Bap critica Ferj, custo do Maraca e lamenta volta de Eurico.

ESPN – Vice-presidente de marketing do Flamengo até o início de fevereiro, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, esteve na ESPN Brasil participando do Bate-Bola. Afastado oficialmente do clube após desentendimentos internos, Bap garantiu que vai ao menos tentar voltar ao clube, participando da eleição presidencial no fim deste ano.

“Claro que sim. Digo que eu saí do Flamengo, mas o Flamengo não saiu de mim. O núcleo do grupo que montamos está absolutamente unido. Dizem que nós brigávamos, mas o Wallim (Vasconcellos, vice d emarketing) é como um irmão que não tive. (Rodrigo, vice de finanças) Tostes é um outro amigo que conquistei. O (Rodolfo, vice de relações exteriores) Landim, o Gustavo (Oliveira) de comunicação. Com certeza a gente vai participar do processo eleitoral do Flamengo no fim do ano”, afirmou Bap.

O ex-dirigente ainda comentou alguns momentos de sua passagem pelo clube, que durou pouco mais de dois anos. Um dos episódios citados foi o período em que Mano Menezes esteve no comando do Flamengo, durante três meses, em 2013. Bap garantiu não ter entendido a saída até hoje e aproveitou para revelar um dos desejos do técnico para reforçar a equipe rubro-negra: o atacante Emerson, o Sheik, atualmente no Corinthians.

“Eu não entendi porque a primeira conversa que tivemos com o Mano foi na minha casa em São Paulo. Ele não queria em um local público. Quando Manoesteve lá em casa, nós deixamos muito clara qual era a situaçao do Flamengo. Não enganamos ninguém que vai trabalhar conosco. Nós fizemos um esforço, ele queria três jogadores. Um não conseguimos trazer. Hoje possio dizer que era o Emerson Sheik, mas o Corinthians cobriu. A relação era muito boa”, disse Bap.

Confira abaixo os melhores trechos do ex-dirigente em entrevista à ESPN Brasil.

RETORNO AO CLUBE

Eu, nesses dois anos e pouco de Flamengo, disse que eu saía do Flamengo e o Flamengo não saía de mim. Espero voltar. Eu ja contribuia antes, na gestão da Patricia Amorim (NR: a Sky, empresa da qual ele é presidente, chegou a patrocinar o clube). Foram dois anos muito intensos, já colaborava antes e continuo colaborando.

RAZÕES DA SAÍDA

Como em toda relação, tem um desgaste. E quando você acha que não pode fazer o que você acha adequado, você sai. Eu saí do Flamengo, mas o Flamengo não saiu de mim. Quando você tem um casal de amigos que separa, as pessoas ficam se perguntando se você separou hoje, ontem. Não é assim. É um processo, com o tempo. Esse episódio sozinho (rusga com a Ferj) não foi o mais relevante. Um conjunto de coisas vão te incomodando. Acredito muito na vida que quando você está incomodado e você pensa não está vingando, tem de entender que o clube não é de ninguém. Achei que naquele momento para a instituição Flamengo não era mais importante do que ninguém.

BRIGA COM A FERJ

Conceitualmente eu vejo que o futebol brasileiro tem algumas mazelas importantes. Uma delas é que um dos objetivos das federações, especialmente da carioca, não é de melhorar o ambiente do futebol. Acho que esse é o ponto pacífico. Então no meu ponto de vista você querer fazer acordo com quem não tem os mesmo objetivos que você fica no zero. Eu não acredito na Ferj, não acredito no modelo, que é falido. Os números estão dizendo. Flamengo foicampeão ano passado e teve um milhão de renda líquida. Jogou quatro meses no ano para ganhar a renda líquida de 6% ou 7% do ano. A conta não fecha. Você tem de pegar dinheiro emprestado, gerenciar fora de campo. Parece óbvio, mas no futebol não é óbvio.

PREJUÍZO COM O CARIOCA

As mudanças de regra se seguem ano após ano, sempre para pior para os clubes. Ano passado o Flamengo ganhou um milhão porque chegou à final. Se não tivesse chegado à final tinha perdido R$ 800 mil. Nesse ano se chegar na final ele pode perder um ou dois milhões. Não é preciso ter doutorado em matemática. Quando você tem uma Federação que saqueia os clubes, fica difícil lidar com isso.

