clima de euforia com a chegada da Copa do Mundo. A própria Dilma foi aconselhada a autorizar os investimentos em clubes populares. Principalmente Corinthians e Flamengo, os com mais torcedores, e eleitores, foram os mais agraciados. Fizeram os melhores contratos.
Como retorno nestes dois anos de investimento maciço no futebol, a marca Caixa se fortaleceu. Passou a ser o banco mais citado em pesquisa com torcedores. Mais até do que o Itaú que já acertou a renovação de contrato com a TV Globo por R$ 225 milhões. Esse é um argumento para Hereda tentar continuar a gastar R$ 100 milhões com as camisas dos clubes de futebol.
Mas tudo dependerá do novo ministro da Fazenda. Por um motivo muito simples. Há muita reclamação, pressão de políticos influentes ligados a clubes esquecidos pela Caixa. Palmeiras, Santos, Fluminense, Botafogo são os mais insistentes. O banco se defende exigindo a Certidão Negativa de Débitos (CNDs).
As famosas CNDs são documentos emitidos pelos órgãos públicos declarando que uma determinada empresa não possui débitos ou pendências com aquele órgão na data de sua emissão. Para poder participar de licitações ou tecer acordos com os órgãos públicos é necessário que a empresa tire as CNDs tanto dos órgãos municipais, quanto estaduais e federais. Os mais comuns são da Receita Federal e do Instituto Nacional do Serviço Social (INSS).
A título de curiosidade, há outras pendências que o clube interessado não pode ter. E são exigidos vários documentos provando que não haver dívidas ou protestos. Certidão Negativa do Imóvel, Certidão Negativa de Protesto, Certidão Negativa de Processos Cíveis, Certidão Negativa de Execuções Fiscais, Certidão Negativa de Falência e Concordata, Certidão Negativa da Justiça do Trabalho, Certidão Negativa da Justiça Federal, Certidão Negativa de Testamento, Certidão Negativa de Tributos Imobiliários, Certidão Negativa de Tributos Mobiliários, Certidão Negativa de Fundo de Garantia, Certidão Negativa de Débitos Previdenciários, Certidão Negativa Pessoa Física, Certidão Negativa Criminal, e Certidão Negativa Antecedentes Criminais.
Todas essa exigências funcionam como escudo da Caixa por exemplo contra Botafogo e Fluminense e outros. que possuem dívidas públicas. Palmeiras e Santos suaram sangue, mas conseguiram a documentação. Há a possibilidade de que o banco estatal renove só com os principais clubes do país, Corinthians e Flamengo, abrindo mão dos demais. Cruzeiro e Atlético Mineiro têm patrocínio do BMG. Ganham R$ 12 milhões cada. Internacional e Grêmio recebem R$ 13 milhões do Banrisul.
Se a filosofia de investir no futebol da Caixa Econômica vai depender do novo ministro da Fazenda, o acordo entre políticos para o Proforte continua. O deputado federal, Vicente Cândido do PT, foi reeleito. Ele encabeça o lobby para o perdão de R$ 4 bilhões de dívidas dos clubes com a Receita Federal e INSS. A aprovação seria muito mais importante do que qualquer patrocínio. O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, também se esforça para que o projeto seja aprovado. A CBF apela para sua bancada da bola para que o Proforte seja aprovado. Lembrando, a bancada da bola são deputados e senadores que atuam em Brasília, simpáticos à entidade que comanda o futebol no país.
O interessante é que quando o Proforte começou a ser imaginado, há quase três anos, a dívida dos clubes com o governo era de R$ 4 bilhões. Mas a incompetência e irresponsabilidade dos dirigentes fez com que ela já chega em números assustadores: R$ 6 bilhões. Ou seja, mesmo que esses R$ 4 bilhões sejam liberados, não serão suficientes para acabar com os débitos.
A ligação de políticos e a CBF tem o seu ápice em uma associação surpreendente. O deputado federal do PT, Vicente Cândido, é sócio do presidente da Federação Paulita de Futebol e já eleito presidente da CBF, Marco Polo del Nero. São donos de um escritório de altíssimo luxo. Muito frequentado por políticos e dirigentes de futebol, o local fica na rua Padre João Manoel, no elitizado bairro de Cerqueira Cesar, na capital paulista. O Proforte é assunto recorrente no escritório…
Fonte: Blog do Cosme Rimoli