Falando de Flamengo – A história mostra o quanto é poderosa, importante, necessária e transformadora a participação dos torcedores na vida de um clube de futebol. Ela está presente em todos os movimentos de mudanças. Podemos claramente perceber que esse engajamento reflete em resultados financeiros positivos para seu clube do coração.
O Flamengo passou no ano de 1976 pelo primeiro movimento na história do clube que aconteceu de fora pra dentro, onde um grupo de executivos, empresários e empreendedores como Walter Clark e João Carlos Magaldi (Rede Globo), João Araújo (fundador da Som Livre), Newton Vieira Rique (Banco Industrial de Campina Grande), Carlos Niemeyer (Canal 100) e Marcio Braga (Tabelião) apostaram na mudança do Rubro-Negro, uma vez que nenhum dos novos membros faziam parte da antiga política do clube.
Tinham como meta atuar com um novo modelo de administração. Executivos egressos do mercado para profissionalizar o Mais Querido. Claro, obtiveram sucesso e apoio. Foi fácil? Não! Passaram por erros e acertos, mas todo este processo se perdeu em algum momento pelo caminho. E ao longo das últimas décadas, pudemos ver um clube endividado e estagnado, sem crescer ou gerar novas receitas, ficando todas as decisões de 40 milhões nas mãos de uma minoria que vota.
A recente retomada desse engajamento veio, mais uma vez, do movimento de fora para dentro, nascido de um sonho de transformar o Flamengo no clube potência do Brasil, fazendo com que o torcedor, unido, ‘derrubasse’ os feudos criados e seus cartolas. Mais uma vez, o movimento contava com a iniciativa de boa parte de não sócios.
Com esse breve histórico, podemos fundamentar o poder da massa em processos políticos nos clubes de futebol. Hoje o torcedor Flamengo representa (aproximadamente) mais de 19% da população. Em sua grande maioria, além de apoiar, possui reclamações e insatisfações com a gestão. Aí eu pergunto: Quais os dirigentes que param para ouvir, diretamente, olho no olho, o torcedor? Conhecem suas críticas? Suas sugestões? Suas dúvidas? E até mesmo suas motivações?
Precisamos ainda fazer uma provocação ao torcedor e não só aos dirigentes. Quem reclama do programa sócio-torcedor, já fez adesão e identificou onde estão os gaps? Quem tem um problema na compra de ingressos já reportou o problema? Quem entende que o clube tem uma nova estratégia financeira, já procurou contribuir de alguma forma? Finalmente, quem reclama dos dirigentes devem ser os primeiros a fiscalizá-los. Conhecer, antes de criticar, ajudar antes de pedir, colaborar antes de corromper.
Além de ser uma paixão, o Flamengo é um ‘produto’ que não tem como ser substituído. Tem no torcedor o seu maior ativo, o mais valioso deles. Uma mina de ouro. Não dá para ser ignorado. Será muito mais forte, será uma potência, tão logo perceba que a torcida precisa sentir-se parte do negócio. O clube pertence ao torcedor, bem como o torcedor pertence ao Flamengo. Está intrínseco.
O Flamengo vem conquistando novamente um espaço que, por direito, sempre foi seu. O de líder do futebol brasileiro, um exemplo de comportamento, austeridade e gestão. Os dois últimos anos evidenciam muito bem toda mudança. O próximo passo é mostrar a todos a verdadeira força da união entre a torcida e o clube. É preciso mostrar ao torcedor, que este Flamengo, respeitado, é a construção do engajamento de cada um.
Cada torcedor tem que ocupar o seu lugar como puder, e o clube precisa pensar fora da caixa e desenvolver projetos e parcerias para angariar novos sócios-torcedores, democratizando o clube e engrandecendo o futebol. Desta forma a Nação poderá contribuir para que o Flamengo possa ocupar, cada vez mais, o seu lugar na história.
Marcella Mello