Um dia a casa cai.

República Paz e Amor – Jurei pra minha mãe que em 2015 eu não ia falar mal do carioqueta. Não que eu tenha alguma esperança de que o campeonato praieiro esse ano vai ser bom, belo e justo. Mas é que quem ousa falar mal do nosso rural, além de ser multado em 50 mil royals, ainda corre o risco de ouvir impropérios dirigidos à progenitora. Em respeito à minha querida mamãe, que não tem nada a ver com zona em que transformaram o outrora prestigioso Campeonato Carioca, prefiro ficar no sapato, só observando.

Mas o meu juramento não me impede de comentar o jogo de ontem em Macaé, desde que o faça com a isenção e a imparcialidade à toda prova que já são parte da minha personalidade. O primeiro desconto que você, caro leitor, precisa me dar é que vi o jogo pela TV. Ou seja, só pude observar aquilo que os câmeras e os diretores de imagem achavam que eu deveria ver. O que significa dizer que não faço a menor ideia do que rolou no vestiário do Macaé no animadíssimo evento vândalo do pré-jogo, lamentavelmente não transmitido em tempo real.

Pelas imagens da invasão de vestiário as quais tive acesso, um vídeo de telefone meio tosco, pude perceber muita gente atravessando com pressa um corredor, como se estivessem se dirigindo do ponto A para o ponto B. Nada de refrescar com os violentos marginais que se escondem no seio de algumas TOs, ainda sou 100% contra a violência em quaisquer das suas formas, mas pelas imagens não pude perceber nenhuma postura bélica nesses transeuntes. Lembrou um pouco aquela impagável cena da invasão do Centro de Imprensa do Maraca por uma chusma de chilenos sem ingressos durante a Copa. Lembram do mico daquela parede caindo e a jornalistada em polvorosa?

Não estou dizendo que não rolou porradaria, roubo e agressão. O que estou dizendo é que pelo que vi no vídeo não dá pra chegar à conclusão alguma. Ou melhor, só dá pra concluir que a segurança ali naquele setor do estádio estava visivelmente insuficiente. O que nos permite extrapolar que a mesma era insuficiente em todo o Moacyrzão.

Quem era o responsável pelo estádio? O mandante? Mas tem mandante nesse campeonato? Bom, seja quem for, uma coisa é certa: O Flamengo não tem nada a ver com essa baixaria. O Flamengo foi até a capital petrolífera fluminense para lá jogar bola e, apesar da descortesia do Macaé ao não nos emprestar o campo para treinamentos, cumpriu com todos os seus deveres de visitante.

Inclusive o escrotíssimo dever de levar gol do anfitrião. Se bem que esse gol, em especial, se deveu muito mais à tradicional maldição onomástica à qual o Flamengo está irremediavelmente circunscrito. Como se sabe, jogadores adversários com nomes inortodoxos costumam chacoalhar nossa roseira e Pipico estava lá pra ajudar o Mengão a seguir essa sui generis etiqueta. Que fase, jogador!

Eu nem achei que o Flamengo jogou mal. O Macaé não está morto, tem um esquema de jogo e botou correria pra cima da gente. O Mengão ainda está se descobrindo e fez o que pode pra segurar os cabras. Paulo Victor se contundiu seriamente, o melado jorrou no gramado e o arqueiro mito teve que sair. Na hora que a chapa esquentou o time foi Flamengo pra caramba. Em um momento o que era uma derrota embaraçosa se transformou em um empate heroico com um jogador a menos e centroavante no gol. Aplaudi.

Começamos mal o tal carioqueta, tropeçando já na primeira rodada. Mas isso já aconteceu em edições anteriores do rural e no final quem deu volta olímpica zoando a arcoirizada foi a gente. Ao analisarmos friamente a composição dos elencos e emocionalmente o peso das camisas dos participantes, tudo leva a crer que seremos campeões pela 34a vez. O que não seria nenhuma comprovação de que temos um bom time. Apenas confirmaria que somos os maiores do Rio. O que é algo que todos nós, e eles também, já estamos cansados de saber.

Arthur Muhlenberg

Coluna do Flamengo

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