Dia de decisão: a governabilidade e o processo eleitoral deflagrado no Flamengo

Fonte: O Globo

O personalismo venceu a unidade e a gestão colegiada. O diagnóstico é comum nos dois polos que racham a Chapa Azul, vitoriosa nas eleições de 2012 e provavelmente dividida no pleito de dezembro próximo. Cada lado aponta o dedo para o outro ao indicar a origem do individualismo. Com o processo eleitoral deflagrado, o Flamengo viverá nesta quarta-feira um dia decisivo. Uma reunião colocará frente a frente os integrantes da diretoria, incluindo dois candidatos em potencial a governar o clube no triênio 2016/17/18: o presidente Eduardo Bandeira de Mello e o vice de patrimônio Wallim Vasconcelos. No discurso, ainda se cogita a remota possibilidade de achar um nome de consenso. As apostas dos atores políticos do clube, no entanto, são de uma divisão, pelo menos, em dois tons de azul.

Estará em jogo, também, a governabilidade do clube até dezembro. Há a sensação de que se esgotou a viabilidade de o Flamengo ser tocado por um Conselho Diretor coabitado por apoiadores e futuros opositores de Bandeira. Oficializada a falta de unidade, Bandeira espera que seus adversários entreguem os cargos.

– Acho natural que, se alguém do Conselho Diretor decidir apoiar outra chapa, se desligue – disse Bandeira.

Wallim não confirma sua candidatura. Mas o tom do discurso permite antever que o ponto de partida da reunião não é tão próximo do entendimento.

– A gente que botou o Eduardo lá, não ele que botou a gente. É um grupo, não um personagem – argumenta Wallim.

Tais palavras ajudam a entender o cenário de uma crise política com raízes na formação da chapa que bateu Patrícia Amorim, em 2012. Wallim tem como maior aliado o ex-vice de marketing Luiz Eduardo Baptista, o Bap, cuja saída da diretoria, em fevereiro, é um marco na ruptura da Chapa Azul.

Formado por executivos de grandes empresas, entre eles Flavio Godinho, ex-braço-direito de Eike Batista, o grupo viu Bap e Wallim se tornarem as faces mais visíveis do projeto, ambos habituados ao comando. Impedimentos estatutários impugnaram a candidatura de Wallim. Bandeira de Mello, até então pouco conhecido de todo o grupo azul, foi um “achado”: de estilo comedido e mais afeito à conciliação, virou presidente. De imediato, um ponto vulnerável ficava exposto: o cargo mais alto não caberia ao líder do grupo.

A tese era de que prevaleceriam as decisões colegiadas. Delimitar espaços e acomodar expectativas de influência num elenco de personagens habituados ao poder foi sempre um desafio. O futebol, quase sempre, esteve no foco das disputas. Flavio Godinho rachou com Wallim e Bap: foi o primeiro a sair.

Resultados de campo e pressões políticas minaram Wallim, que caiu da vice-presidência de futebol para a de patrimônio. Trocou de lugar com Alexandre Wrobel, remanescente da gestão Patrícia Amorim, a quem a Chapa Azul fez oposição. Wrobel assumiu o futebol sob a condição de que a influência de Bap fosse reduzida.

A esta altura, a unidade acabara. Bap e Wallim sentiam ter menos influência. Passaram a argumentar que Bandeira concentrava decisões. O presidente, porém, cedera em diversos outros episódios, inclusive em trocas de treinadores. Entendia que os dois “dissidentes” não lidavam bem com posições opostas. Voto vencido em temas como preço de ingressos e na crise com a Ferj, em que defendia linha mais radical, Bap saiu. Curiosamente, 11 dias antes, fora à reunião que lançou Bandeira à reeleição. Segundo os presentes, votou a favor. Ao deixar a diretoria, foi duro com o atual presidente.

A realidade mudara. Aliados alertaram Bandeira de que fracassos no futebol e um eventual rebaixamento o deixariam marcado na história: afinal, “o presidente era ele”. Fatores externos também atuaram. Bandeira de Mello ganhou visibilidade ao assumir a dianteira na discussão da MP do Futebol. Defendeu contrapartidas duras na gestão dos clubes, como queria a opinião pública. Sentou-se ao lado da presidente Dilma Rousseff no dia da assinatura da MP. Enquanto isso, o Flamengo era elogiado pela reestruturação financeira. Bandeira tornara-se figura menos opaca do que quando era visto perfilado num time de executivos reconhecidos no mercado.

A expectativa é de que o atual presidente seja apoiado por nomes como os vices jurídico, Flávio Willeman, de administração, Cláudio Pracownik, do Fla-Gávea, Rafael Strauch, e por Wrobel. Já Wallim assegura estar ao lado de Bap que, por sua vez, defende que o ciclo de Bandeira de Mello se esgotou. Caso confirme a candidatura, Wallim deixará a diretoria. E levará outros dirigentes consigo.

