República Paz e Amor – Eu gostaria de sempre ter dito que somos todos um pouco heróis quando damos moral pro carioqueta. E um pouco bandidos por ajudar a manter uma atividade não 100% virtuosa. Mas essa constatação (que humildemente considerei genial) só me ocorreu agora, zero hora de terça-feira. 30 horas exatas após o apito final de Flamengo x Madureira de domingo e 3 minutos após ter lido o mais recente post do Jorge Murtinho aqui no humilíssimo República Paz & Amor.
Com mil raios! Como escreve bem o filha da mãe. Além da linguagem escorreita e da fluência do texto, absolutamente invejáveis, Jorge é também um lançador de tendências. No lapidar O Tira-Teima Também é Burro ele lançou mundialmente a categoria post pós-jogo escrito por quem não assistiu ao jogo. Um verdadeiro achado, de assombrosa honestidade intelectual, que chega no momento certo para preencher uma importante lacuna na crônica esportiva brasileira. Não sei que lacuna é essa, mas Jorge Murtinho comprovou que é foda.
Porque se um cara como o Jorge, que nem viu o jogo, tem algo tão importante a dizer sobre Flamengo x Madureira é minha obrigação falar alguma coisa sobre a tétrica pelada do Raulinão. Não é pra competir, não. É que se eu, que além de escrever no blog também trabalho no Flamengo, não digo porra nenhuma, pode dar a falsa impressão de que eu acho que o carioqueta também não vale porra nenhuma.
Como se eu ao dizer nada estivesse, no fundo, dizendo que o Flamengo nessa época do ano deveria estar disputando amistosos festivos como se fosse os Harlen Globe Trotters do ludopédio. Doutrinando os povos, levando os nossos evangelhos e faturando milhões pelo mundo afora. O que seria uma interpretação maldosa e intrigante, e extremamente distante da realidade verídica dos fatos. Uma acusação marota, a qual repilo com veemência. Porque eu vi o jogo, mané! Eu sei o quanto me importo com a porra do carioqueta.
Vi pela TV, o que não melhora em nada a qualidade do espetáculo, ao contrário. E não gostei nem um pouco do que passou na telinha. O torcedor do Flamengo, qualquer um deles, que se dedica a acompanhar o Carioqueta é antes de tudo um estoico, aceitando sua carga de sofrimento sem choramingar. Como se não houvesse nada melhor pra fazer no horário dos jogos do Mengão. É bem verdade que, para a maioria de nós, não existe mesmo nada melhor pra fazer. Mas mesmo assim, cada um daqueles que compartilham tal padecimento, no estádio, pela TV, rádio ou internet, merecia ser pago por isso.
O campeonato carioca pode nos irritar por muitos motivos, mas pra ficarmos apenas no que acontece dentro de campo os principais fatores pro emputecimento são: a maioria das jogadas tentadas não acontecem, se chuta mal demais e a arbitragem é geralmente canhestra. Resumindo, no Campeonato Carioca o futebol, de maneira geral, é feio. E feio foi o jogo com o Madureira desde o inicio.
O Madureira soube neutralizar, com razoável facilidade, nossa principal arma ofensiva, o contra ataque em velocidade. Marcaram nossos velocistas em cima e deixaram o jovem Gabriel, no papel de pensador enquanto Artur Maia alisava o banco, encaixotado. Tanto Gabriel como Maia muitas vezes tentaram dialogar com seus companheiros de meia cancha, mas como Márcio Araújo e Cáceres já não são naturalmente de muita conversa e Canteros apresentava toda a sintomatologia de quem estava de chico, o papo não rolou.
E assim, futebolisticamente mudos, fazíamos a bola sair da defesa para o ataque sem qualquer fulgor. Nos aproximávamos da área mais crítica da cancha e entregávamos o balão ao companheiro mais aberto nas pontas para tentar um cruzamento da altura da intermediária em direção à zona do agrião. Cruzamento no mais das vezes inútil, que quando não era rechaçado pelos defensores do tricolor suburbano era desperdiçado pela sentida ausência de um homem de área no comando do nosso ataque. Nessa chuveiragem louca passamos os 45 minutos iniciais tentando martelar o martelão sem nem mesmo procurar saber onde estava o prego. E ainda arrumamos tempo pra tomar um golaço no chute de efeito do lateral madureirense. Que fase.
Fui pro intervalo do jogo fumegando. Porque ainda que eu não fosse um desinformado, um ignorante, e que não conferisse aos joguinhos de 6a rodada do nosso triste campeonatinho papa-goiaba a importância que seus próceres julgam devida, não tolero ver o Flamengo em posição de inferioridade no placar. Inda mais diante de um clube que nos últimos anos trocou as suas muitas glórias pregressas pelo papel duvidoso de esbirro de dirigentes de conduta controvertida na seara desportiva. Como se costuma dizer nos melhores pé-sujos da Ministro Edgar Romero “depois que Zaquia Jorge partiu Madureira nunca mais foi a mesma”.
