Já virou tradição nessas minhas esporádicas aparições aqui no Urublog conclamar a galera para apoiar o Mengão nos jogos pampeanos.
Normalmente a função do pré-jogo fica a cargo do patrão Mulamba, mas ele me dá essa moral nas vésperas das visitas do Mais Querido à cidade em que respondo pela briosa FLA RS, a menor Embaixada da Nação Rubro-Negra. Sim, aqui é o único rincão do Brasil onde a torcida do Flamengo é pequenina – embora, claro, ainda assim muitas vezes maior do que qualquer outro time que não seja a duplinha maldita da capital riograndense.
Cruzar o Rio Mampituba tem o mesmo efeito para nós do que a Kryptonita para o Super-Homem. Nós, acostumados ao triunfo, às conquistas épicas, aos êxitos desmedidos, aos castigos impiedosos aos que se colocam em nossa frente, nos tornamos inapelavelmente vulneráveis aqui nas margens do Guaíba.
A última vez que o Flamengo ganhou do Grêmio no Campeonato Brasileiro na casa do adversário a Bruna Marquezine não tinha nascido, o sucesso musical do ano era o Olodum cantando “requebra sim, pode falar, pode rir de mim”, a Internet ainda não tinha sido inventada, o Rei Leão estreava no cinema.
E tal como no filme Groundhog Day (“Feitiço do Tempo”), em que o personagem de Bill Murray fica preso no tempo e vive a mesma história durante anos, Eurico Miranda era o manda-chuva no Vasco e Felipão era o treinador do Grêmio naquele distante novembro de 1994, dia em que um poderoso time composto por craques do naipe de Isael, Marçal e Wallace Carioca finalmente conseguiu vazar a meta de Danrlei e fechar a conta em 1 x 0, gol de Nélio.
Um dia mágico, porque antes dele o Flamengo havia vencido o Grêmio apenas na inesquecível decisão de 1982, aquela mesmo, lá se iam 12 anos de jejum. Decisão, aliás, de alto significado histórico, porque tinha sido a primeira vez que o Flamengo derrotava o Grêmio em seus domínios.
Não sei se você prestou atenção, mas é isso aí mesmo. Em 44 anos de confrontos pelo Brasileirão, 2 vitórias e olhe lá. É pouco, mas é o que temos para oferecer.
E todo ano, todo santo ano, quando a tabela do campeonato é divulgada, a primeira coisa que a gente faz aqui na FLA RS é procurar a data em que vamos enfrentar o Grêmio. E, a partir daí, traçar nossos planos e acalentar nossos sonhos. Eu sei, já virei motivo de chacota com meu otimismo de Pollyanna, mas é sempre assim, o Flamengo joga, eu levo fé que esse ano vai dar.
Em 2014 já passei por diferentes projeções em relação a esse jogo.
Quando saiu a tabela, exultei de felicidade, certo de que aqui seria a festa do hepta. Fiz planos para encher a casa de amigos e tirar folga na segunda feira, à guisa de curar a ressaca.
Depois, quando a realidade foi se impondo, eu só implorava para que se o pior tivesse que acontecer, que a morte se consumasse antes de 7/12. Queria poupar os que me querem bem de serem surpreendidos com a minha presença no Fantástico, servindo de gancho para alguma piadinha do Tadeu Schimdt rindo de um senhor de meia idade chorando como uma criança.
Mais adiante eu impliquei por antecipação com outros torcedores do Flamengo, diante da possibilidade de Grêmio e Fluminense estarem lutando pela última vaga da Libertadores, o que poderia dar margem a um clamor rubro-negro por uma eventual entrega. Me imaginei Dom Quixote, brigando contra todos e exigindo uma vitória a qualquer custo, mesmo que ela representasse a classificação das florzinhas.
Por fim, só me restou torcer para que o jogo tivesse uma remota chance de classificação para os gremistas, para que eu pudesse rir da cara deles eliminados.
E agora, José? A noite esfriou, o dia não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou. O que eu faço? Para onde, José?
O Flamengo definitivamente deu adeus ao campeonato na véspera. Metade da rapaziada já está até de férias, sobrou um catadão qualquer para cumprir tabela. Até o chefe da firma recebeu bilhete azul. Ninguém parece estar dando a mínima para o que vai acontecer neste domingo.
Mas tem uns 200 e poucos loucos para quem a verdadeira decisão se desenrola nos próximos 90 minutos. Se não ganhamos e nem perdemos nada nesse 2014 murcho, só nos resta afastar essa maldição dos infernos, de ano após ano sonegar aos rubro-negros do Sul o direito de ser como qualquer outro, o direito de poder ver o time vencer.
O campeonato acabou sem terminar e geral já deu tchau, mas para a gente a verdadeira emoção começa agora. Por isso imploro e suplico, do fundo do meu coração: JOGUEM PARA VALER, JOGUEM COMO O FLAMENGO!
Vencer, vencer, vencer!
Walter Monteiro
Fonte: Urublog