GE – É comum ver no noticiário um jogador que não soube aproveitar o bom momento para fazer um pé de meia e garantir-se para o resto da vida. E foi acompanhando esse tipo de informação e com conhecimento do mercado que o empresário Fabiano Lunz e o assessor financeiro Marcio Cezar decidiram tornar-se “anjos da guarda” da vida financeira de jogadores de futebol. Mas eles não estão sozinhos: o atacante Alecsandro, do Flamengo, e o zagueiro Dedé, do Cruzeiro, decidiram abraçar a ideia e montaram a sociedade.
O jogador rubro-negro tem na ponta da língua os motivos que o levaram a abrir o negócio.
– Errei muito, mas fazendo parte da empresa diminuí muito o erro. Quase zero. Antes, ficava na mão dos bancos. Hoje, tenho a própria empresa que consegue me colocar num bom investimento, no caminho certo – explicou Alecsandro.
Dedé vai além.
– Nós, jogadores, não temos a cabeça aberta para questões do mercado financeiro. Muitos pensam que vão ganhar um salário alto para o resto da vida, e essa não é a realidade. Foi depois que conheci uma consultoria profissional e pessoas sérias que abri a minha cabeça para uma questão importante: preocupar-me apenas com minhas obrigações de atleta.
Mas como surgiu a parceria? A história da empresa começou justamente pela experiência de Lunz e Marcio com atletas profissionais. Enquanto o primeiro foi supervisor do Vasco e trabalhou com Dedé, o outro foi gerente de grandes contas de um banco mundial, trabalhando inclusive com jogadores. A partir daí, até pela necessidade de alguns clientes, os dois perceberam que a empresa poderia iniciar a sua “vida” num ambiente até então pouco explorado.
– A ideia surgiu desde a época que eu trabalhava no Vasco. Via a necessidade de um acompanhamento mais próximo dos jogadores. Fazia isso dentro do clube. Questões básicas de rápida resolução: emissão de passaporte, visto… Coisas do dia a dia. Percebi que não existia alguém no mercado que fazia isso profissionalmente. Os jogadores sempre tinham um motorista ou um segurança que se metiam a fazer alguma coisa, mas tinham dificuldade de resolver. Comecei a pensar: posso sair daqui e montar um negócio mais amplo, mais profissional – contou Lunz.
Assim nasceu a Angel Sports Management, com sede na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Disposta a facilitar a vida dos atletas, a empresa cuida desde a parte financeira, incluindo investimentos, como compra e venda de imóveis, até o envio de dinheiro do exterior para o Brasil, já que muitos clientes de Lunz e Marcio atuam no exterior. Na lista, além de Alecsandro e Dedé, estão nomes como Rômulo, do Spartak de Moscou, Ari, do Krasnodar, da Rússia, Ramon Motta, do Besiktas, e Douglas, do Dnipro, da Ucrânia.
– Vimos a deficiência do mercado. Detectamos que muitos deles tinham potencial, mas não sabiam como investir e perdiam dinheiro por não saber fazer operações. Esses valores fazem diferença na vida financeira de um atleta lá na frente. Detectamos várias pessoas no mercado que se aproximavam dos atletas para se aproveitar disso. Podemos ser os anjos da guarda deles. Montamos uma empresa para fazer com que eles cresçam. Escutei uma vez de um executivo do futebol: “Faz isso (abrir a empresa) que você vai resolver o meu problema dentro de campo” – explicou Marcio Cezar.
A intenção é que os jogadores se concentrem apenas na carreira. Os serviços abrangem pagamento de contas, aquisição de passagens aéreas e a elaboração correta do imposto de renda dos atletas. De acordo com Lunz e Marcio, muitos clientes não pensam na vida pós-futebol. Para eles, o ideal é que cada cliente tenha consciência de que, ao se aposentar, os ganhos não serão mais os mesmos do período em que estavam em atividade.
– Hoje, um jogador ganha R$ 100 mil, R$ 200 mil… Quando ele parar, esse valor pode cair drasticamente, mas o custo de vida do atleta muitas vezes não muda. A nossa intenção é que ele tenha um pé de meia e garanta vencimentos parecidos com os que ganhava no período em que estavam atuando dentro de campo – exemplificou Marcio.