O segundo tempo começou, trocou-se seis por meia-dúzia e o Flamengo continuou de roda presa, sem evoluir na avenida e irritando geral com sua ineficiência em doutrinar um pequeno. Irritação que, no meu caso ao menos, se devia mais à constatação de que não somos aquela Coca-Cola toda que alguns apressadinhos (eu mesmo) julgaram erroneamente que fossemos.
Mas o peso daquele Manto sobre os ombros é irresistível. Mesmo quando nos falta a técnica, quando a raça já não é mais suficiente, é o Manto que impulsiona a mulambada adiante. Como se estivessem sendo içados por força sobrenatural os nossos mulambos se lançavam à frente como cruzados diante das muralhas de Jerusalém. Planejamento não havia, a única tática era a da sobrevivência. Deus Vult! E tome cruzamento no bolo.
Até que uma hora a casa do Madureira caiu. Birimbolo clássico na área, chuta daqui, chuta de lá e a bola chutada no melhor estilo xiii, furei! por Bressan acabou entrando vários metros linha do gol adentro antes de ser estapeada pelo mal intencionado arqueiro do Madureira. O Flamengo empatou, valei-me São Judas Tadeu! A vida não é só sofrimento e pro troço todo ganhar alguma graça não poderia deixar de ter a bulha do chororô desenfreado dos mal vestidos e seus tira-teimas obsoletos e inconclusivos. A bola entrou, seus malas! Obrigado, Manto Sagrado, a mais poderosa vestimenta esportiva da história da humanidade, se não fosse por você, sei não…
Mas com Manto e tudo e dando a maior pressão no Madureira no fim da jornada o Flamengo deixou lá em Volta Redonda dois pontos que por direito lhe pertenciam. Dois pontos irrecuperáveis, que nos tiraram da liderança e deram uma sobrevida desnecessária aos sonhos psicotrópicos da arco-íris em relação ao carioqueta 2015. Algum aprendizado se tirou desse revés? Penso que para o time, não. Os erros que cometemos no domingo continuarão a ser cometidos, porque sua origem está na ausência crítica de talento que assola alguns integrantes do elenco. Se não chegar ninguém, paciência.
Mas para o torcedor, principalmente os mais alucinados, do joguinho safado se tirou uma valiosa lição, sim. Repitam comigo, classe: Não somos a Ferrari, a Mercedes ou o popozão da Paola Oliveira! É óbvio que não estamos com a bola toda. Putz, estamos longe disso. Vale o puxão de orelha em quem caiu nessa ilusão de ótica, nesse trompe-l’oeil futebolístico, de pensar que fazer 5, 6, 7 ou 8 gols em barras mansas, mesquitas ou vascas da gama da vida significasse alguma coisa sob o Sol. Não significa nada.
E nem poderia significar nada. Só um louco ousaria pensar que o Flamengo, que não foi exatamente brilhante em 2014, poderia forjar um timaço em 2015 após apenas 6 rodadas disputando um campeonato de reconhecido baixo nível técnico. E se por acaso alguém ainda tem dúvidas sobre o nível técnico do carioqueta deixo no ar a pergunta retórica (daquelas que não precisam ser respondidas: Dá pra levar a sério um campeonato em que o líder é o Foguinho? Fala sério! Os êxitos no Campeonato Carioca fazem mal ao discernimento.
Mas, voltando ao tema inicial dessas mal traçadas, ao contrário de Jorge Murtinho, tinha mesmo muito pouco a dizer sobre o infeliz Flamengo x Madureira. Só escrevi mesmo por honra da firma e porque fiquei boladão com o post que a este antecede. E confesso que me sinto feliz ao ficar nessa bolação, foi por isso que chamei pessoas que admiro pra fazer o República junto comigo. As aulas de Jorge, um texto cheio de lirismo da Vivi, os desenhos foda do Arnaldo, os shortinhos da Nivinha… Sei lá, mil coisas, são paradas assim que despertam em nós o que temos de melhor. Deixa quieto. Obrigado, muchachas y muchachos compañeros, por serem tão feras em seus ofícios.
Olha pro teu coração, rubro-negro justo e honrado. Refreia a tua ira. Já finda o Verão do Amor, que é como a pluma que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve. Não quero bancar o gato-mestre, cada um reclama do que quiser, mas acho que tanto num blog, como no Flamengo, como na vida, o segredo do sucesso está na qualidade do elenco que se consegue reunir.
Mengão Sempre
Arthur Muhlenberg
Arthur Muhlenberg é o cara. Textos inteligentes, fora do comum dentre a mídia esportiva. E ainda com uma boa visão do jogo no campo e fora dele, com uma escrita bem humorada. Sou fã dos textos desse cara.
Ainda bem que quando saiu do Urublog reuniu essa galera e fez o “República Paz e Amor”.
E a Nivinha…sem comentários…