Fonte: Teoria dos Jogos
Na semana passada o Flamengo anunciou a contratação do centroavante Paolo Guerrero, ex-ídolo do Corinthians e striker da seleção do Peru. À boa reação dos torcedores flamenguistas, seguiu-se verdadeiro bombardeio pelo suposto “fim da política de austeridade” reinante na Gávea. A razão: Guerrero deixaria São Paulo para ganhar mais que o dobro do salário, se consideradas as “escorchantes” luvas no valor de R$ 12 milhões.
Tal atitude gerou indagações como a do brilhante jornalista Mauro Cezar Pereira, que acusou parcela da mídia paulista de reagir exageradamente vendo um ídolo local pegar a ponte aérea em direção ao Rio de Janeiro. Com base na comparação fria dos valores que envolvem o mundo do futebol, o Blog Teoria dos Jogos se vê obrigado a concordar com o articulista da ESPN.
Primeiramente, nunca tantas análises recaíram sob um elemento até então pouco considerado como as “luvas”. De fato, elas foram mais altas do que de praxe. Isto porque Guerrero rompeu contrato com o Corinthians e internalizou um valor que os interessados teriam que pagar ao clube paulista. Ou seja, o Corinthians saiu perdendo, não fosse o fato de se livrar dos salários em meio ao turbilhão financeiro que o assola.
Em segundo lugar, se fizermos uma simples comparação com outras transferências milionárias envolvendo clubes brasileiros nos últimos anos, perceberemos a aquisição flamenguista num patamar alto porém intermediário:
Como dito no parágrafo anterior, trata-se de uma comparação superficial, com base no que foi noticiado pela imprensa à época de cada negócio. Luvas, por exemplo, só foram consideradas no tocante a Paolo Guerrero e Seedorf – tendo decerto acontecido nas demais, o que inflaria números. Também não se lançou mão de ajustes inflacionários, tampouco divisões do investimento entre clubes ou fundos de investimento. A maioria dos contratos não foi cumprida até o fim.
Entre jogadores jovens, apenas a transação de Paulo Henrique Ganso envolveu investimento médio – preço da transferência + salários/ meses de contrato – menor que o de Guerrero. A vinda do próprio peruano em 2012 (do Hamburgo para o Corinthians) seria outra exceção, não se tratasse da mesma pessoa – obviamente valorizada por gerar expressivos retornos a seu ex-empregador.
Finalmente, o Flamengo alegou que a vinda de Guerrero não se dava pelo fim da austeridade, mas como consequência da mesma. Se a mídia precisa tanto gerar um número final que comprove carestias (e o investimento final no atacante, em 2018, vai beirar os R$ 34 milhões) deveria considerar que o período avaliado abarca três diferentes orçamentos do Rubro Negro. Apenas o superávit de 2014 chegou a R$ 65 milhões.
Não restam dúvidas que Paolo Guerrero vem caro, podendo, sim, fracassar em termos de marketing e resultados em campo. É que infelizmente o dom da profecia não pode ser utilizado em negociações desta natureza. Se pudesse, muitos dos jogadores presentes na tabela acima – alguns em sua mais tenra idade – jamais teria sido contratados.
Um grande abraço e saudações!