Paolo Guerrero, um craque sem caô, dentro e fora de campo

Fonte: O Globo

Nem adianta procurar no dicionário. Caô não é uma palavra formal. Nasceu e sobrevive nas ruas, como uma típica gíria carioca. Dependendo do contexto, pode indicar confusão, dificuldade, preocupação. Qualquer que seja o significado, para a torcida do Flamengo tudo isso terminou desde que Paolo Guerrero chegou, há 19 dias. Contratação mais badalada da atual administração do clube, o atacante peruano tem correspondido até às expectativas mais otimistas: fez gol, sempre com toques de primeira, nos três jogos que disputou até agora, todos vencidos pelo rubro-negro. Sequência que a torcida espera ver mantida hoje, às 16h, contra o Goiás, no Serra Dourada.

Com tatuagens espalhadas pelos braços, mãos, nuca e pescoço, corte de cabelo estiloso e namorada modelo — a também peruana Alondra Garcia Miró, de 23 anos —, Guerrero compõe à risca o estereótipo do boleiro popstar. Ao contrário do que a imagem indica, porém, o jogador de 31 anos e 1,85m, que deixou as divisões de base do Alianza Lima aos 18 para jogar no Bayern de Munique — depois defendeu o também alemão Hamburgo e aportou no Brasil para ser campeão mundial pelo Corinthians, em 2012 — nem parece a principal estrela do clube mais popular do país, que só nesta década já teve como referências em campo Adriano e Ronaldinho Gaúcho. A começar pelas primeiras características que todos no Flamengo identificaram no craque: timidez e comprometimento.

— Não o conhecia antes, e ele me parece uma pessoa tímida. O que me chamou bastante a atenção é como ele é concentrado em tudo o que faz, como se cobra, e isso é bastante interessante. O ídolo é referência o tempo inteiro, e uma referência assim, positiva, é importante em um lugar como o Flamengo, que tem muitos jovens. Com esse comportamento, ele acrescenta bastante a todos nós — destaca o técnico rubro-negro, Cristóvão Borges.

Diferença entre Rio e São Paulo

Comportamento que impressionou o chefe da rouparia do Flamengo, Cléber Reis, há 17 anos no clube.
— Guerrero é extremamente profissional, está em um nível acima da média. É um cara de poucas palavras, mas sempre pontual, chega cedo, cuida do seu próprio material. A gente nem precisa pedir, ele mesmo traz suas chuteiras depois dos treinos — observa Clebinho, como é chamado por todos no Ninho do Urubu, o centro de treinamentos rubro-negro.

Campeão mundial com Guerrero no Corinthians, o zagueiro Wallace, capitão do Flamengo, tem sido um dos jogadores mais próximos do peruano neste começo, reatando uma amizade dos tempos do Parque São Jorge.

— Guerrero era um dos caras com quem eu mais andava no Corinthians. Sempre foi calado, não é de falar muito, mas quem convive com ele sabe que é um cara muito simples — diz Wallace.

Na primeira entrevista coletiva após o início empolgante na equipe, Guerrero confirmou a impressão dos colegas:

— Fora de campo, sou uma pessoa tímida, demoro muito a me entrosar. Sou até um pouco inseguro, me custa entrar no grupo. Mas meus companheiros estão facilitando a adaptação.

Acostumar-se ao novo lar não deverá ser difícil para Guerrero, que mesmo ainda jogando no Corinthians já possuía um apartamento no Rio, na Praia da Barra, a cerca de 20 minutos do Ninho do Urubu. Em pouco tempo na cidade, já sentiu a diferença em relação a São Paulo: “O carioca é completamente diferente, para todo lado que eu vou me tratam com carinho. Em São Paulo, não me davam tanta bola”, comentou o jogador a um interlocutor com trânsito livre no CT rubro-negro.

Sem medo de paparazzo

Também já parece adaptado à vida de celebridade. Clicado por um paparazzo quando fazia compras com Alondra no Village Mall, shopping dos bacanas na Barra, continuou o passeio sem se incomodar. Deu autógrafos, tirou fotos com torcedores e trocou carinhos apaixonados com a namorada. Três dias depois, o casal voltou ao local para jantar e reencontrou o fotógrafo. Acostumado a reações furiosas dos famosos, de narizes torcidos a ameaças de agressão, o profissional se surpreendeu com Guerrero: com um simples aceno de cabeça, o jogador indicou que está preparado para lidar com o preço da fama.

José Paolo Guerrero Gonzalez nasceu no dia 1º de janeiro de 1984, em Lima. Com 25 gols marcados em 11 anos na seleção do Peru, está a apenas um de igualar o maior artilheiro da equipe nacional, o ídolo dos anos 70 Teófilo Cubillas. Guerrero foi o artilheiro das duas últimas edições da Copa América: Argentina-2011 (cinco gols) e Chile-2015 (quatro, ao lado do chileno Eduardo Vargas), esta já sob os olhares atentos da torcida do Flamengo.

Cinco dias depois de ajudar o Peru a conquistar o terceiro lugar no torneio, Guerrero estreou pelo rubro-negro, com um gol e passe para outro na vitória por 2 a 1 sobre o Inter. Para estar em campo, cumpriu uma verdadeira maratona: despediu-se da Copa América na sexta-feira, 3 de julho, teve dois dias de folga em Lima, chegou ao Rio na madrugada de terça, treinou de manhã e foi apresentado oficialmente em seguida, antes de embarcar para Porto Alegre, à tarde, para jogar na quarta.

Depois de marcar na estreia e de fechar o placar nos 2 a 0 sobre o Náutico, fora, pela Copa do Brasil, garantiu a festa de 51 mil torcedores em seu primeiro jogo pelo Flamengo no Maracanã: 1 a 0 no Grêmio, ao som do funk entoado na arquibancada, “Acabou o caô, o Guerrero chegou”. Fã de pagode e sertanejo, o peruano admitiu que nunca tinha ouvido esse tal de caô, mas achou “engraçada” a homenagem da torcida. Difícil é fazê-lo repetir a música. O sotaque atrapalha, e sai algo como “Acabou o cão”. Mais fácil, pelo jeito, é balançar as redes adversárias e deixar a torcida fazer sua parte.

O importante para os rubro-negros, que amargaram a zona de rebaixamento no início do Brasileiro e agora já sonham até com o G-4, é que o caô não volte mais. Foi para garantir isso que Guerrero chegou.

Goiás x Flamengo

Goiás: Renan, Gimenez, Fred, Felipe Macedo e Diogo Barbosa; Rodrigo, Patrick (Liniker), David e Felipe Menezes; Murilo e Bruno Henrique.

Flamengo: César, Ayrton, Marcelo, Samir (César Martins) e Jorge; Cáceres, Canteros e Arthur Maia (Márcio Araújo); Marcelo Cirino, Guerrero e Éverton.

Juiz: Heber Roberto Lopes (Fifa-SC).

Local: Serra Dourada.

Horário: 16h.

Transmissão: Rede Globo, Band e Premiere.

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