Recentes episódios deixaram clara a necessidade de definir posições. Uma discussão sobre liberação de recursos para reforçar o futebol agitou os corredores. Quem defendia a contenção de gastos despertava dúvidas: a motivação era o respeito ao orçamento ou o temor de fortalecer Bandeira através de vitórias no futebol?

A divisão da Chapa Azul pode ser em até três grupos. Deputado estadual no Ceará, Gony Arruda tem conversado com lideranças políticas. Membro do grupo original, quase foi candidato em 2012. Recusou por ser, à época, secretário de esportes. Agora, usa argumento controverso para se dizer apto à disputa:

– Hoje, meu compromisso é com meus eleitores. Isso eu resolvo. As sessões legislativas são às quintas-feiras. Num caso extremo, eu falto. Tem colegas que não pisam na Assembleia e têm 70 mil votos.

Outros grupos podem lançar candidatos. Um deles é ligado a Patrícia Amorim, considerada peso importante na eleição, que apoiaria Cacau Cotta. Uma candidatura já lançada é a de Lysias Itapicuru, pelo grupo chamado Flamengo Nova Geração.

Quem são

Luiz Eduardo Baptista. Ex-vice -presidente de marketing do clube, foi um dos mentores da Chapa Azul. Considerado o dirigente mais influente da política atual do clube e principal defensor do programa sócio-torcedor, deixou o cargo em fevereiro.

Rodrigo Tostes. Vice de finanças, atualmente, é o principal articulador entre a diretoria e o departamento de futebol. Está à frente da política de austeridade fiscal.

Coluna do Flamengo

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  • Dificil saber o que fazer...os caras ao invés de se unir ficam rachando o grupo e levando o Fla a essa bagunça.
    Tem que parar com as briguinhas e levar o trabalho a sério, como se alto preservam e dizem que são altos executivos se não conseguem sequer trabalhar em grupo...incrível.

  • O bap e imperialista , não sabe fazer sem aparecer e um berdadeiro falastrão de primeira, o bamdeira de melo mao deixo ele e Willian com o.martelo nas mãos por esse motivo que se desligou

  • Sinceramente fico triste e temeroso em vê a Chapa Azul rachada, apesar de não termos andado muito bem das pernas no futebol no último ano hj se vive outra realidade no Flamengo onde se vem crescendo a passos largos para se tornar o maior do país, e tem tudo pra que isso aconteça, hj o flamengo é um clube de responsabilidade e, confiança, credibilidade e graças aos azuis, quem imaginária a anos atrás que o Flamengo seria modelo de gestão, hj os jogadores vem pro Flamengo sem medo pq sabem que está tudo em dia. Eu sou um fã dos Azuis e torço pra que haja união entre eles e pra que lancem uma única Chapa, com o EBM como presidente e o Wallin como vice ou até mesmo o contrário com isso com certeza o nosso Flamengo chegará ao lugar que lhe pertence. SRN

  • Claramente o poder subiu a cabeça do EBM, ele nem é fundador da chapa azul entrou de gaiato no navio agora não quer largar o osso. Lembro a vocês os grandes nomes dessa administração são o BAP, Rodrigo Tostes, Alexandre Póvoa, Wallim Vasconcellos, Flávio de Araújo Willeman, Cláudio Pracownik. O EBM nem sabia o que era chapa azul, só entrou por impedimento do Walim, depois que assumiu o poder subiu na cabeça e quer romper com os cabeças da chapa azul, se for cara de pau de concorrer deveria ao menos deixar a cor azul com os verdadeiros donos.

    • Qualquer um que ganhar as eleicoes vao continuar com o mesmo trabalho de austeridade ate finaliZar o pagamento divida termini do CT e construcao do estadio

  • Realmente a ruptura desta gestão é muito ruim para o melhor futuro do Flamengo o melhor seria estarem unidos. Mais.... Vida que segue. Estou no aguardo das próximas confirmações em principal ao EBM. Não vejo o Wallim como boa opção e muito menos o BAP. O primeiro, por ter tido a possibilidade de crescer com a gestão do futebol e fracassar e nas primeiras pressões abandonou o cargo e o segundo por tamanha arrogância e prepotência, e ainda no meu ponto de vista o articulador do racha. SRN

  • O perfil atual do Flamengo está em risco. Até o momento, o perigo não é o grupo de EBM ou de BAP vencer, mas sim dar lugar ao passado. Essa vitória poderá ocorrer em duas hipóteses: ou o passado ganhará a eleição com os votos da minoria, já que os eleitores do modelo atual se dividirão, ou o grupo de EBM ou de BAP, ou ambos até, para se fortalecerem, serão obrigados a fazer alianças perigosas. Alguns dirão que venceram as eleições com apoio de muita gente afastada do projeto. Entretanto, naquela época, os aliados não tiveram força na administração. Agora, com os carecas azuis divididos, não há como não aceitarem a partilha do poder com os que os apoiarão na eleição. Nós não temos sorte mesmo.

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