O novo momento do esporte brasileiro, a saída de investidores, o boom dos eventos, as novas frentes de atuação do Campeonato Potiguar de Futebol, a crise do vôlei com a saída do Banco do Brasil são alguns dos assuntos que o jornalista Alan Oliveira comenta nessa entrevista. Diretor da empresa que assessora a Federação do RN de Futebol na área de marketing defende parcerias com a iniciativa privada para fomentar o esporte nas escolas públicas, destaca o crescimento do MMA e garante que a solução para viabilidade dos clubes está no programa sócio-torcedor.
Como avalia o novo momento de investimentos no marketing esportivo?
O momento Copa do Mundo, da prévia, já acabou. Muitos foram as empresas que investiram forte no setor. Agora é um período de ativar quem está satisfeito com os resultados, principalmente dos últimos quatro anos. A economia do Brasil não passa por um bom momento, não segredo para ninguém, ou seja, exibe criatividade ao lançar bons produtos, fidelizar os parceiros e realizar todas as entregas prometidas. O mercado de marketing esportivo está cada vez mais exigente e muitas vezes confundido só com comercialização de produtos, a captação de patrocínios. A comunicação é chave nesse processo e ter bons produtos faz toda a diferença.
E essa ‘bolha’ de patrocínios estourou?
Começou para algumas frentes de produtos. É preciso sempre inovar e ser rápido para ficar atento as mudanças no setor. Vamos lá! Em Minas Gerais, o BMG já anunciou o fim do patrocínio com Atlético Mineiro e Cruzeiro, campeões este ano da Copa do Brasil e do Brasileiro, respectivamente. No Rio de Janeiro, a Unimed deixou o Fluminense, agora com Guaraviton, após saída do Botafogo. A Caixa é uma grande dúvida para 2015, dependendo do posicionamento econômico após a chegada do novo ministro da Fazenda a partir do próximo ano. O patrocinador máster do futebol está sumindo, caso isolados e alguns como a própria Caixa e o Banrisul como o Grêmio e o Internacional, o que está fortalecendo os pontuais, marketing de oportunidade em eventos especiais.
E se a Caixa deixar de patrocinar o futebol?
A Caixa Econômica encontrou no futebol um grande negócio utilizando os clubes, cada um com suas particularidades, uma forma de patrocinar, de ter uma imagem simpática junto as torcidas das equipes parceiras. Mas ninguém consegue garantir tal permanência. Hoje, na Série A, são sete os clubes: Corinthians, R$ 30 milhões; Flamengo, R$ 25 milhões, Atlético Paranaense, Coritiba e Vitória ganham R$ 6 milhões. Figueirense embolsa R$ 4,5 milhões. E a Chapecoense, R$ 4 milhões. Na Série B, o Vasco era o privilegiado, R$ 15 milhões. O Atlético Goianiense recebe R$ 2,5 milhões. O Paraná Clube, o América-RN e o ABC, R$ 2 milhões, cada. Na Série C, CRB e ASA de Arapiraca, R$ 500 mil, cada um.
E qual a saída para viabilizar os clubes?
Em relação aos clubes, o programa de sócio. O Internacional é a grande prova, um case. Estive este semestre em Porto Alegre, recentemente, e constatei mais como eles fazem o sócio a grande estrela, a atração do clube. Fatura mais de R$ 40 milhões, por ano, valor maior que a cota de televisão. São mais de 100 mil sócios ativos, com 20% desse número que direito ao voto para eleger o novo presidente no último dia 13. O associado precisa viver o dia a dia de sua paixão. Além de cobrar time forte, ele gosta de participar mais, de ter desconto na rede credenciada, na loja, ter acesso com ou sem desconto aos jogos, estacionamento, acesso aos treinos, eventos, de ter experiências únicas com seus ídolos, privilégios que só ele oficial tem, fazer valer sua vantagem em relação ao simples torcedor que compra apenas o ingresso. Medidas com o programa que sejam de ações populares, como preço promocional de ingresso, são contra o futuro da maior arrecadação do clube: o sócio torcedor.
