Num momento em que se discutem fair-play financeiro, Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE) e refinanciamento da dívida bilionária de clubes de futebol, a maioria dos times brasileiros tem despesas operacionais mais altas do que receitas operacionais. Vamos simplificar: a maioria gasta mais dinheiro do que ganha numa temporada, velha fórmula para o endividamento.
A pedido do blog, o Itaú BBA, cujo estudo sobre finanças dos clubes foi divulgado há poucos dias, cruzou dados dos 20 principais times brasileiros – toda a primeira divisão, com Vasco no lugar da Chapecoense. Foram comparadas despesas com receitas referentes a 2013. Há um detalhe importante que diferencia esta análise: nas receitas, não foram contabilizadas transferências de atletas, porque esta é uma receita muito volátil, que varia muito entre um ano e outro e que camufla a real capacidade da gestão de conseguir dinheiro. Não há nenhuma garantia que haverá todo ano novos Neymar ou Lucas para vender. É assim que se analisam finanças no futebol europeu. Os percentuais abaixo mostram quanto despesas representam em relação a receitas. Para ficar mais fácil, considere que uma pessoa que ganha R$ 1.000 e gasta R$ 1.200 por mês apareceria nesta lista com 120%, isto é, ela gasta 120% o que ganha e teria uma dívida a pagar no mês seguinte. Se, por outro lado, esta pessoa gasta R$ 700 por mês, ela apareceria na lista com 70%, pois gasta 70% do que ganha. Dos 20 clubes analisados, 13, mais que a metade, gastam mais do que arrecadam. O pior caso, do Figueirense, é simbólico. Como foi rebaixado do Campeonato Brasileiro em 2012 e jogou a Série B em 2013, as receitas caíram quase pela metade, e as despesas se mantiveram altas. Foi o rebaixamento que derrubou o faturamento, neste caso, mas poderia ser um momento de crise no mercado, de retração dos patrocínios, de estádio fechado para reforma, todas situações que afetaram quase todos os clubes nas últimas temporadas. O clube, em vez de cortar despesas na mesma medida que perdeu receitas – ou até mais, por segurança –, deixou-as ali e passou a gastar 182% do que ganha. E o Flamengo conseguiu ficar na melhor situação. Com R$ 273 milhões em receitas sem atletas, faturou significativamente mais do que os R$ 200 milhões de 2012 graças a aumentos consideráveis em bilheterias, patrocínios e sócios-torcedores. As despesas subiram, de R$ 153 milhões para R$ 197 milhões, porém numa proporção menor do que as receitas. Isso fez o Flamengo gastar 72% do que ganhou. Foi o time que mostrou estar mais pronto para mudanças que virão ao futebol brasileiro depois que a LRFE for aprovada e regulamentada pelo governo, apesar do enorme endividamento que carrega. Todos os dados foram extraídos de balanços patrimoniais dos clubes e analisados pelo Itaú BBA.