A parceria com Dedé e Alecsandro pode-se dizer que foi quase por acaso. O zagueiro do Cruzeiro entrou na sociedade porque já queria investir num negócio próprio. Disposto a abrir uma empresa ligada ao ramo de confecções, o defensor conheceu o projeto e acabou aderindo à ideia. Além disso, o fato de já ter trabalhado no Vasco com Lunz, que em Belo Horizonte foi também seu assessor pessoal, acelerou o processo.
O caso de Alecsandro foi bem parecido. O jogador foi apresentado ao projeto para transformar-se em cliente da empresa, mas gostou tanto da ideia que pediu para virar sócio. Atualmente, além de ter uma participação na Angel, o atacante do Flamengo é um dos sócios de outro empreendimento: o restaurante Padano, na Barra da Tijuca. Tudo de olho no futuro.
– A ideia começou comigo e com o Marcio. Estava num projeto com o Dedé de uma marca. Seria uma grife dele. Diante da necessidade de um espaço físico, procurei a loja para alugar. Falei com o Marcio que tinha a ideia de criar uma assessoria. A ideia começou a sair do papel, e o Marcio tinha um nome: Angel. Vendemos o produto para o Alecsandro, que nos disse: “Eu preciso disso. Mas em vez de pagá-los, quero ser sócio. Vamos montar um negócio grande, profissional.” Foi aí que surgiu a ideia do escritório – disse Lunz.
Mas Lunz e Marcio não estão sozinhos. Desde setembro, quando o projeto começou a sair do papel, a dupla corre atrás de parceiros para ampliar os negócios da empresa e conseguir as melhores oportunidades para os clientes. Fernanda Juliasse, também assessora financeira, é especialista em investimentos internacionais, e Vagner Meneses, conhecido como Fly, é o educador financeiro que ajudará o grupo com palestras sobre o assunto. A intenção é fazer encontros com jogadores das categorias de base dos clubes para mostrar como investir corretamente os vencimentos mensais.
– Unimos do mercado tudo o que o atleta precisa com o melhor custo-benefício para ele. A maioria deles procura profissionais que não conhecem o mercado e podem trazer transtorno. O barato pode sair caro. A visão é essa. De ser um anjo da guarda mesmo para eles. Protegê-los em todos os sentidos, viabilizando os melhores investimentos. Não temos acesso ao dinheiro deles. Nós os orientamos para não que eles não percam dinheiro, não tenham necessidade de se perder no caminho – contou Marcio.
Confira abaixo alguns exemplos de investimento da empresa:
Para exemplificar, a dupla contou alguns casos de como ajudou um jogador, que já atuou na Europa e recentemente voltou ao Brasil.
– Um atleta queria comprar um estabelecimento, estava fazendo a aquisição e queria pagar 50% à vista e financiar o restante em sete anos. A faixa de juros passava dos dez por cento ao ano. Nessa operação, ele ia pagar 25% a mais no negócio. Esses outros 50% tornariam-se 75%. Conseguimos abrir o olho dele e mostramos que ele poderia pagar os outros 50% em 12 vezes sem juros porque ninguém faria uma proposta dessas, com uma entrada tão elevada. Em uma conta rápida, se pegar o que não gastou e aplicar essa economia que teve, em dez anos, esse valor poderia virar R$ 2 milhões. Para nós, esse tipo de situação é um golaço.
Em outro caso, um apartamento foi pago dois meses após a aquisição.
– O financiamento imobiliário por um banco sai caro. O cliente queria dar uma entrada e pagar o restante em 20 anos. Oitenta por cento dessa valor é para quitar os juros. Sugerimos que ele fizesse um consórcio. Você paga uma taxa de 15% pelo mesmo período. Dois meses após o início do consórcio, o cliente foi sorteado e pegou o imóvel, que pode ser alugado. Esse valor pode servir para o pagamento das prestações.
Os envios de divisas para o Brasil por jogadores que atuam no exterior podem render lucros e dividendos. Lunz e Marcio explicam como ajudar os clientes.
– Um atleta queria enviar euro, e nós pedimos para segurar. Nessa coisa de centavos, num volume grande, o jogador ganhou R$ 60 mil a mais de um dia para o outro. Um atleta manda 300 mil euros, o dinheiro chega, eles querem mandar logo para a conta corrente. Estamos de olho nas notícias do mercado. Pedi para ele segurar porque tinha expectativa de alta, e numa operação ele ganhou R$ 90 mil. Quantos gerentes de banco fecham operações e não beneficiam os seus clientes?
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