Está faltando patrocinador para investir no esporte?
O momento econômico fez mudar o foco de muitas empresas e a principal deles é apostar no local. Nosso cliente, o Campeonato Potiguar, com a Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF), tem tudo para ter muito mais empresas locais que nacionais em 2015, bem diferente de anos anteriores. Para o aporte de empresas de atuação nacional não há como atender vários estados, a resposta pronta que não há como patrocinar só um estado, sem fazer em outro. Agora é a hora do patrocinador local que tem tudo para ter a visibilidade com o futebol para vender mais seus produtos, ao fidelidade sua marca em público consumidor, em todas as classes, tendo uma marca simpática com todas as torcidas.
E como atrair as empresas locais para o Campeonato Potiguar de Futebol?
Na agência, na 10, fizemos um estudo e estamos com projeto pronto que tem tudo para ser pioneiro no Brasil. O poder público tem seu papel, claro, mas apresentamos para nosso cliente, a FNF, uma solução atrativa para empresas e torcedores, que nos próximos iremos anunciar. É um conceito de outlet americano, é garantir benefícios para os patrocinadores e quem vai ganhar muito é o torcedor.
A saída do Banco do Brasil do vôlei vai gerar uma crise para o esporte?
O Banco do Brasil fez muito pelo esporte brasileiro, pelo voleibol. Gerir recurso público no Brasil exige responsabilidade. Gerenciar o contrato do patrocínio da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol), parceiro do vôlei há 23 anos, como foi apontado pelo relatório final da Controladoria-Geral da União (CGU), é muita irresponsabilidade, com as denúncias apontadas. Os contratos irregulares, segundo a CGU, têm juntos o valor de R$ 30 milhões em pagamentos feitos entre 2010 e 2013.
O MMA é o esporte da vez?
É uma indústria que cresce muito. Ao ter a oportunidade de trabalhar este ano com o UFC, em Natal, observei o quanto engaja fãs, uma legião de apaixonados, consumidores pela marca, pelo esporte. Outra organização que está em excelente momento é o Bellator, no Rio Grande do Norte hoje com o único campeão mundial de MMA, Patrício Pitbull. Claro, não podemos esquecer de Renan Barão, do UFC, recentemente campeão, e um tantos atletas que estão sendo formados no Rio Grande do Norte, um celeiro de campeões.
O esporte educacional tem saída?
Há sim. O Rio Grande do Norte já revelou ídolos nas escolas, tais como Virna, Oscar, Juliana Felisberta e tantos outros. Acho que uma parceria público privada por ser a saída para fomentar essa atividade no Estado. A realização de mais eventos, premiar sistematicamente os destaques, garantir o resultado educacional de forma integrada faz toda diferença para formar o cidadão do futuro. O que observamos são ações isoladas. Esporte é educação, cultura, lazer, entretenimento, gera emprego e renda para o Estado e precisa está na pauta dos governos.
Quem
Alan Oliveira – Jornalista, pós-graduado em Administração e Marketing Esportivo, com curso de Gestão em Arenas Multiuso pela Trevisan, Alan Oliveira traz a experiência de quase 20 anos no setor de comunicação empresarial e esportiva. Foi destaque em 2010 e 2011 ao gerenciar o marketing do ABC ao conquistar 10 mil sócios, em apenas seis meses, fez a integração dos processos da transição no Náutico-PE entre os Aflitos e a Arena Pernambuco, é responsável pelo marketing da Federação Norte-rio-grandense de Futebol há 3 anos, recentemente iniciou consultoria ao Gama, do Distrito Federal, além de ser o sócio diretor da 10 Sports e da Fácil Comunicação, prestando de serviços de comunicação, tais como o UFC em Natal (2014), atletas, eventos, empresas, campanhas eleitorais.
Fonte: Tribuna do Norte