FUTURO DO FLAMENGO

O Flamengo é o paciente que anda no corredor do hospital. Acredito que ano que vem o Flamengo vá receber alta. A situação ainda inspira cuidados. Esse é um processo natural porque a asfixia é tamanha que os clubes não vão ter outra opção a não ser cuidar de suas obrigações.

VOLTA DE EURICO AO VASCO

Vejo a volta do Eurico ao Vasco, mal comparando e sem querer julgar porque não o conheço pessoalmente, como uma volta ao passado do clube. Vasco foi campeão da Libertadores. É como querer trazer o jogador de oito anos atrás. O Eurico para o Vasco lembra os momentos de glória. É comum, é do ser humano querer voltar ao passado. Não significa que o vascaína apoie desmandos no futebol. Mas para ele quem sabe trazer o Eurico de volta volte a esse tempo. Ainda com Eurico o futebol muda e é dinâmico. Ele vai perceber que as práticas de 20 anos atrás não funcionam mais. É como a mágica que você fazia para a criança que cresceu. Seja porque o mundo muda, porque todos envelhecemos, mas você vai ter de ter um ajuste pela necessidade de sobrevivência dos grandes clubes.

MARACANÃ X MINEIRÃO

O Flamengo não tem um estádio. Se ele não tem estádio e tem potencial você tem de ter um sócio-torcedor robusto. Maracanã é caro. A cada 100 reais o Flamengo leva 28 ou 30. O Cruzeiro no Mineirão leva 78 para casa. Então o Flamengo tem de ter o dobro do público para levar a mesma renda. Se o Flamengo tivesse estádio o valor poderia ser menor. O programa de sócio-torcedor do Flamengo é o segundo que mais arrecada no Brasil.

O CUSTO DO MARACANÃ

Maracanã é um estádio muito grande para tomar conta. Limpeza é mais difícil, segurança é mais difícil. Essa arenas mais modernas são mais compactas. Os estádios de Champions League são mais compactos, construídos para ter o custo operacional possível. O Maracanã foi construído em 1950. Independente de ser Odebrecht, OAS, você vai ter de repassar esse custo para alguém. E o Rio de Janeiro tem meia-entrada e gratuidade. A cada quatro pessoas no Rio de Janeiro um entra de graça, dois de meia-entrada porque a Polícia Militar não cumpre o seu papel de checar a identidade. Essas pequenas espertezas, essa leniência…Isso tudo prejudica o ecossistema do futebol do Rio de Janeiro.

A SAÍDA DE MANO MENEZES

Eu não entendi (a saída) porque a primeira conversa que tivemos com o Mano foi na minha casa em São Paulo. Ele não queria em um local público. Meu vizinho viu e postou na rede social. Tinha repórter da ESPN me ligando antes da reunião. Não tem como esconder. Quando Mano esteve lá em casa, nós deixamos muito clara qual era a situaçao do Flamengo. Não enganamos ninguém que vai trabalhar conosco. Nós fizemos um esforço, ele queria três jogadores. Um não conseguimos trazer. Hoje posso dizer que era o Emerson Sheik, mas o Corinthians cobriu. A relação era muito boa. Naquele dia do Flamengo x Atlético-PR pela primeira vez fizemos uma reunião de planejamento para o ano seguinte. Qualquer um podia ficar louco com a virada de 4 a 2, mas o Mano não era nem Flamengo. Ele era rodado, foi técnico de seleção brasileira. e, verdade, eu não sei o que se passou na cabeça do Mano. Quero crer que o que ele falou para os jogadores no vestiário foi a verdade. ‘Não me sinto em condições liderar vocês, de ser líder como o que o Flamengo quer’. Pode acontecer. Acho que a forma com que a gente tratou o Mano e a maneira como ele saiu não foi legal. É um técnico vitorioso, competente, mas ficamos tristes com a forma como ele saiu e interrompeu um processo que com o tempo ia dar certo.