“Esse processo de espanholização do futebol brasileiro tem de acabar. Eu não posso chegar e concordar que dois clubes tenham uma diferença astronômica dos outros. Sei a força do Vasco e tenho argumentos para discutir. O que não pode é querer empurrar goela abaixo para mim que o Vasco é a quinta, sexta torcida. Isso não vão empurrar nunca, não há hipótese.”
Essa é a promessa do presidente do Vasco, Eurico Miranda, para 2016. Ele já avisou José Maria Marin e Marco Polo del Nero. Quer a ajuda da CBF para renegociar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. E mais, buscará apoiar o projeto do deputado federal, Raul Henry, do PMDB de Pernambuco. O político propôs um revolucionário método de distribuição da cota televisiva no Brasil. Na verdade, uma cópia do que acontece na Inglaterra.
A maneira é simples e muito mais democrática. 50% da receita seriam divididos igualmente entre os times, 25% distribuídos de acordo com a classificação da equipe na última temporada do campeonato em questão e 25% repassados proporcionalmente à média do número de jogos transmitidos no ano anterior.
Neste país é tudo completamente diferente. A Globo negociou com cada clube. E pagou as cotas de acordo com a força de sua popularidade. Corinthians e Flamengo se tornaram o Real Madrid e o Barcelona nacionais. Ganham muito mais que seus concorrentes. Têm seus jogos exibidos muito mais que os concorrentes. Acabam por isso recebendo mais dinheiro de publicidade. Ganhando mais verba para formar elencos fortes.
A diferença é gritante. Corinthians e Flamengo ganham R$ 110 milhões. São Paulo, R$ 80 milhões. Vasco e Palmeiras, R$ 70 milhões. Santos, R$ 60 milhões. Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Fluminense e Botafogo, R$ 45 milhões. Tudo ficará muito pior a partir de 2016. A diferença para os privilegiados corintianos e flamenguistas só aumentará.
Flamengo e Corinthians passarão a ganhar R$ 170 milhões por ano. O São Paulo, R$ 110 milhões. Vasco e Palmeiras, R$ 100 milhões. Santos, R$ 80 milhões. Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Fluminense e Botafogo, R$ 60 milhões. Já está tudo assinado. Até 2018.
Se Eurico Miranda e o deputado Raul Henry querem mudar essa desigualdade na distribuição de dinheiro, algo precisa ser feito em 2015. Mas a CBF está de mãos amarradas. Ela não pode e não vai se voltar contra a Globo, sua eterna parceira. No Brasileiro e na Seleção.
Carlos Miguel Aidar só está esperando o primeiro ato de Eurico. Ele também quer fazer o São Paulo embarcar nessa cruzada. Como o dirigente teve problemas com a cúpula do Cruzeiro e Palmeiras, ele ficou isolado. Com Eurico de novo na presidente vascaína, Aidar quer transformá-lo em parceiro na criação de uma liga independente.
Eurico nunca se deu bem com a TV Globo. O auge da briga foi na decisão do Brasileiro de 2000. Na final, alambrados de São Januário romperam devido à superlotação. A emissora criticou demais a postura de Eurico, que desejava que a partida continuasse de qualquer maneira. Não foi. A decisão passou para janeiro de 2001. O Vasco entrou no gramado e foi campeão com uma camisa com o logotipo do SBT.
“Tendo sido caluniado, quis o Vasco homenagear quem não o caluniou. Tendo sido vítima de uma odiosa campanha de perseguição, a partir da desinformação e até mesmo da edição de imagens, quis o Vasco homenagear quem dá à opinião pública a verdade dos fatos para que ela os julgue”, escreveu, na época, Eurico Miranda, homenageando o canal de Silvio Santos.
Advogados conceituados garantem que não pode haver essa ingerência política na negociação entre a tevê e os clubes. Seria uma intervenção. Na Argentina, por exemplo, o governo estatizou o seu campeonato nacional. O projeto foi batizado de Futbol para Todos. Clarin e a empresa Torneos y Competencias perderam o direito de mostrar as partidas, apesar de ter pago para isso.A desculpa do governo foi ‘democratizar’ o futebol, já que partidas importantes só poderiam ser vistas no pay-per-view. Desde 2009 os jogos passaram a ser mostrados na tevê aberta por uma rede de tevês, capitaneada pela pública.
A Globo tem o respaldo da CBF e das assinaturas dos clubes. Não se submeterá, mesmo se o projeto de Raul Henry for aprovado. Não tem como voltar atrás em relação a pagar mais para Flamengo e Corinthians. Não quer. Deseja ter o direito de mostrar mais partidas dos clubes mais populares do Brasil. Apesar do crescimento fantástico do futebol mineiro, bicampeão brasileiro, campeão da Copa do Brasil e último vencedor da Libertadores. Os mercados que interessam à emissora continuam sendo os mais lucrativos, os de São Paulo e Rio de Janeiro. Uma batalha jurídica levaria anos. E com grande chance de nada mudar, já que foi acordado legalmente entres os clubes e a emissora.
Mas o que fazer com Eurico Miranda e o seu Vasco? Há a possibilidade de uma renegociação individual e aumento. Foi dolorido demais transmitir a decisão de um título brasileiro, com o campeão com o logotipo do SBT no peito…
Fonte: Blog do Cosme Rimoli