Fonte: Blog Olhar Crônico Esportivo
Direitos de transmissão ou Broadcasting ou, ainda, “cotas da TV” ou “direitos de TV”. Os dois primeiros nomes – direitos de transmissão e broadcasting – são os mais corretos, porque essas receitas não se limitam ao valor recebido pelas transmissões dos jogos pelas emissoras de televisão. Elas incluem, também, a internet e a telefonia, e mais a TV paga por assinatura de campeonatos – o PPV – e as transmissões internacionais. Ao fim e ao cabo, porém, tudo isso vira o popular “dinheiro da televisão”.
A cada ano os torcedores mais e mais se interessam pelos assuntos financeiros envolvendo seus times e, naturalmente, o final de abril e o mês de maio são ricos em matérias as mais diversas falando sobre receitas, sobre verbas de marketing, sobre valores de patrocínio, o quanto rendem os programas de sócios-torcedores e, naturalmente, sobre aquela que é a maior de todas as receitas de nossos clubes, as receitas com os direitos de transmissão.
Ganham corpo, também, as discussões sobre valores de cotas, sobre concentração de rendas, sobre uma suposta “espanholização” de nosso futebol. Como essas referências são sobre contratos fechados entre duas partes básicas – emissora e clube – e não são abertos, muito do que se fala carece de fundamentação.
Vamos ver, inicialmente, uma tabela que mostra os valores declarados pelos clubes como sendo de direitos de transmissão. São números retirados dos balanços dos clubes, portanto, são oficiais.
Os valores lançados pelos clubes nessa conta correspondem ao que recebem como direito de transmissão em todos os campeonatos de que participam. Ou seja, não se pode dizer que ele seja a “cota de TV”. Porque as cotas são, basicamente, duas: Campeonato Brasileiro , a maior delas, e campeonato estadual. Além dessas duas competições, porém, há outras como a Copa Libertadores, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana. Todas pagam direitos de transmissão e esses valores são somados aos recebidos pelo Brasileiro e pelo Estadual. No balanço de 2012 o Corinthians lançou, também, o valor correspondente aos direitos de transmissão de seus jogos no Campeonato Mundial de Clubes.
Outro ponto importante: além dessa receita ser a somatória dos direitos de várias competições, de várias cotas, ela também inclui os pagamentos de luvas, ou seja, aquele prêmio que um clube recebeu por assinar um contrato. E aqui complica a história: há clubes que lançaram as luvas de uma só vez em seu balanço, engordando os números do ano, e há outros que distribuem o valor das luvas ano a ano. Primeiro caso – Corinthians. Segundo caso – Flamengo.
Nessa tabela apresentada fica evidente o grande salto nos valores recebidos a partir do novo contrato de cessão de direitos de transmissão, que foi assinado individualmente e não mais de forma coletiva, como ocorria com o Clube dos 13. Os novos valores, associados aos pagamentos de luvas pelo contrato e posteriormente por sua extensão, tiveram forte impacto sobre as contas de 2011 e 2012. Muitos clubes contabilizaram integralmente os valores das luvas como receita operacional num único ano ou em dois, na verdade, pois tivemos luvas pela extensão dos contratos. Outros, porém, diluíram essa contabilização no decorrer da duração do contrato.
Em suma: a receita com direitos de transmissão presente nos balanços dos maiores clubes não é sinônimo de “cota”. Isso ficará mais claro agora, com o detalhamento que veremos nas contas de um dos clubes.
Como é formada a receita com direitos de transmissão do Flamengo
Nesse ano, o Flamengo inovou na prestação de contas: além do balanço anual, hoje bem melhor e mais claro (atenção: claro não é, necessariamente, sinônimo de transparente; ao usar esse adjetivo em relação a balanços, quero dizer que ele é de fácil leitura e compreensão e que as contas e subcontas estão bem delineadas), embora ainda com muitas áreas necessitando melhorar, o clube lançou também seu primeiro Relatório de Gestão. Esse relatório aumentou sensivelmente a transparência envolvendo os números do clube. Valho-me dele para finalizar esse post.
Nessa prestação de contas a direção do Flamengo esmiuçou com riquezas de detalhes a formação da sua receita com o broadcasting, os direitos de transmissão.
Em 2014, o clube recebeu direitos pelos jogos do Campeonato Brasileiro da Série A, do Campeonato Estadual e mais: Copa Libertadores da América e Copa do Brasil:
Ah, então quer dizer que a cota do Flamengo pelo Brasileiro foi de 105 milhões, quase?
Não.
Esse valor do Campeonato Brasileiro foi formado por diferentes receitas:
Reparem que essas receitas incluem dois pagamentos de luvas – para PPV e para a TV de sinal aberto. Além disso, há também um valor excedente de PPV referente ao ano anterior, ou seja, quando foram fechadas as contas relativas à venda de pacotes PPV de 2013, foi constatado que houve excedente a ser distribuído aos clubes, cabendo então, ao Flamengo, essa soma complementar. Que mostra a importância decisiva das vendas dos pacotes de transmissão para os clubes brasileiros.
Voltem à primeira tabela, lá no alto… Vejam o salto dado pelo Atlético Mineiro. Uma parte desse crescimento pode ser atribuída ao crescimento de vendas do PPV.
Com a distribuição dos valores excedentes, vemos que o PPV representa mais da metade da formação da cota de direitos de transmissão do Flamengo, o mesmo ocorrendo com outros grandes clubes.
Já em anos anteriores tivemos declarações entusiasmadas de presidentes de clubes a respeito, alguns chegando a dizer que não queriam ver seus times no sinal aberto, preferiam que eles jogassem apenas com transmissão para os sinais pagos, pois dessa forma ganhariam mais com o PPV. Sim, porque mais torcedores comprariam mais pacotes PPV, o que seria identificado pelas pesquisas e reverteria em maiores receitas para o clube.
Os direitos de transmissão deveriam, em tese, corresponder a um terço das receitas operacionais de um clube. No Brasil, porém, ficou comum eles representarem parcela muito maior das receitas dos clubes, algo que precisa ser corrigido com o aumento das receitas com bilheteria, sócios-torcedores e marketing.
Vimos com esse post que não há, simplesmente, uniformidade nos lançamentos contábeis dos valores de broadcasting, da mesma forma que há uma boa diversidade na composição desses valores. Essa realidade mostra que não há muito sentido em algumas comparações que os torcedores gostam de fazer, como “quanto cada time ganha por jogo transmitido”. Justamente por essas enormes diferenças não só de contabilização, como também de composição das receitas.
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